O carioca Marcelo Zilberberg, que mora em Pequim desde 2014, espera em Nova York para poder voltar para a China (arquivo pessoal/Divulgação)
Fabiane Stefano
Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 17h07.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2020 às 17h17.
São Paulo - O neurocientista Marcelo Zilberberg vive uma espécie de autoexílio. Desde o dia 24 de janeiro, o carioca que vive em Pequim deixou a cidade que mora há seis anos e não tem data para voltar.
Por causa da epidemia do coronavírus, agora oficialmente Covid-19, o neurocientista é um dos muitos expatriados que não querem ou não podem voltar para casa.
A doença que já matou cerca de 2.600 pessoas e infectou mais de 79.000 pessoas paralisou as principais cidades chinesas. O presidente Xi Jinping disse no domingo (23) que a epidemia é maior emergência de saúde pública do país desde 1949, ano da fundação do regime comunista.
Como muitos chineses e estrangeiros que moram no país, Zilberberg aproveitou o feriado do Ano Novo chinês para viajar e escolheu como destino a ilha da Tasmânia, na Austrália.
A viagem que duraria uma semana se estendeu por mais uma. Com o agravamento da epidemia do coronavírus, Zilberberg partiu para os Estados Unidos. Já passou alguns dias na Califórnia e agora espera em Nova York a hora de regressar.
Quem está no exterior evita voltar por duas razões. Os estrangeiros temem as regras de contenção da epidemia nas cidades chinesas, que estabeleceram pontos de checagem de temperatura em espaços públicos, como estações de metrô e shoppings centers.
Quem for detectado com sintomas de Covid-19 pode ser sumariamente encaminhado a um hospital e pode não voltar tão cedo para casa.
Outro motivo é o risco de voltar para a China e não conseguir sair tão cedo. Países têm adotado regras de quarentena em relação a viajantes que vêm do país.
Zilberberg trabalha para o grupo de educação TAL, o maior do país. Como muito de seus colegas chineses do laboratório de neurociências da empresa, ele tem trabalhado remotamente.
A companhia estendeu pela segunda vez o período que os funcionários devem ficar em home office. Agora, em tese, as atividades voltam ao normal no dia 9 de março.
Mas trabalhar à distância não é a mesma coisa. “Meu trabalho se baseia em experimentos que fazemos com voluntários. Sem esses testes, não dá para fazer muito coisa” diz Zilberberg.
O trabalho remoto também tem sido a saída para o economista brasileiro Rodrigo Zeidan, que mora em Xangai desde 2015. Ele também deixou a China em 24 janeiro para o feriado prolongado do Ano Novo chinês e já enfrenta um mês de exílio.
Professor do campus de Xangai da Universidade de Nova York, a NYU, ele aproveitou a semana do feriadão para dar palestras em Madri, na Espanha, e visitar o irmão que mora lá.
Zeidan está na Europa desde então e não conseguiria voltar para a China mesmo que quisesse. A Air France, companhia pela qual voou para Madri, só irá retomar os voos para o país em 28 de março.
A vida no exílio implica custos não previstos. “O que era para ser uma semana se transformou em um mês. E não sei quanto tempo ainda pode durar”, diz Zeidan, que acabou de mudar para um apartamento alugado para ele, a esposa e o enteado de 15 anos, que o acompanham.
Enquanto espera o sinal verde para voltar, Zeidan começou a dar aulas online para seus alunos através de uma plataforma online construída às pressas pela NYU para que os estudantes não perdessem o semestre. Todas as universidades chinesas estão com as aulas suspensas e recorrem para sistemas online para que as atividades não sejam interrompidas.
As aulas online também devem ser uma opção para o estudante brasileiro Diego Rocha, que faz MBA na Universidade Tsinghua, em Pequim. Vivendo há quatro anos na China, Rocha está prestes a concluir o curso em finanças e inovação e voltou para o Brasil no início de fevereiro.
Sem nenhum sintoma da doença, Rocha impôs voluntariamente para si uma quarentena de 14 dias na casa dos pais, em Salvador. “Preferi ficar em casa para ter certeza absoluta que não havia risco de ter a doença.”
Rocha pretende continuar na China após a conclusão do curso. “Não sei quando volto, mas quero trabalhar lá. Há enormes oportunidades para aproximar empresas chinesas e brasileiras”, diz Rocha.
Por ora, os exilados pelo coronavírus só esperam a hora de voltar para o país que eles escolheram viver.