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Construção usa tecnologia para driblar falta de braços

Construtoras diminuíram investimentos durante a crise e preveem um acúmulo de lançamentos nos próximos anos

As construtoras esperam que os lançamentos em 2011 cheguem a 22 R$ bilhões (Claudio Rossi/VOCÊ S/A)

As construtoras esperam que os lançamentos em 2011 cheguem a 22 R$ bilhões (Claudio Rossi/VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2010 às 11h44.

São Paulo - A escassez de mão de obra qualificada, um dos principais gargalos para que o mercado imobiliário atenda a demanda aquecida, levou construtoras a buscar formas de acelerar o ciclo produtivo e otimizar custos, na tentativa de reduzir riscos de ameaça à continuidade do crescimento do setor.

"O grande gargalo é 2011, resultado da crise de 2008, quando houve freada absoluta do crédito e muitas obras foram interrompidas", afirma o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Maurício Bianchi.

Segundo ele, como as construtoras se prepararam para um cenário de crise muito mais forte do que acabou ocorrendo, a pisada no freio pelo setor gerou um acúmulo elevado de projetos simultâneos. Bianchi prevê ainda "um caos no âmbito da infraestrutura até 2014".

O cenário de demanda reprimida vem resultando em um alto volume de entregas a ser cumprido pelas empresas, algo que deve se intensificar no ano que vem, segundo Bianchi. "Vamos ter cinco anos de gestão de demanda reprimida e mais cinco anos de colocação de volume produzido no mercado", acrescenta.

Se consideradas somente as metas das duas maiores construtoras e incorporadoras do país, PDG Realty e Cyrela, o teto dos lançamentos pode alcançar 22 bilhões de reais em 2011. Este ano, até setembro, ambas lançaram quase 10 bilhões de reais e venderam, em média, 8,4 bilhões de reais.

A corrida por lançamentos, segundo Bianchi, pode ter sido ocasionada também por uma necessidade de mostrar ao mercado quem pode mais.

"As empresas viram que precisavam aumentar produção. Se ficassem paradas, seriam passadas por concorrentes", diz ele, mencionando sinalizações dadas pelo governo como redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para materiais de construção, alta disponibilidade de crédito imobiliário e a segunda fase do programa "Minha Casa, Minha Vida".


Apoio em tecnologias 

De olho no cumprimento das metas traçadas para este e o próximo ano, e tendo as entregas como foco, as construtoras buscaram suporte em novas tecnologias.

Para Bianchi, do SindusCon-SP, apenas a combinação de capacitação de pessoal com utilização de tecnologia pode sustentar o mercado. "Investimento em tecnologia é a única alternativa de curto prazo. Mão de obra é em longo prazo."

Em sua maioria, as companhias integraram a alvenaria estrutural, que utiliza blocos de concreto, ao processo construtivo.

O sistema, comparado pelos próprios executivos ao brinquedo Lego --por ser totalmente encaixado-- atualmente é aplicado apenas em empreendimentos econômicos.

Ao adotar este processo, a Tenda, braço para consumidores de baixa renda da Gafisa, obteve reduções de 30 por cento em prazo, de 20 a 25 por cento em pessoal e de até 5 em custos, "dependendo da localidade", afirma o diretor de Planejamento, Marcelo Souza.

A Cyrela, por sua vez, reduziu custos em cerca de 8 por cento e a necessidade de pessoal em mais de 30 por cento por meio do mesmo sistema.

"O prazo, que era 20 meses, hoje é de 15 meses. Estamos tentando reduzir para menos de um ano", diz o diretor de Engenharia da Living, unidade da Cyrela focada em baixa renda, Giorgio Vanossi.

Já o diretor de Construção da Brookfield Incorporações, Marcelo Borba, garante que a incorporadora consegue ter "uma casa pronta em cerca de 30 dias (...) Reduzimos em cerca de 50 por cento o tempo (de construção)".

Segundo ele, os sistemas de alvenaria estrutural, painel pré-moldado de paredes, entre outros, demanda aporte de entre 300 mil e 400 mil reais em cada canteiro de obras.

O investimento em tecnologia pelas construtoras também tem incentivado negócios. O presidente da PDG, líder no setor imobiliário brasileiro, Zeca Grabowsky, afirmou esta semana, durante o Reuters Brazil Investment Summit, que a empresa tem recebido contatos de empresas de Angola e Venezuela para fornecimento da tecnologia usada na construção de casas pré-fabricadas da Jet Casa, companhia em que a PDG tem 50 por cento de participação.


Entregas atrasadas

Os problemas pertinentes a atrasos de entregas de unidades vendidas não afetam uma ou outra empresa do setor em particular. Hoje, entre as companhias de maior porte, nenhuma está imune a fatores burocráticos, dificuldades de aprovação de projetos, altos custos construtivos e, principalmente, falta de pessoal.

"O alto volume (de projetos) criou entrave nos órgãos públicos para aprovação, a falta de mão de obra criou improdutividade e a falta de material também ocasionou atraso de obras", diz Vanossi, da Living.

Um dos principais entraves, segundo os executivos ouvidos pela Reuters, é burocrático. A licença governamental para se iniciar uma obra que, antes, era liberada em dias, hoje chega a levar meses.

A restrição à circulação de caminhões em avenidas e marginais na cidade de São Paulo durante o dia é outro fator apontado como responsável por prorrogar obras e aumentar o custo construtivo, levando as companhias a disponibilizar pessoal à noite.

"A restrição a caminhões é outro gargalo para lidar. É uma exceção relevante porque a participação de São Paulo no negócio é muito grande", afirma Borba, da Brookfield. Ele acrescenta que "logística de planejamento e abastecimento são cada vez mais importantes".

Embora garanta que o setor não esteja sofrendo com falta de insumos, Borba diz que alta demanda aliada à não existência de estoques tem dificultado o fornecimento, levando as empresas a realizarem encomendas de materiais em volumes elevados.

"Não diria que estamos confortáveis com entregas, temos sofrido mais agora do que quando mercado não estava tão aquecido", afirma.

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