Brasil

Condenação do morador de rua preso em protesto é questionada

O Instituto de Defensores de Direitos Humanos vai entrar com recurso para questionar a primeira condenação da onda de manifestações


	Protesto no Rio: a defesa alega que "é simplesmente impossível fazer um coquetel molotov com uma garrafa de plástico", objeto pelo qual o morador de rua foi detido
 (Agência Brasil)

Protesto no Rio: a defesa alega que "é simplesmente impossível fazer um coquetel molotov com uma garrafa de plástico", objeto pelo qual o morador de rua foi detido (Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 21h16.

Rio de Janeiro – O Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH) assumiu hoje (6) a defesa do morador de rua Rafael Braga Vieira, preso em flagrante no dia 20 de junho com “dois frascos contendo substância inflamável”, após a manifestação na Avenida Presidente Vargas.

De acordo com o advogado do IDDH Lucas Sada, que esteve nesta sexta-feira na Casa de Custódia Milton Dias Moreira, em Japeri, onde Rafael está preso.

Na semana que vem o instituto vai entrar na Justiça com recurso de apelação para questionar a condenação do morador de rua a cinco anos e dez meses de prisão, buscando a absolvição, já que, segundo Sada, há várias falhas na sentença do juiz Guilherme Schilling Pollo Duarte.

“O ponto principal que o magistrado não atentou foi que é simplesmente impossível fazer um coquetel molotov com uma garrafa de plástico. Para o coquetel molotov funcionar, a garrafa precisa quebrar para a fagulha ser espalhada e o fogo poder pegar. Sem uma garrafa de vidro é impossível fazer um coquetel molotov. Então, é uma construção juridicamente impossível”, disse.

Rafael está preso desde o dia 20 de junho e era assistido pela Defensoria Pública. De acordo com o advogado do IDDH, ele vivia no prédio de uma loja abandonada há um mês, depois de cumprir pena por roubo.

“Outro ponto que a gente vai esclarecer: o juiz diz na sentença que ele estaria evadido do sistema [penitenciário], o que não é verdade. Ele tem duas condenações por roubo e já tinha cumprido a pena”.

O morador de rua tem 25 anos e estudou até a quinta série, é de uma família de seis irmãos que mora no bairro da Penha e trabalhava em um brechó de comércio popular na Praça XV, informou Sada. “É uma pessoa extremamente vulnerável, socialmente falando, e, como a gente sabe, o estado penal sempre age de forma mais violenta e mais dura com essas pessoas”, ressaltou.

A advogada da Justiça Global, Natália Damazio, destaca que o laudo da perícia feita nas garrafas já trazia elementos falhos. “Basicamente existe uma tentativa de configurar um molotov, mas que não é. Ele [o perito] diz que os engenhos foram confeccionados com a intenção de funcionar como coquetel molotov, o que é bem bizarro para uma perícia, porque, na realidade, ele tinha que avaliar se aquilo era ou não era um molotov, não cabe a ele avaliar a vontade do Rafael de ser ou não [um artefato explosivo] e, no caso, não era”.

Segundo Natália, a Justiça Global está acompanhando o caso e vai denunciar as arbitrariedades para as relatorias internacionais da Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos.

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosPrisõesProtestosProtestos no Brasil

Mais de Brasil

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Ministra interina diz que Brasil vai analisar decisões de Trump: 'Ele pode falar o que quiser'

Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto