Presidente Dilma Rousseff (PT) conversa com assessor antes do debate da CNBB (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de setembro de 2014 às 09h06.
Aparecida - Os escândalos de corrupção na Petrobras voltaram a ser o epicentro de discussão no debate com oito dos 11 candidatos presidenciais promovido na noite desta terça-feira pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Diferente dos anteriores debates televisivos, o organizado hoje no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida careceu do enfrentamento direto entre os candidatos, submetidos desta vez pelas regras do fórum de discussão a sorteios para fazer perguntas e dar respostas.
Apesar desse formato, que evitou um tête-à-tête direto, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o candidato do PSDB, Aécio Neves, não deixaram escapar a oportunidade para trocar acusações.
"Ao longo da minha vida, eu tive sempre tolerância zero com a corrupção. No caso da Petrobras, quem investigou e descobriu todos os crimes de corrupção foi um órgão (Polícia Federal) vinculado ao Ministério da Justiça. Não é fácil descobrir um esquema desse tamanho e nunca resolvemos engavetá-lo", declarou Dilma.
O escândalo se refere às revelações do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que aceitou colaborar com a Justiça para reduzir sua pena e acusou políticos que supostamente se beneficiaram de irregularidades na maior empresa do país.
Marina Silva, favorita para disputar um segundo turno contra Dilma, no qual aparecem tecnicamente empatadas segundo as últimas enquetes, questionou a presidente e também Aécio por não apresentarem um programa de governo.
A candidata do PSB considerou que a "reforma agrária" é "fundamental para promover a igualdade social", insistiu na necessidade de melhorar o "saneamento básico", defendeu o investimento de um equivalente a 10% da arrecadação bruta para a saúde e 10% do PIB para a educação.
No entanto, evitou se aprofundar sobre sua defesa de uma "independência" do Banco Central, como consta em sua proposta de governo, um tema que foi abordado por vários dos outros candidatos, inclusive pela própria Dilma.
"Alguns candidatos defendem a independência do Banco Central, com presidente e diretores tendo um mandato fixo. Acho que o Banco Central tem que ter uma autonomia operacional, mas a independência como novo poder é um equívoco", comentou a presidente.
A chefe de Estado citou reiteradamente números favoráveis de sua gestão, como o fato de "sair do mapa da fome", segundo apontou hoje um relatório da ONU, e os 50 milhões de pessoas que tiveram mais acesso à saúde com o programa "Mais Médicos", que levou profissionais, muitos deles estrangeiros, a regiões remotas.
Dilma também se defendeu dos ataques do candidato do PV, Eduardo Jorge, ao ser criticada por manter uma matriz energética com hidrelétricas e fontes fósseis, como o carvão e a nuclear, mas reconheceu a necessidade de mais investimentos na eólica e solar.
Temas polêmicos como a descriminalização do uso da maconha, o aborto e o casamento gay, trazidos ao debate nas perguntas dos bispos, foram evitados pelos principais candidatos e mais abordados pelos aspirantes menores.
No que todos concordaram foi na reforma política proposta pela CNBB e cujo documento foi entregue no debate aos oito candidatos - com representação no Congresso - dos 11 que disputarão a presidência no dia 5 de outubro.
O debate também contou com a participação de Luciana Genro (PSOL), do pastor evangélico Everaldo Pereira (PSC), Levy Fidélix (PRTB) e José Maria Eymael (PSDC).