Trabalhadores são fotografados em canteiro de obras da Arena Pantanal: mesmo com a ajuda a mais, o estádio passará do prazo de 31 de dezembro em pelo menos dois meses (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2013 às 13h17.
Rio de Janeiro - Uma empresa que está construindo um dos 12 estádios para a próxima Copa do Mundo no Brasil recrutou trabalhadores haitianos para recuperar meses de atraso no prazo programado.
A construtora Mendes Júnior trouxe mais de 100 operários do país caribenho para ajudar a terminar a Arena Pantanal em Cuiabá, segundo Maurício Guimarães, secretário extraordinário do Mato Grosso para a Copa do Mundo.
Mesmo com a ajuda a mais, o estádio, onde os assentos ainda precisam ser instalados e o trabalho no telhado continua inacabado, passará do prazo de 31 de dezembro em pelo menos dois meses, disse Guimarães.
O Haiti é o país mais pobre das Américas e em 2010 foi devastado por um terremoto que ceifou milhares de vidas e deixou mais de 1 milhão de pessoas sem teto. Cuiabá é uma das várias cidades do país que enfrentaram falta de mão de obra quando o crescimento de outros setores e o aumento do trabalho de infraestrutura levaram a uma escassez de trabalhadores braçais.
Os planos para o estádio de R$ 570,1 milhões (US$ 244 milhões) foram alterados como resultado da falta de trabalhadores, com os projetistas optando por peças pré-fabricadas.
James Berson, 21, foi avisado sobre o trabalho no Brasil por um amigo e está no comando do grupo haitiano, que é uma mistura de homens e mulheres. Ele disse que a maioria dos trabalhadores haitianos foi recrutada por meio de uma entidade católica em Cuiabá.
“É muito fácil para eles encontrar trabalho por aqui”, disse Berson, em entrevista no estádio. “A empresa de engenharia os chamou e disse apenas que viessem para trabalhar”.
A Mendes Júnior oferece alojamento para a maioria dos trabalhadores, que dormem em quartos para oito pessoas. Os haitianos também estão ajudando a construir estádios em Curitiba e em Manaus.
Golpe de estado violento
O estádio receberá jogos de Bósnia, Nigéria, Japão, Coreia do Sul, Rússia e Colômbia, além da partida entre Chile e Austrália, o jogo de abertura deste campo, em 13 de junho.
O salário médio é de US$ 400 ao mês, segundo Berson, que se mudou para a República Dominicana com sua família após um violento golpe de Estado no Haiti, em 2004. O salário mínimo no Brasil é de R$ 689 ao mês.
O Brasil forneceu vistos humanitários a milhares de haitianos que cruzaram a fronteira, segundo o governo. Em alguns lugares, a entrada de haitianos está superando a infraestrutura local.
Recém-chegados
No começo deste mês, o Acre declarou estado de emergência após um aumento no número de imigrantes ilegais, a maioria haitianos, vindos da Bolívia. Um abrigo construído para 200 pessoas hospeda 1.000, segundo autoridades locais. Os haitianos, como outros trabalhadores que imigram para o Brasil, podem pedir residência permanente só depois de quatro anos no país.
Berson viajou para o Brasil de avião. Muitos de seus companheiros enfrentaram jornadas mais árduas por terra, disse ele, explicando que o custo médio para mudar do Haiti para o Brasil é de US$ 3 mil. A rota usual compreende passagens por República Dominicana, Panamá, Peru e Colômbia antes do desembarque em Tabatinga, no Amazonas, segundo a Fifa, o órgão mundial que controla o futebol.
A previsão é que a Arena Pantanal, que ainda é um canteiro de obras, estará pronta em fevereiro, disse João Paulo Curvo Borges, engenheiro responsável pelo estádio.
“Nós nos concentraremos nas coisas grandes primeiro”, disse Curvo Borges a repórteres. “Terminaremos o telhado no final de dezembro e depois focaremos no campo, colocaremos os assentos em janeiro e então completaremos os acessórios internos, como cabeamento e ar-condicionado”.