Brasília - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores e envolvidos no esquema de corrupção na estatal, disse nesta terça-feira que alertou a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff sobre atrasos em obras da estatal, mas que não chegou a tratar de irregularidades na companhia.
"Nunca falei com ela sobre esse tema", afirmou Costa em depoimento à CPI da Petrobras, esclarecendo não ter tratado de corrupção com Dilma.
Em depoimento anterior a uma outra comissão parlamentar no Congresso, no ano passado, Costa havia afirmado que fez "alerta" sobre "problema".
Mas nesta terça-feira ele explicou que enviou o email à Casa Civil porque estava preocupado com a “paralisação” da obra e buscava, enquanto diretor, evitar problemas de abastecimento.
Ele afirmou ainda que a aprovação de contratos compete à Diretoria Executiva da Petrobras, e não ao Conselho de Administração, que foi integrado por Dilma.
Segundo Costa, a diretoria da estatal aprovou projetos incompletos porque o país importava gasolina e diesel em quantidades excessivas.
"Eu, como diretor de Abastecimento, não estava preocupado com desvio de dinheiro, estava preocupado se houvesse a paralisação da obra, nós teríamos problemas sérios de abastecimento."
Uma das obras que mais sofreu atrasos e está no centro das investigações de corrupção envolvendo a estatal é a Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, também conhecida como Abreu e Lima.
A Rnest custou 4,2 bilhões de dólares a mais do que deveria, concluiu no final do ano passado a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que apurou denúncias de corrupção na estatal.
A Petrobras afirma um custo total da Rnest de 18,5 bilhões de dólares, um montante muito acima do orçamento inicial. Em abril, a Justiça Federal do Paraná condenou Costa, o doleiro Alberto Youssef e outras seis pessoas por crimes como lavagem de dinheiro e por pertencerem a organização criminosa.
A condenação teve como base a denúncia de desvios de dinheiro na construção da Rnest por meio de pagamento de contratos com sobrepreços a empresas que prestaram serviços direta ou indiretamente à Petrobras entre 2009 e 2014.
Costa, que fechou acordo de delação premiada e denunciou o esquema de sobrepreço e corrupção na Petrobras que alimentaria os cofres de partidos políticos, foi sentenciado a sete anos e seis meses de reclusão.
"MAUS POLÍTICOS"
O ex-diretor disse ainda nesta terça-feira, em depoimento à CPI, que "maus políticos" envolveram a companhia em casos de corrupção.
"Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos que levaram a Petrobras a fazer o que fez", afirmou Costa.
Segundo ele, políticos do PP, PMDB e do PT "são responsáveis por esquema de corrupção na Petrobras". Mas ele confirmou ainda que houve o pagamento de propina ao PSDB, ao então senador Sérgio Guerra, já falecido, que teve como objetivo esvaziar uma CPI para investigar a estatal em 2009.
O ex-diretor relatou também um "pedido" de doação à campanha de Eduardo Campos (PSB) --também já falecido-- ao governo de Pernambuco. Costa citou à CPI o envolvimento de Renan Calheiros (PMDB), Romero Jucá (PMDB), Lindberg Farias (PT) e Humberto Costa (PT) em “situações irregulares” referentes à petroleira.
Esses políticos e outros estão entre os investigados pelo Ministério Público Federal, com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Costa afirmou ainda ter ouvido de empresários que “vários” repasses de recursos a partidos políticos vinham de esquema de propina e que faziam as doações com intuito de depois “recuperar” o investimento.
Costa reafirmou que só se chega a ser diretor na Petrobras por indicação política, e que isso ocorria desde 1985.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)