Idosos: população é principal grupo de risco do novo coronavírus (Ueslei Marcelino/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 8 de abril de 2020 às 12h22.
Última atualização em 8 de abril de 2020 às 12h24.
A consultoria Macroplan elaborou um estudo, obtido com exclusividade pela EXAME, sobre as cem maiores cidades brasileiras com o maior número de idosos e de mortes por doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, entre a população de 30 a 69 anos, dois dos fatores mais importantes para o índice de letalidade do novo coronavírus.
“O estudo pode ajudar o poder público a tomar medidas mais assertivas de controle nas regiões onde há os maiores riscos para a doença, que mata mais os idosos e pessoas com comorbidades”, diz Glaucio Neves, sócio da Macroplan.
A cidade com mais idosos é Santos, com 21,5% de pessoas com mais de 60 anos, seguida por Niterói, Pelotas e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em quinto lugar, aparece o Rio de Janeiro. Em relação à mortalidade provocada por doenças crônicas, o Estado do Rio de Janeiro domina as estatísticas, com Petrópolis em primeiro lugar e Nova Iguaçu, na baixada fluminense, em terceiro.
Na segunda posição, está São Vicente, em São Paulo. Pelotas, com 408,6 portadores de doenças crônicas mortos para cada 100 000 habitantes, aparece em quinto lugar. “Precisamos prestar atenção ao Rio Grande do Sul, onde há muita gente idosa e falecimentos por doenças como hipertensão e diabetes entre a população jovem”, diz Neves.
A baixada fluminense, com Nova Iguaçu na liderança do ranking de idosos e de doenças crônicas, também traz fortes preocupações. Há décadas, a cidade está mergulhada em problemas que afetam a saúde pública. Nova Iguaçu trata menos de 6% do seu esgoto, segundo uma pesquisa do Instituto Trata Brasil. A cobertura de atenção básica de saúde é de apenas 52%. Nos últimos dias, a cidade começou a registrar as primeiras mortes por coronavírus.
O Rio de Janeiro também figura na lista das cidades com mais mortes entre pessoas que apresentam comorbidades. A capital fluminense aparece em 13º lugar. São Paulo está na 48º posição. “O Rio, com 16,7% de pessoas com mais de 60 anos e 2,8% com mais de 80, deve ser foco de atenção das autoridades”, afirma Neves. O Estado do Rio de Janeiro já tem mais de 4 640 casos confirmados de coronavírus – 75% estão na capital. Entre os mortos, estão uma mulher de 28 anos e um rapaz de 40 anos.
Na outra ponta do ranking de mortes precoces por doenças crônicas, estão cidades como Piracicaba, no interior de São Paulo, e Maringá, no Paraná. Não por acaso, são municípios com boa gestão e qualidade de vida. Piracicaba foi a grande estrela do Índice de Desafios da Gestão Municipal, da Macroplan, que avalia cem cidades, divulgado no início deste ano. A metodologia leva em conta 15 indicadores de saúde, saneamento básico, segurança e educação.
Com uma situação fiscal confortável, graças a uma gestão eficiente, Piracicaba consegue atrair bons profissionais e oferece uma boa cobertura de saúde. São mais de 1 000 médicos para cada 400 000 habitantes, bem mais do que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde o ano passado, a cidade vem investindo na digitalização dos serviços de saúde. Piracicaba desenvolveu no início do ano um prontuário eletrônico para a rede pública de saúde, facilitando o acesso a exames e outros procedimentos. Por enquanto, há 19 casos confirmados de coronavírus na cidade e nenhum morto.
Betim, em Minas Gerais, em que a cobertura de atenção básica de saúde é de quase 100%, também tem poucas mortes precoces por doenças crônicas. São menos de 245,6 casos para cada 100 000 habitantes, quase um recorde. “Trata-se de um grande mapa que pode ser desdobrado para a forma como o Brasil trata da questão de saúde pública e o papel de cada munícipio nesse cenário”, afirma.
“Muitos fatores estão interligados a condições básicas de vida, em que o saneamento básico e o acesso a bons serviços exercem uma função essencial”.