Anthony Fauci durante audiência no Senado dos EUA (Al Drago/Pool/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 6 de abril de 2021 às 20h28.
Conselheiro-chefe do presidente americano Joe Biden sobre a pandemia, o epidemiologista Anthony Fauci afirmou que o Brasil deve "considerar seriamente" fazer um lockdown nacional para conter a covid-19. Em 2020, Fauci ficou mundialmente conhecido por contrariar publicamente as declarações negacionistas do então presidente Donald Trump.
"Todos reconhecem que há uma situação muito grave no Brasil. Não há dúvida de que medidas severas de saúde pública, incluindo lockdowns, têm se mostrado muito bem-sucedidas em diminuir a expansão dos casos", disse Fauci em entrevista à BBC News Brasil. "Então, essa é uma das coisas que o Brasil deveria pensar e considerar seriamente dado o período tão difícil que está passando."
Com cerca de 10% da população vacinada com a primeira dose em quatro meses e um auxílio emergencial muito menor que o ideal, que força as pessoas a saírem de casa em busca de sustento, o Brasil se tornou o grande epicentro da pandemia. A média móvel de novas mortes nos últimos 7 dias gira em torno de mil óbitos, e está acima dessa marca desde janeiro. Uma em cada três vítimas da covid-19 no mundo é brasileira.
Mesmo assim, o epidemiologista refuta o termo "ameaça global", que vem sendo cada vez mais usado para se referir à pandemia no Brasil. Entretanto, Fauci ressalta que o país e seus vizinhos latinoamericanos devem "tentar vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível", impedindo assim que variantes do vírus continuem a surgir e se espalhar pelo planeta.
Como o Brasil demorou a assinar contratos com as farmacêuticas, o país agora sofre com o baixo número de doses disponíveis. Estimativas consideradas realistas por cientistas brasileiros dão conta de que os grupos prioritários não estarão completamente imunizados antes de setembro. Qualquer previsão mais otimista, explicam os cientistas, depende que sejam vacinados pelo menos 1 milhão de indivíduos por dia, continuamente.
Ainda que os Estados Unidos estejam numa posição confortável em relação às vacinas, com estoques para imunizar um número muito maior de pessoas que a sua população, Fauci afirmou que o país não deve repassar parte do seu excedente ao Brasil através de um acordo bilateral. Caso se tornem realidade, as doações ocorreram através do consórcio Covax, do qual o governo brasileiro participou apenas com a cota mínima, de 42 milhões de doses.
"Assim que levarmos as vacinas para a esmagadora maioria das pessoas nos EUA, além de termos o suficiente para reforços, colocaremos o excesso de vacina à disposição dos países em todo o mundo que precisarem", disse Fauci, que evitou criticar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, mas afirmou que é preciso, antes de tudo, admitir a gravidade do problema.