Algum tipo de boicote das empresas à Fifa é algo completamente descartado (REUTERS/Stefano Rellandini)
Da Redação
Publicado em 28 de dezembro de 2014 às 08h24.
São Paulo - Os seguidos escândalos de corrupção e a falta de transparência na divulgação dos resultados das investigações começam a se refletir de maneira negativa nos cofres da Fifa. Nas últimas semanas a entidade perdeu dois de seus patrocinadores principais, a Emirates e a Sony. É certo que serão substituídos, mas a dúvida do mercado é se os novos parceiros vão pagar à Fifa valores ao menos iguais aos que estão de saída.
As duas empresas alegam oficialmente reposicionamento estratégico para não renovar os contratos. Mas nos bastidores comenta-se que na realidade elas não querem ter a imagem atrelada a parceiro envolvido com corrupção.
Há décadas que, vira e mexe, a Fifa se vê ligada a casos nebulosos. No entanto, nos últimos anos, mais precisamente a partir do início do processo que culminou com a escolha da Rússia e do Catar para sede das Copas de 2018 e 2022, denúncias sobre compra de votos e oferecimento de vantagens aos cartolas que comandam a entidade se tornaram quase uma rotina.
Uma das consequências desse quadro é a fuga de parceiros, o que pode vir a afetar as contas bancárias da entidade. Entre 2011 e 2014, as receitas da Fifa atingiram US$ 4 bilhões (R$ 10,6 bilhões) - os números deste ano não estão totalmente fechados. Cerca de 40% foram obtidos com patrocínios, publicidade e venda de ingressos. Os outros 60% são provenientes da venda dos direitos de transmissão de tevê.
A projeção para 2014, ano da Copa no Brasil, era de um faturamento de US$ 430 milhões (R$ 1,1 bilhão) com patrocínios. Estão inclusos nos cálculos o dinheiro que entra dos contratos com os seis parceiros principais - fazem ações de marketing em todas as competições e atividades da Fifa; com os oito que são patrocinadores apenas das Copas do Mundo; e, no caso do Mundial de 2014, com outros seis que se aliaram à entidade apenas para a competição, denominados apoiadores nacionais.
Mas o grosso desse dinheiro (cerca de US$ 350 milhões em 2014, o equivalente a R$ 934,5 milhões) vem dos seis patrocinadores principais - além dois que não permanecerão há a Adidas (contrato mais longo, até 2030), Coca-Cola, Visa e Hyundai.
A Emirates, por exemplo, contribuía com US$ 30 milhões (R$ 80,1 milhões) por ano, e a Sony despejava US$ 35 milhões (R$ 93,4 milhões). Ambas se associaram à Fifa em 2006.
A entidade já negocia com os substitutos, que por sinal são do mesmo ramo de atuação dos ex-parceiros. Os alvos são a Qatar Airways e a Samsung, e as conversas estão em estágio avançado. O risco é o valor dos contratos serem menores dos que estão se encerrando.
"Pode ocorrer redução das cotas, sim. Mas a Fifa não tem dificuldade para encontrar parceiros. Todo mundo sabe que (a entidade) tem uma imagem ruim, só que tem o maior produto da terra (o futebol e a Copa do Mundo)", analisa o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi.
Algum tipo de boicote das empresas à Fifa é algo completamente descartado. "A menos que todos os patrocinadores se reúnam para colocar pressão sobre a Fifa, o que acho pouco provável", considerou em entrevista à imprensa inglesa o diretor da agência de marketing esportivo britânica BrandRapport. "A Copa é uma propriedade tão valiosa para essas marcas que elas sabem que, se se retirarem, seus principais concorrentes ficarão felizes em entrar em cena."
PITO - O fato de os compromissos se encerrarem no final deste ano facilitou as coisas para a companhia de aviação e para a fabricante de eletrônicos. Há, no entanto, casos em que um rompimento seria complicado, porque os contratos ainda vão longe. Mesmo assim há parceiros que mostram sua insatisfação cobrando publicamente transparência por parte da Fifa.
Foi o que fez recentemente a Coca-Cola, um dos mais fiéis parceiros da entidade. A líder mundial do mercado de refrigerantes deu um pito público na entidade e cobrou resposta firme e convincente para as denúncias de propina envolvendo as escolhas de Rússia e Catar para receber as próximas Copas.
Depois que o responsável pela investigação, o advogado norte-americano Michael Garcia, disse que seu relatório foi "deturpado" pela Fifa - a entidade admitiu que o processo não foi limpo, mas alega que não foi comprovada a compra de votos -, a Coca decidiu reagir. Classificou como "decepcionante" a manipulação e pediu transparência.
"Qualquer coisa que prejudique a missão e os ideais da Copa é uma preocupação para nós. Nossa expectativa é de que isso será resolvido rapidamente e de forma transparente", disse um porta-voz da empresa ao jornal The Sunday Times. O contrato da empresa com a Fifa termina em 2022. A ligação vem desde 1974.