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Corrupção revela manobras mafiosas da política brasileira

Alianças entre políticos e empresários desmoronam com as as delações premiadas e muitos dos envolvidos nos escândalos jogam a sujeira no ventilador

Protesto com máscara de Michel Temer: Presidente ficou em silêncio diante de manobras ilegais (Ueslei Marcelino/Reuters)

Protesto com máscara de Michel Temer: Presidente ficou em silêncio diante de manobras ilegais (Ueslei Marcelino/Reuters)

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EFE

Publicado em 11 de junho de 2017 às 10h59.

São Paulo - Gravações clandestinas, e-mails fictícios e malas cheias de dinheiro passaram a fazer parte da trama no caso Petrobras, um processo que não só revelou a profundidade da corrupção no Brasil, mas também trouxe à tona as manobras utilizadas por todos os envolvidos.

O avanço das investigações fechou o cerco sobre a corrupção e as alianças entre políticos e empresários desmoronaram na medida em que começaram as delações "premiadas" dos acusados diante das autoridades.

Caçados pela Justiça, muitos dos envolvidos no escândalo jogaram a sujeira no ventilador, revelando as supostas práticas corruptas realizadas por alguns de seus antigos colegas, recorrendo, inclusive, a práticas kafkianas para sustentar suas acusações.

O magnata da carne Joesley Batista, dono do Grupo JBS, esteve em março deste ano na residência do presidente Michel Temer com uma gravador escondido no bolso para registrar seu encontro - não oficial - com o governante.

Na gravação, Joesley relata diversas manobras ilegais que estava realizando em favor da JBS, tanto no Poder Judiciário como com alguns ministros, em que Temer fica em silêncio e até chega a consentir.

Nessa época, um dos aliados do presidente, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, foi filmado saindo às pressas do estacionamento de uma pizzaria em São Paulo carregando com uma mala repleta de dinheiro de propina.

A delação foi feita pela diretoria da JBS, que entregou para as autoridades uma série de provas que envolvem importantes políticos, com o objetivo de evitar um possível pedido de prisão por sua participação no esquema de corrupção.

Porém, os sócios da JBS não foram os únicos que colocaram em xeque a política no país. Os publicitários João e Mônica Moura, responsáveis pela campanha eleitoral da ex-presidente Dilma Rousseff, deixaram em apuros a antecessora de Michel Temer.

Mônica Moura, que está presa desde o ano passado, disse que ela e Dilma compartilhavam um e-mail secreto (2606iolanda@gmail.com) e se comunicavam através de mensagens salvas na pasta de "rascunhos" e que, posteriormente, era eliminadas para evitar seu vazamento.

Segundo a empresária, no e-mail citado, Dilma informava o casal Moura sobre o avanço das investigações do caso Petrobras, que aringiu políticos e importantes empresários.

O sinal para acessar o e-mail era dado por um assessor da ex-presidente, que, de acordo com Mônica Moura, enviava as mensagens fora de contexto, como por exemplo "gostei do vinho indicado" ou "veja aquele filme", para que a publicitária olhasse a pasta de rascunhos.

Um dos pilares do escândalo, a construtora Odebrecht, admitiu que tinha um departamento exclusivo para o pagamento de propinas entre políticos, e que os registrava em suas planilhas com apelidos: "Todo feio", "Amigo", "Italiano", entre outros.

O jargão mafioso ficou evidente ao longo dos três anos que duraram as investigações: os empresários da JBS se referiam as propinas como "alpiste", enquanto que João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, falava de "pixulecos" quando negociava os pagamentos.

Um dos receptores da propina foi Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e um dos responsáveis pelo andamento do processo de impeachment que levou à cassação de Dilma Rousseff. O dinheiro sujo foi rastreado graças a vida de luxo que sua esposa, a ex-jornalista Claudia Cruz, ostentava nas redes sociais.

Cunha, um evangélico declarado, registrou uma frota de oito carros de luxo em nome de "Jesus.com" e sua esposa gastou mais de US$ 850 mil em artigos como bolsas, sapatos e roupas de marcas exclusivas, em lojas de Paris, Roma e Miami.

Alguns dos correligionários de Cunha, como o ex-presidente José Sarney e o senador Romero Jucá, também caíram nas garras das gravações secretas, particularmente com o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, suspeito de participar da gigantesca rede de corrupção na Petrobras.

A gravação também se tornou uma carta na manga para o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, envolvido na trama de corrupção. Seu filho Bernardo entregou para as autoridades um áudio no qual o então senador Delcídio do Amaral oferece dinheiro ao ex-executivo da estatal em troca de sua ajuda para anular suas acusações.

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