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Consumidores driblam inflação com mudança de hábitos

Receita de orçamento controlado é a saída encontrada por famílias e indivíduos de olho na alta de preços

Apesar da desaceleração em fevereiro, os alimentos foram um dos principais vilões da inflação em 2011

Apesar da desaceleração em fevereiro, os alimentos foram um dos principais vilões da inflação em 2011

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2011 às 11h35.

Brasília - Para driblar a alta nos preços dos alimentos, os consumidores recorrem à pesquisa de preços e à mudança de hábitos. Trocar de produtos, substituir marcas caras por mais baratas e até trocar de supermercado. Vale tudo para fugir da inflação.

Moradores de Formosa, cidade goiana no entorno do Distrito Federal, os professores Christian Paiva, 38 anos, e Karla Paiva, 32 anos, costumam fazer compras em Brasília para fugir dos preços altos. Com a disparada nos preços de determinados alimentos, nos últimos meses, o casal diversificou os lugares onde fazem compras para economizar. “São diferenças de R$ 1 ou até centavos que dão boa economia”, diz Karla.

A receita é seguida pela vendedora autônoma Gilvânia Azevedo, 45 anos. Em dias de promoção, ela vai a vários mercados. “Comprar tudo no mesmo local custa mais”, justifica. Além disso, ela paga tudo em dinheiro para fugir dos juros do cartão de crédito.

Segundo Christian e Karla, os maiores aumentos foram na carne, no leite e no arroz. O aposentado Jovir Nascimento, 77 anos, acrescenta os legumes, o café e o pão como vilões da inflação. Para ser menos afetado pelas altas de preços, ele recorre às promoções e decidiu mudar de marca e até de produto. “Passei a comprar marcas mais baratas e até troquei a carne pelo peixe, que está mais em conta”, diz.

De acordo com a professora aposentada Ana Celestin, 74 anos, a inflação dos alimentos não é um processo recente. Ela estima que a comida tenha ficado pelo menos 30% mais cara nos últimos cinco anos. Para economizar, ela prefere almoçar fora. “O quilo da carne custa R$ 12. Com metade disso, almoço no restaurante, sai mais barato”.

Em fevereiro, a inflação oficial pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 6,36% no acumulado de 12 meses, quase 2 pontos percentuais acima do centro da meta de 4,5% para 2011. A pressão sobre os preços é tão grande, que o Banco Central, no Relatório de Inflação, divulgado na quarta-feira (30), aumentou a estimativa do IPCA para 5,6% neste ano, ainda dentro do intervalo de variação da meta, que é de 2,5% a 6,5%, porém mais próximo do teto.

Apesar da desaceleração em fevereiro, os alimentos foram um dos principais vilões da inflação em 2011. Em janeiro, os alimentos e as bebidas representaram 0,27 ponto percentual da inflação de 0,83% pelo IPCA, só ficando atrás dos transportes, influenciado pelo aumento nas passagens de ônibus de algumas capitais.

Segundo o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves, os preços dos alimentos estão sendo influenciados pelo mercado internacional. A alta nos preços das commodities (bens primários com cotação no exterior, como café, milho e açúcar), aliada às chuvas de início de ano, provocou um choque de oferta. “Sem dúvida, a demanda internacional está pressionando o preço das commodities”, explica.

O professor, no entanto, ressalta que os fatores externos não são os únicos culpados. Problemas estruturais no mercado brasileiro, como o combate ineficiente a abusos econômicos, agravam a inflação. “Qualquer pequeno crescimento do lado da demanda esbarra em problemas da oferta”, diz.

O economista chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, afirma que o crescimento econômico e medidas de indexação da economia (como a definição de uma política fixa para o salário mínimo) impulsionam a inflação. “Um choque de alimentos é mais forte no Brasil porque eles têm peso maior na cesta de consumo. Um choque de oferta é mais inflacionário porque estamos com economia aquecida. A inflação é mais persistente porque nossa economia acompanha inércia inflacionária e a economia tem inércia elevada porque estamos indexando cada vez mais”, avalia.

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