Médica Nise Yamaguchi, em depoimento à CPI da Covid (Jefferson Rudy/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 1 de junho de 2021 às 11h40.
Última atualização em 1 de junho de 2021 às 11h49.
Em depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira, 1º, a médica Nise Yamaguchi negou participação no suposto “gabinete paralelo” que assessoraria o presidente Jair Bolsonaro em assuntos relacionados à pandemia e disse que nunca conversou com ele sobre imunidade de rebanho.
Nise afirmou ter tido “poucos encontros” com o presidente, todos acompanhada de outras pessoas. "Eu nunca tive encontros privados com o presidente Bolsonaro, mas eu tive um almoço com diversos integrantes e eu conversei sobre a importância desse tratamento precoce inicial", contou.
"Eu já tinha a informação de que era importante tratar os pacientes precocemente como, finalmente, agora, houve a admissão de que é melhor que não se trate os pacientes com doenças moderadas e graves", disse Nise, que negou que os encontros se configurem como participação em assessoramento paralelo.
A médica, que chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde no ano passado, garantiu: "Desconheço a existência de um gabinete paralelo". Nise afirmou que, no entendimento dela, "o governo é um só", e as conversas que ocorreram foram técnicas.
“Eu nunca discuti imunidade de rebanho com ele [Bolsonaro]”, disse Nise, em resposta ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que a questionou sobre a tese defendida abertamente por ela em algumas ocasiões. “O que eu tenho são posições públicas, que são bastante detalhadas e que são muito bem estruturadas”, disse.
Antes de questioná-la, Renan apresentou um vídeo, de julho de 2020, em que a médica defende a tese. Ela diz, em entrevista à TV Brasil, acreditar que o Brasil possa chegar à imunidade de rebanho com o "modelo de distanciamento social, cuidados e tratamento". Com isso, concluiu, "a imunidade de rebanho vai acontecer sem muitos traumas".
Renan perguntou se ela mantém esse entendimento. "Imunidade de rebanho é um fato, acontece quando você tem uma grande quantidade de pessoas imunizadas ou que tenham tido contato com o vírus, ou imunidade natural já previamente adquirida pelo contato com outros vírus", respondeu Nise.
A fala foi contestada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), que também é médico. "Nós não podemos nos escudar por uma profissão milenar para desinformar a população sob nenhuma hipótese. A senhora disse uma frase aí que não é correta. Não existe imunidade para um vírus quando você é contaminado por outro vírus", apontou.
Nise evitou dizer se mantém a defesa da tese e lembrou que, no momento do vídeo, o país vivia uma "realidade diferente" da atual. "Imaginávamos que uma segunda onda, uma terceira onda, viria do mesmo vírus. Se viessem do mesmo vírus, teríamos, sim, imunidade. Para aquele momento, a discussão era pertinente", afirmou.