Publicado em 19 de outubro de 2024 às 09h10.
O segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo tem, até o momento, como personagem principal o apagão que afetou mais de 3 milhões de imóveis em toda a região metropolitana do estado e influenciou as pesquisas da semana.
“Saiu o Pablo Marçal e entrou a chuva. Essa campanha em São Paulo é monotemática, mesmo com a cidade enfrentando questões tão complexas para discutir”, avaliou Cila Schulman no programa Eleições 2024 da EXAME.
A analista aponta que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) respondeu imediatamente à crise, publicando vídeos e indo para as ruas para mostrar como a falta de luz afetou a população. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) também acompanhou os trabalhos da prefeitura para mitigar os efeitos da tempestade.
“Boulos reagiu rápido, até porque o bairro dele ficou sem luz. Ele foi para a rua imediatamente. Mas Ricardo Nunes também reagiu, vestiu o colete da Defesa Civil e se mostrou atuante. Podemos dizer que ficou no zero a zero”, disse.
Cila salienta que a situação fez o eleitor relembrar a complexidade da cidade, uma vez que no primeiro turno a discussão girava em torno do comportamento dos candidatos frente a Marçal e suas provocações. “Começamos a discutir concessionária, zeladoria e a presença do governo federal e estadual. Mas o que vemos é um apontando o dedo para o outro”, disse Schulman.
O resultado desse comportamento de Boulos e Nunes, segundo a presidente do Ideia, foi o aumento dos eleitores que afirmam que vão votar em branco, nulo ou não pretendem votar no dia 27 de outubro.
A pesquisa Datafolha mostrou uma oscilação negativa de Nunes, com intenções de voto migrando para brancos e nulos, enquanto a Quaest apontou que cerca de 19% das pessoas na pesquisa estimulada não escolheram nenhum candidato.
“Nunes começa a se desgastar nesse tema, perdendo intenção de votos. Mas o problema é a rejeição a Boulos, pois esse eleitor que saiu de Nunes não foi para o Boulos”, explicou Schulman.
Cila Schulman aponta que a reta final da campanha terá menos debates que o esperado. Até o momento, três foram marcados, mas apenas o da TV Bandeirantes, na segunda-feira, 14, ocorreu. Nunes faltou aos debates da CBN e da Folha/UOL/RedeTV.
“Tenho pena que talvez tenhamos apenas o debate da Globo. Entendo a estratégia de não ir, algo comum para quem está à frente nas pesquisas. A campanha evita o risco de um fato novo”, disse.
O próximo debate, marcado para este sábado na TV Record, pode não contar com a presença de Nunes, que condiciona sua participação à situação climática. A previsão é de fortes chuvas e ventos de até 90 km/h.
“Na minha visão, o prefeito já está sinalizando que não vai. Ele diz que se chover não irá, e sabemos que a previsão é de chuva. Isso é triste, porque o debate é uma oportunidade para o candidato fazer compromissos”, afirmou.
Sobre a reta final, Cila aponta que as campanhas estão focadas em atingir o eleitor pela internet, sem tanta presença nas ruas. Ela também afirma que o impacto das chuvas previstas para o fim de semana pode ser importante para Nunes, que precisará continuar dando respostas à população.
“Nunes precisa falar com o São Pedro. As chuvas podem causar novo impacto, como na primeira vez, com perdas financeiras e de mobilidade. Uma repetição disso é ruim para quem está no poder”, completou.
Para Boulos, Cila vê que ele precisa de um fato novo, especialmente no debate da Globo, que atrai mais atenção do eleitorado.
“A diferença é muito grande, são milhões de pessoas. Vejo um grande desafio para a campanha de Boulos virar o jogo nessa reta final, mas campanha é campanha”, concluiu.