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Como o jeitinho brasileiro explica Michel Temer

De petistas, tucanos a correligionários, não tem um que discorde desta afirmação: Temer é um homem que tenta agradar


	O presidente interino Michel Temer: ele é aquele que chama para conversar, adora falar e costuma recorrer a analogias para explicar um fato ou dar conselho
 (Wikimedia Commons)

O presidente interino Michel Temer: ele é aquele que chama para conversar, adora falar e costuma recorrer a analogias para explicar um fato ou dar conselho (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2016 às 18h47.

Fora do País, principalmente em lugares como nos Estados Unidos, onde as pessoas são mais diretas, os brasileiros são facilmente reconhecidos. São aqueles que "beat around the bush" ou, em bom português, são os que ficam dando voltas para falar algo, evitam o conflito e dizer 'não' imediatamente.

A personificação desse conceito é o novo presidente em exercício do Brasil, Michel Temer.

De petistas, tucanos a correligionários, não tem um que discorde desta afirmação: Temer é um homem que tenta agradar. Ele é aquele que chama para conversar, adora falar e costuma recorrer a analogias para explicar um fato ou dar conselho. Faz tanto analogias com o Direito ou com casos que vivenciou.

É a pessoa que, mesmo sem uma imagem pública nacional definida, foi imposta como vice de Dilma Rousseff e teve como principal justificativa para sua defesa no posto a habilidade política. Embora até então pouco conhecido, Temer, presidente da Câmara dos Deputados três vezes, conhece como poucos o PMDB e a intimidade do Congresso Nacional.

Ele sabe que um parlamentar gosta mesmo é de ser ouvido. Foi assim que conquistou pela primeira vez, em 1999, a hoje tão ~polêmica~ cadeira de presidente da Câmara. Ele visitou cada gabinete e conversou com cada um dos mais de 500 deputados.

Em 2010 o então presidente Lula pediu a indicação do vice de sua candidata, Dilma Rousseff, ao atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao atual senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Tentou a todo custo emplacar o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os peemedebistas não aceitaram, e Lula pediu três nomes.

Dias depois, os dois voltaram e disseram: "Nossos nomes são: Michel Temer, Michel Temer e Michel Temer". Apesar de os petistas consideraram Temer voraz na hora de defender espaço para o PMDB, não teve jeito. O marido não era o preferido, mas o casamento arranjado teve de ser selado.

Após eleita a chapa, a relação com a presidente Dilma tinha como principal entrave a dificuldade de diálogo da petista. O vice sempre se sentiu "decorativo". Algo muito caro para quem gosta de ser prestigiado; tanto que o rancor explodiu em dezembro do ano passado com a famosa carta.

Poeta, daqueles que sonham integrar a Academia Brasileira de Letras, Temer tem o costume de se revelar nos seus escritos.

Escrever é expor-se.
Revelar sua capacidade
Ou incapacidade.
E sua intimidade.
Nas linhas e entrelinhas.

Como ele sempre foi muito comedido, a carta soou como uma extravagância para os mais próximos.

Pouco antes de o ex-presidente Lula ser nomeado ministro da Casa Civil, o petista tentou, por meio de um interlocutor, agendar um encontro com o vice-presidente. Ao interlocutor, Temer desabafou: "Fico sempre preocupado em encontrar o Lula. Da última vez, nós bebemos um vinho, um pouco a mais, e deu naquela carta".

São poucos os relatos de momentos de exaltação que envolvem o peemedebista. Um desses rendeu a ele um apelido que perdura até hoje — o de mordomo de filme de terror.

Em 1999, em um debate acalorado com um dos poucos inimigos políticos, o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, Temer disparou: “O senador tem mania de tentar avacalhar as pessoas. Em matéria de moral, dou de dez a zero no senador”, disse à ACM. E ouviu: “Avacalhado ele já é. Não me impressiona sua pose de mordomo de filme de terror”, alfinetou ACM.

Libriano

Claro que quem tenta agradar a todos termina sem agradar ninguém. Quem tenta dar espaço a todos termina alvo de muitas críticas.

Os mais místicos diriam que é por causa do signo em Libra. Os pragmáticos, como muitos gringos, embora admirem a habilidade dos brasileiros de dar voltas, também reclamam da falta de clareza em uma negativa.

Prova disso, segundo um peemedebista histórico, é a dificuldade do vice em montar o ministério.

Temer tentou encaixar todo mundo, fez vários convites e depois teve que sair desconvidando.

"Isso deixa mágoa. Ele tem esse jeito de tentar agradar, de tentar resolver tudo na conversa, mas é muito suscetível a pressões, principalmente de um pequeno grupo", avisa um peemdebista.

Lealdade

Este grupo, formado pelos futuros ministros Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Eliseu Padilha, demonstra outra característica de Temer: a lealdade.

Graças a ela, Temer, que faz 76 anos em setembro, vence desde 2001 todas as disputas para presidência do PMDB.

Os acordos, previsões e análises políticas, geralmente, são desenhados no domingo ou na segunda-feira em uma conversa despretensiosa com os mais próximos no Palácio do Jaburu, tendo sopa como prato principal.

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