Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: começou o processo de ajuste (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 06h52.
Brasília - O Banco Central elevou ontem a taxa básica de juros pela primeira vez desde julho e sinalizou que também vai contar com medidas de contenção do crédito para combater a inflação, que está no nível mais alto em dois anos.
O Comitê de Política Monetária, em sua primeira reunião sob o comando do novo presidente do BC, Alexandre Tombini, decidiu por unanimidade aumentar a Selic em meio ponto percentual para 11,25 por cento ao ano. A decisão ficou dentro da previsão de 49 dos 51 economistas consultados pela Bloomberg.
O BC, num comunicado de uma frase que anunciou a decisão, disse que está começando um “processo de ajuste” nos juros que, somado a “ações macroprudenciais” vão ajudar a levar a inflação anual para a meta de 4,5 por cento.
“O Banco Central enfrenta limitações com uso apenas da taxa de juros”, disse Marcelo Salomon, economista-chefe para Brasil no Barclays Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “Ele não pretende usar apenas o aumento dos juros contra a inflação dadas as incertezas mundiais e necessidade do governo de conter a alta do real”.
As expectativas de inflação vêm subindo desde que o BC publicou seu Relatório Trimestral de Inflação, em 22 de dezembro, levando operadores a apostarem que Tombini vai elevar a Selic para até 13,25 por cento este ano. O comunicado do Copom reforça a visão do Barclays de que o BC está preocupado com a valorização cambial, que levou o dólar à menor cotação em 28 meses no dia 3 de janeiro, e não pretende aumentar a Selic acima de 12,25 por cento este ano, disse Salomon.
O economista acredita que Tombini pode tomar outras medidas de crédito, como novos aumentos no compulsório bancário e nos requerimentos de capital, numa tentativa de frear a alta de preços.
‘Dovish’
Operadores devem reduzir as apostas em aumentos de juros, disse Virgílio Castro Cunha, chefe de economia e estratégia de renda fixa no Bank of America Corp. em São Paulo.
“O comunicado deve ser interpretado como ‘dovish´ pelo mercado, já que o comitê parece ter definido o ciclo dos juros dentro de um esquema mais amplo para baixar a inflação”, escreveu Cunha em uma entrevista por e-mail.
No jargão de mercado, “dovish” é o termo usado para uma autoridade monetária “branda” em suas políticas.
O BC elevou em dezembro o compulsório bancário e o requerimento de capital para reduzir a expansão do crédito ao consumidor, retirando pelo menos R$ 61 bilhões de circulação. A autoridade estima que a medida foi equivalente a uma elevação entre 0,5 ponto percentual e 1 ponto percentual na Selic, segundo uma pessoa familiarizada com o processo de tomada de decisão do Copom.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo apontou inflação de 5,91 por cento em 2010, a maior taxa anual desde 2004, quando ficou em 7,6 por cento.
‘Muito tímida”
A inflação vai convergir “em torno da meta” de 4,5 por cento nos próximos dois anos caso o juro básico suba 150 pontos- base, ou 1,5 ponto percentual, para 12,25 por cento este ano e caso o real fique estável, disse Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC, em 22 de dezembro em Brasília, depois que o relatório de inflação foi publicado.
“Continuamos a acreditar que a previsão de consenso, elevando a Selic para 12,25 por cento, parece muito tímida para enfrentar a pressão inflacionária atual e a expectativa de inflação”, disse Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Banco Santander em São Paulo, em um relatório distribuído por e- mail.
O BC terá que elevar o juro para 13 por cento até meados do ano para atingir a meta de inflação, escreveu Schwartsman.
O Barclays prevê que a inflação vai se acelerar para 6,3 por cento este ano, com o BC limitando a alta de juros a 150 pontos-base.