Rio de Janeiro - O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que o esquema de corrupção na Petrobras foi uma "caca" cometida por um pequeno grupo de pessoas dentro de um universo de milhares de trabalhadores da estatal.
Num ato em defesa da Petrobras promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Lula também defendeu o governo Dilma Rousseff e criticou a forma como a mídia vem tratando a crise na empresa.
"Que vergonha pode ter (um trabalhador) que numa família de 86 mil pessoas alguém faz uma caca? Se isso acontece na família de vocês, o que vocês fazem? A gente castiga. Não se pode jogar a Petrobras fora por conta de meia dúzia de pessoas, ou cinquenta", disse Lula, referindo-se a executivos da estatal detidos sob acusação de envolvimento na corrupção.
A empresa é alvo da operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga um esquema de corrupção bilionário de sobrepreço em obras da Petrobras e que envolve ex-funcionários da estatal, executivos de empreiteiras e políticos.
O ex-presidente lembrou os investimentos feitos pela empresa durante os governos petistas e a repercussão na economia brasileira. Lula disse que a estatal ainda é motivo de orgulho nacional e referência internacional em termos de tecnologia.
Lula insinuou que o esquema de corrupção na Petrobras começou na época em que os tucanos estavam no poder, quando os investimentos da empresa eram menores.
"Se tinha ladrão que roubava quando o investimento era de 3 bilhões por ano, imagina quando passa para 3 bilhões por mês", afirmou.
Lula aproveitou para mandar um recado à presidente Dilma Rousseff, que desde a campanha para a reeleição, no ano passado, tem sido alvo de críticas relacionadas ao escândalo na petroleira.
"Eu conheço bem a companheira Dilma e sei que ela vai deixar a (investigação da) corrupção para a Polícia Federal ou o Ministério da Justiça. Ela tem que levantar a cabeça e dizer 'vou cuidar do meu país'. Ela não pode nem deve dar trela", disse Lula.
"O que eles fazem hoje (oposição) é o que sempre fizeram a vida inteira. A ideia é criminalizar antes, tornar você bandido antes de ser julgado e condenado. Você é criminalizado pela imprensa", afirmou ele.
Lula condenou o que chamou de pré-julgamento de dirigentes da estatal.
"O que se vê hoje é a tal da teoria do domínio do fato. Que eu não tenho que saber se cometeu o crime. O que eu tenho que saber que como você era o chefe, foi você que cometeu. É o pressuposto que a mãe tem que saber que o filho é drogado ou que o aluno não foi bem na escola." Lula foi recebido com gritos e cânticos por cerca de 500 pessoas que lotaram o auditório da ABI, no centro do Rio de Janeiro. No lado de fora, um telão transmitiu a fala do ex-presidente. Antes da chegada do petista, contudo, houve briga, tumulto e confusão por conta da presença de pessoas contrárias ao ato, que gritaram palavras de apoio à oposição.
O ato em defesa da petroleira ocorreu no mesmo momento em que a agência de classificação de risco Moody's rebaixava os ratings da Petrobras, retirando da estatal o seu grau de investimento.
-
1. Tempos difíceis
zoom_out_map
1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
-
2. Operação Lava Jato
zoom_out_map
2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
-
3. Fornecedores na mira
zoom_out_map
3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
-
4. Balanço incompleto
zoom_out_map
4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
-
5. Mudança de comando
zoom_out_map
5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
-
6. Acidente fatal
zoom_out_map
6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
-
7. Revolta dos acionistas
zoom_out_map
7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
-
8. Dívidas em dólar
zoom_out_map
8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
-
9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
zoom_out_map
9/9 (Divulgação)