Coronavírus: país já superou os 200 casos da doença; ainda não há registro de mortes (Amanda Perobelli/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 16 de março de 2020 às 16h12.
Última atualização em 19 de março de 2020 às 14h10.
São Paulo — A rápida expansão dos casos confirmados de coronavírus no Brasil levou os governos estaduais a colocar em prática medidas imediatas para conter a disseminação do vírus, que já infectou mais de 400 pessoas no país.
Até agora, 17 estados têm registros de pacientes, mas o cenário mais preocupante está no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, locais em que já há registro de transmissão comunitária, ou seja, quando não se sabe a origem da infecção em novos pacientes.
O Ministério da Saúde ainda não apelou para uma portaria nacional de medidas que todos os estados devem seguir. A recomendação é que os governos se adaptem às sugestões feitas na esfera federal de acordo com a realidade de cada estado. “Não há uma regra única para todo o país. Neste momento, nós não temos o Brasil inteiro na mesma situação, por isso é importante analisar o cenário de casos e possíveis riscos”, diz Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde.
Há governadores que já decretaram estado de emergência em saúde, enquanto outros seguem acompanhando a evolução dos casos antes de tomar decisões resolutivas.
Por enquanto, nenhum estado do Brasil determinou isolamento geral, como fizeram a Itália e China. Mas já há uma movimentação de empresas determinando home office e a proibição de eventos com mais de 500 pessoas.
Veja a seguir as principais medidas de estados que já registraram casos para conter o coronavírus:
Com o maior número de casos, o governador João Doria (PSDB) determinou na sexta-feira passada, 13, a proibição de eventos com mais de 500 pessoas para evitar aglomerações. Também foi anunciada a suspensão gradual das aulas na rede pública e também na privada, pelo menos nas próximas semanas.
O governador definiu que, a partir da terça-feira 17 todos os funcionários públicos estaduais com mais de 60 anos, exceto os que trabalham nas áreas de segurança pública e saúde, deverão trabalhar de casa.
Museus, bibliotecas, teatros e centros culturais do estado serão fechados por, pelo menos, um mês. Para o setor privado de entretenimento foi dada a mesma recomendação. Com as restrições, há a expectativa de que haja uma redução no uso de transporte público.
Doria também recomendou o fechamento dos shoppings e academias até o dia 30 de abril. A paralisação das atividades vai ser gradual, de 19 a 23 de março.
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), editou na semana passada um decreto fechando espaços públicos, como cinemas e teatros. Também chegou a dizer que a Polícia Militar poderia evacuar as praias, se fosse necessário, para impedir aglomerações de pessoas.
Tanto a rede municipal quanto a estadual de escolas no RJ também paralisaram as atividades. O governo do estado informou que os alunos terão 15 dias das férias escolares antecipados. A visitação a presos foi reduzida, e a realização de eventos esportivos, shows, feiras, eventos científicos, comícios e passeatas em locais abertos ou fechados está proibida.
O governo criou, ainda, um gabinete de crise para monitorar 24 horas por dia os desdobramentos da propagação do vírus. Na tarde desta segunda-feira, 16, o RJ definiu que academias e restaurantes também devem permanecer fechados.
Com cinco casos confirmados, Minas Gerais decretou situação de emergência em saúde por causa do coronavírus.
A determinação, assinada pelo governador Romeu Zema (Novo), libera a realização de exames laboratoriais compulsórios em pacientes suspeitos de contágio. O texto prevê ainda a “requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas” para tentar evitar a propagação do vírus.
No domingo 15, o governo criou o Comitê Gestor do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde do Covid-19 para ampliar as ações de prevenção e combate à doença em órgãos e entidades da administração estadual.
Está sendo implementado recesso escolar na próxima quarta-feira, 18, em todas as escolas da rede estadual. A medida vale até o dia 22 de março. Desde a última semana, o governo vem ressaltando que não existe situação de contágio comunitário em MG, pelo menos até o momento, e todas as medidas têm o objetivo de minimizar os impactos futuros da pandemia.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também decretou situação de emergência na saúde pública e estabeleceu uma série de medidas sanitárias e administrativas para prevenção, controle e contenção de riscos decorrentes do surto.
Com o decreto, o estado poderá “estabelecer isolamento; quarentena; exames médicos; testes laboratoriais; coleta de amostras clínicas; vacinação e outras medidas profiláticas; tratamentos médicos específicos; estudo ou investigação epidemiológica; exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver; e campanha de comunicação para utilidade pública”. Por enquanto, há um caso confirmado no estado.
Ainda não há uma definição unânime sobre a suspensão das aulas de escolas e universidades públicas ou privadas.
A exemplo de Minas Gerais e do Espírito Santo, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), também decretou estado de emergência em saúde pública no estado pelo prazo de 180 dias, com possibilidade de prorrogação. Até agora há três casos confirmados na região.
Pelos próximos 15 dias, o texto determina a suspensão de eventos, a visitação a presídios e pacientes internados com diagnóstico de coronavírus. Também foi adotada a realização compulsória de testes laboratoriais e a dispensa de licitação para compra de bens e serviços.
Se não fosse decretada a medida pelo governador, Goiás precisaria cumprir a Lei de Licitações, o que poderia atrapalhar a aquisição de insumos e equipamentos visando à prevenção e ao tratamento do coronavírus.
“O decreto de emergência pode provocar certa apreensão nas pessoas. Isso é mais do ponto de vista burocrático, se tivermos de cumprir as leis de licitações, se tivermos de comprar um respirador vai demorar em torno de dois meses, se tivermos de tomar medidas para outras áreas”, declarou o governador.
No domingo 15, oito universidades e instituições de ensino técnico suspenderam as aulas em Pernambuco. Já a prefeitura do Recife decidiu suspender as aulas a partir da quarta-feira na rede municipal.
Na rede estadual, a recomendação é seguir a autoridade sanitária municipal, ou seja, também haverá suspensão das aulas nas escolas estaduais do Recife. Em outras cidades, ainda não há a necessidade de parar as aulas, segundo o secretário da Saúde, André Longo.
Assim como outros estados, o governador Camilo Santana (PT) determinou a suspensão das aulas nas escolas e universidades públicas, estaduais e municipais de Fortaleza. A medida começa a partir do dia 18 de março e tem validade por 15 dias. O governo ainda recomendou que as escolas particulares seguissem a mesma orientação.
Outra medida anunciada foi a criação de 600 novas vagas de UTI, algumas compradas e outras alugadas, para atender à epidemia de coronavírus. Atualmente o Ceará conta com 740 leitos. Além disso, serão compradas 100 mil máscaras, 400 mil litros de álcool gel e 5 mil kits para testes do Covid-19.
O governo de Ibaneis Rocha (MDB) prorrogou nesta semana o decreto que determina a suspensão das aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal e antecipa as férias escolares pelos próximos 15 dias.
Cinemas, teatros, museus e academias devem fechar pelo mesmo período. O governador anunciou ainda que vai liberar 1 bilhão de reais em linha de crédito para o setor produtivo.
A partir da quinta-feira 19, as aulas da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul serão suspensas. Segundo o governador, Eduardo Leite (PSDB), a mesma recomendação vale para as instituições das redes privada e municipal.
Servidores de segurança e de saúde, que estão em férias, serão chamados de volta para reforçar o combate à doença. Já eventos públicos foram suspensos e não são recomendadas atividades com mais de 100 pessoas.
No dia 16 de março, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), emitiu um decreto com várias medidas de enfrentamento ao coronavírus. A partir do dia 20 de março ficam suspensas por tempo indeterminado as aulas em escolas públicas da rede estadual de ensino, assim como nas universidades estaduais.
O governo revogou as férias e licenças dos servidores da Saúde, da Segurança Pública e da Defesa Civil. Suspendeu também as visitas a teatros, cinemas, bibliotecas, museus e outros eventos artísticos e culturais; e hospitais, penitenciárias e centro de socioeducação, por tempo indeterminado. Recomendou ainda a suspensão dos eventos públicos ou particulares, de qualquer natureza, com reunião de público acima de 50 pessoas.
O governador Carlos Moisés (PSL) decretou estado de emergência no dia 17 de março. Durante sete dias a circulação de transporte coletivo urbano municipal, intermunicipal e interestadual de passageiros ficam suspensos. O governo também suspendeu as atividades de academias, shoppings, restaurantes e comércio em geral.
Eventos e reuniões de qualquer natureza, de caráter público ou privado, incluídas excursões, cursos presenciais, missas e cultos religiosos ficam suspensos em todo o território catarinense por 30 dias.
O período das medidas poderá ser ampliado, caso o governo ache necessário.