Michel Temer: empresário Gonçalo Torrealba afirmou que o coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho arrecadava dinheiro para campanhas eleitorais do presidente (Cristiano Mariz/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de abril de 2018 às 14h19.
Em depoimento à Polícia Federal no início de abril, após a deflagração da Operação Skala, o empresário Gonçalo Torrealba, proprietário do Grupo Libra, afirmou que o coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho arrecadava dinheiro para campanhas eleitorais do presidente Michel Temer, de quem é amigo de longa data.
De acordo com o depoimento, que está sob sigilo, coronel Lima pediu dinheiro, em nome de Temer, a empresas do porto de Santos (SP). A informação é do jornal "O Globo" e foi confirmada pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com o jornal carioca, Torrealba disse aos investigadores que o coronel Lima solicitou repasses de recursos financeiros a uma campanha eleitoral de Temer ao cargo de deputado federal em uma visita à sede do grupo Libra há mais de 15 anos. Se verdadeira, a informação corrobora os depoimentos prestados pelos irmãos Batista, do grupo J&F, que, em colaboração premiada, afirmaram que o coronel era quem arrecadava dinheiro para Temer.
Em 18 de janeiro, ao responder a 50 perguntas elaboradas pela Polícia Federal no âmbito do inquérito que investiga se a empresa Rodrimar, que opera no Porto de Santos, foi beneficiada por decreto assinado por Temer em maio, o presidente afirmou que o coronel nunca havia atuado na arrecadação de recursos.
"O Sr. João Batista me auxiliou em campanhas eleitorais, mas nunca atuou como arrecadador de recursos", disse Temer. "Nunca realizei negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros para o Sr. João Batista Lima Filho", completou.
O presidente disse ainda nunca ter solicitado que Rodrigo Rocha Loures, João Batista Lima Filho ou José Yunes recebessem recursos em seu nome em retribuição pela edição de normas contidas no Decreto dos Portos.
No depoimento, Torrealba afirmou à autoridade policial que recusou fazer o repasse ao presidente. À PF, afirmou ter dito ao Coronel Lima que a empresa não realizava doações para candidaturas individuais, apenas para partidos.
Em relatório de dezembro de 2017, a PF havia mapeado doações da família Torrealba ao diretório nacional do MDB. Em 2006, foram doados R$ 75 mil. Na campanha de 2010, a família doou R$ 500 mil ao diretório nacional. Já em 2014, quando Temer presidia o partido, o repasse foi de R$ 2 milhões. Segundo "O Globo", o empresário disse à PF que as doações não buscaram contrapartida com o governo e que manteve apenas relações dentro da lei.
À PF, Torrealba afirmou, ainda, que em 2015 solicitou ajuda do Coronel Lima para marcar uma reunião com o então ministro da Secretaria dos Portos, Edinho Araújo, que confirmou ter se encontrado com o empresário para tratar da prorrogação dos contratos da empresa.
A reportagem buscou resposta do presidente Michel Temer sobre a declaração do empresário, mas não havia recebido resposta até a publicação desta matéria. O espaço se encontra aberto para manifestação do Planalto.