São Paulo - Na Vila Diva, região do Limão, na zona norte da capital, o tempo que os moradores ficam sem água já é proporcionalmente igual ao esquema "5 por 2", ou o "rodízio drástico" sugerido no plano da Sabesp.
Lá, a água chega às torneiras durante cinco horas por dia. Nas outras 19 horas, nada.
Para comparar: pela proposta extrema, a população teria água em 28,5% de cada semana. Na Vila Diva, o abastecimento ocorre atualmente só em 20,8% do tempo do dia.
A diferença é que a água volta a tempo de abastecer as caixas dágua recém esvaziadas, reduzindo os transtornos.
Não são todos os moradores do bairro, porém, que têm caixas. "A gente chega cansado, sem água, com bebê para cuidar, e tem de sair de casa. Tem de ir na casa da sogra para dar banho na criança. Minha filha fica exposta à friagem da noite todos os dias. Não à toa, está gripada", contou na noite de quinta-feira, 7, a autônoma Fernanda Peixoto Alves Pita, de 37 anos, moradora de uma das ruas do bairro, com a filha no colo, enquanto fritava batatas para o jantar. Ao lado, na pia da cozinha, água mineral.
As garrafas compradas no mercado são usadas para lavar verduras e cozinhar arroz.
A nova rotina da moradora do bairro, que começou há cerca de dois meses, segundo vizinhos, inclui também usar qualquer vasilha vazia para guardar a água que chega. Isso na região da cidade em que a epidemia de dengue é mais intensa.
Fernanda não consegue esconder a revolta. "Sabe, eu nem peço para meu filho mais velho tomar banho rápido. Também tomo o meu com calma. Deixo minha neném respirar o vapor, por causa da gripe", contou.
Questionada se havia sido informada pelas autoridades, de alguma maneira, que seria tão prejudicada pelo corte no abastecimento, ela disse que só houve "falta de respeito".
A falta de informação cria ainda um sentimento de desconfiança, que dá espaço para teorias da conspiração. "Duvido que não tenha água (nas represas). Estão escondendo", afirmou a negociadora de cobranças Jaqueline Bianca, de 20 anos, sobrinha de Fernanda.
Caixas dágua
A redução da pressão tem sido uma estratégia da Sabesp para economizar. Mas a Vila Diva vivia uma situação menos desconfortável até janeiro, segundo conta outra moradora do bairro, a cuidadora de idosos Vera Lúcia de Castro Tessaro, de 68 anos.
"No ano passado, a água durava até o fim da tarde. Mas, então, aconteceu de ficar dois dias inteiros sem água. Depois ficou alternando. Agora, é essa coisa de a água acabar na hora do almoço. Nesta rua, toda a situação está assim", disse a cuidadora, apontando para a Rua Carolina Soares, ponto comercial do bairro.
Vera Lúcia mora na Vila Diva há 58 anos. Seu imóvel tem duas casas nos fundos, que aluga para complementar a renda. São três famílias sem água na maior parte do dia.
"Eu comprei duas caixas dágua. Uma para mim, e outra para as casas de baixo. Instalei neste ano. Antes, tinha uma caixa que não estava nem ligada", contou.
O investimento às pressas, contudo, deixou brechas em lugares importantes. "O encanamento do chuveiro é da água da rua. Então, de qualquer forma, tenho de me arrumar para ter água para o banho."
O jornal O Estado de S. Paulo procurou a assessoria da Sabesp, por volta das 22 horas, para falar sobre o problema relatado pelos moradores da Vila Diva. Até as 23h30, não havia sido enviada resposta oficial.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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1. Uma história de ataques e danos
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São Paulo - A relação das cidades com as
águas é um negócio curioso. Os homens sempre procuraram se fixar ao longo dos grandes rios para ter água e vias de transporte próximas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento urbano acarretou a deterioração desses recursos hídricos, comprometendo sua quantidade e qualidade. No maior estado do Brasil, não foi diferente. A história de São Paulo com seus rios é marcada por ataques e danos, que se repetem até hoje e nos ajudam a entender a crise hídrica que assombra a região de um jeito diferente
— mais integrado. Veja nas fotos 10 números que mostram o descaso do Estado paulista com este bem tão precioso.
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2. Passe livre para poluir
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Tão importante quanto ter água em quantidade é ter água de boa qualidade. São Paulo deixa de tratar quase 57% dos esgotos gerados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento Básico do Ministério das Cidades. Toda essa água suja ameaça as reservas limpas e encarece os custos de tratamento no futuro.
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3. Zero tratamento
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Entre os 645 municípios do Estado, pelo menos 60 não possuem tratamento algum de esgoto. Sem rede adequada, todo o esgoto gerado vai parar nos rios próximos. Em todos eles, a coleta de esgoto não passa de 40% dos domicílios.
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4. Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto
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Quase 25% da população do Estado de São Paulo ainda não conta com serviços de coleta de esgoto. Quem mora nessas situações, precisa recorrer a métodos de risco para a saúde, como o uso de fossa negra.
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5. Desperdício
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De cada 100 litros de água coletada e tratada, apenas 66 litros chegam são e salvos na casa dos paulistas. Os outros 34 litros ficam pelo caminho. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou medições incorretas no consumo de água são as principais causas das perdas. Um quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso.
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6. Despejo ilegal
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No entanto, nem toda a água que sai das indústrias em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer. A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera, segundo estudo feito pela Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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7. Descaso com as áreas verdes piora a crise
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Nos últimos 50 anos, a região da Cantareira teve quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, segundo um
levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica. Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura original nas bacias hidrográficas e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto de seis represas que compõem o Sistema Cantareira. Os impactos do
desmatamento em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios.
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8. "Joga no rio que o rio resolve"
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A política do laissez-faire com relação ao manejo do lixo resulta em situações como a que deixou atônita a população da região de Salto, em Sorocaba, em julho do ano passado. Por conta da estiagem severa, o Rio Tietê, que corta o centro da cidade, transformou-se num fio de água e expôs toneladas de lixo acumulado ao longo de décadas.
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9. Clandestinidade impera
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Na grande maioria dos casos é dos poços artesianos que os caminhões pipa retiram água. A cidade de São Paulo tem cerca de 2000 poços outorgados pelo DAEE, mas especialistas do setor estimam em mais de 8 mil o número de clandestinos, que incluem tantos poços operantes, como paralisados.
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10. Rodízio "vetado"
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O rodízio de água era a primeira opção apresentada pela Sabesp para contornar os níveis decadentes do sistema Cantareira. O plano foi formalmente entregue em janeiro de 2014 ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), mas foi descartado pelo governo Alckmin. Na ocasião, o rodízio proposto era de 48 horas com água e 24 horas sem para as localidades atendidas pelo Cantareira. Se tivesse sido implementada há um ano, a medida poderia ter resultado em uma economia de 120 bilhões de litros em 2014.
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11. Tietê na UTI
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O mais importante rio do estado de São Paulo também é o mais poluído do Brasil, segundo o levantamento “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, do IBGE.
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12. Água no ralo
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