Sundfeld: “Sem paciência com os defeitos da política, os juízes se rebelam. Mas não melhoram a democracia” (Germano Luders/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 7 de outubro de 2018 às 21h16.
Última atualização em 7 de outubro de 2018 às 21h17.
São Paulo - O resultado da eleição de hoje pode enfraquecer os esforços do próximo governo para uma reforma da previdência.
É o que pensa Carlos Ari Sundfeld, professor da Fundação Getulio Vargas e um dos maiores especialistas em direito constitucional no país.
É um país que quer mudar completamente a política, que está derrubando pessoas que são vistas como tradicionais na política. Em substituição vem uma geração de pessoas ligadas às corporações públicas, como juízes, promotores, policiais militares e mesmo militares.
O grande desafio que essa mudança carrega é de promover reformas. As corporações públicas, que já estavam fortalecidas, saem da eleição mais fortalecidas ainda. Isso vai gerar uma trava no governo, que vai ter dificuldade em aprovar reformas que mexam nos interesses desses grupos, como a da previdência. Em última instância, essas corporações podem até impedir a reforma da previdência. Será um grande nó para o próximo presidente, que provavelmente será Bolsonaro.
Acho difícil governar sem ter o apoio do Congresso nacional. Se partidos como o Novo tivessem saído como força majoritária dessas eleições, o caminho para as reformas estaria mais pavimentado. Mas o resultado que se configura até agora não é esse. O Congresso que se configura aí não tem nada de liberal.
E como Bolsonaro terá que conquistar o apoio dessas corporações para fazer frente à forte oposição que terá dos partidos tradicionais, que saíram enfraquecidos desta eleição, não creio que ele poderá propor reformas que atinjam os interesses dessas corporações.
Ainda assim, vejo muita briga entre setores liberais da campanha de Bolsonaro com os setores ligados à Lava-Jato, muitos deles que também apóiam Bolsonaro. A Lava-Jato não vai querer ser engolfada no próximo governo.