Brasília/São Paulo – Às vésperas do primeiro turno da
eleição municipal, o comportamento dos candidatos de
São Paulo no debate da TV Globo, transmitido nesta quinta-feira (29), foi bem diferente do visto nos encontros anteriores. O prefeito
Fernando Haddad (PT) – constantemente criticado por seus oponentes – foi deixado de lado e respondeu a poucas perguntas. Outra surpresa foi a dobradinha protagonizada por
Marta Suplicy (PMDB) e
João Doria (PSDB). Vale lembrar que, até o momento, o segundo lugar no segundo turno continua indefinido nas últimas pesquisas de intenção de voto.
Haddad na mira
Em dois dos quatro blocos do debate, Haddad não recebeu perguntas de nenhum adversário. Ao todo, respondeu a apenas três perguntas. Ainda assim, foi o alvo das críticas dos principais opositores: Doria, Marta e Celso Russomanno (PRB). Já no primeiro bloco, o tucano e a peemedebista demonstraram que jogariam juntos para atacar Haddad. A estratégia teve uma grande utilidade para Marta: atribuir a si mesma a imagem de prefeiturável anti-PT. Tudo, porém, foi feito discretamente, já que nenhum dos dois citou o prefeito em suas críticas mais duras. Para atingir o petista, Marta perguntou a Doria qual seria sua proposta para a periferia e aproveitou para dizer que o atual administrador da capital paulista “virou as costas” para quem vive nas regiões menos favorecidas. “Não entregou o que prometeu. Dos 20 CEUs, entregou um, das 49 UBS (Unidades Básicas de Saúde), entregou muito menos”, alfinetou a peemedebista. Em sua resposta, Doria não poupou Haddad e disse que o prefeito não cumpriu quase nada do que prometeu e que sua gestão deixou a desejar. “Não é justo que mais de 500 mil pessoas estejam esperando por exames. Não é razoável que mais de 103 mil crianças estejam fora das creches”. Em outras três oportunidades, Marta e Doria trocaram figurinhas sobre a atual administração municipal. Não economizaram nas críticas em vários setores, como habitação e saúde pública. Além deles, Russomanno se juntou a Doria para criticar a “indústria da multa”, que, segundo eles, foi criada por Haddad. O candidato do PRB defendeu o fim da prática e prometeu mudar o limite de velocidade das marginais. O tucano, por sua vez, destacou que é preciso acabar com as “multas pegadinhas”. O diagnóstico é que Doria já se vê no segundo turno – e a maioria de seus adversários também tem essa percepção - e que Marta e Russomanno preferiram atacar Haddad para ficarem sozinhos na disputa pela outra vaga. Por outro lado, Haddad se mostra confiante na possibilidade de ir para o segundo turno e afirmou, em entrevista à imprensa depois do debate, que acredita ter sido deixado de lado porque Doria teme enfrentá-lo. “Talvez ele esteja com receio, eu acredito nisso”, afirmou Haddad. E lembrou que, nas últimas eleições, em 2012, virou o resultado das pesquisas eleitorais na última semana. Haddad também disse que atrairia os votos de Marta por “coerência”. “As pessoas percebem quando você não tem mais consistência naquilo que você fala pelo seu posicionamento político. Quando você perde a identidade, como ela perdeu, você esfarela”, criticou o prefeito. Já Marta negou que tenha evitado um enfrentamento com o petista, mas admitiu que “privilegiou” Doria nas perguntas. “Ele tem muito mais tempo na televisão para falar de si mesmo e se apresentar do que eu tenho. Isso foi para expô-lo mais para que ele apresentasse suas propostas e as pessoas que estão em casa pudessem comparar nossas experiências”, afirmou a candidata do PMDB. Doria saiu pela tangente e disse que não houve mudança neste debate. “Não houve nenhum entendimento prévio. A disputa dela [Marta Suplicy] é com Fernando Haddad e Celso Russomanno”. O candidato do PRB, por sua vez, afastou a possibilidade de o mesmo cenário de 2012 se repetir e ele cair ainda mais nas pesquisas poucos dias antes da votação. “Vamos lutar até o final”, disse Russomanno.
Melhores embates
O debate – que foi morno na maior parte do tempo – teve seus momentos intensos de embates. Após Luiza Erundina (PSOL) criticar Doria, chamá-lo de lobista e dizer que ele defende privatizações mesmo tendo recebido uma série de repasses de dinheiro público em convênios de suas empresas, o peessedebista afirmou que tem uma visão mais moderna e ironizou a idade da adversária. “Respeito muito sua biografia mas ela é diferente da minha. Sou empresário, sou gestor, sou trabalhador. A minha é moderna, atual, transformadora.” A candidata do PSOL não perdeu a oportunidade de alfinetá-lo. "Você é tão velho quanto qualquer político velho. Ser moderno é privatizar cemitério?”. Numa última investida para conquistar votos na reta final da campanha, Erundina tentou colar em Marta a gestão do presidente Michel Temer (PMDB). Ela criticou a dificuldade que Marta tem de fazer autocrítica sobre o governo Temer e disse, que dessa maneira, a oponente não será uma boa prefeita para São Paulo. "A crise que estamos vivendo não é fruto deste governo de poucos meses. É culpa da incompetência de Dilma Rousseff", retrucou a peemedebista. Sobre táxis e Uber, Haddad perguntou por que Russomanno vai desfazer o que está dando certo. Evitando subir o tom, o candidato do PRB afirmou que, da forma como está, é competição predatória e ninguém ganha dinheiro. "Você está enganado, eu não vou desfazer o que foi feito, vou corrigir". Mesmo tendo Haddad como alvo principal, Russomanno e Marta também trocaram ofensas. Ao falar de saúde, o deputado federal disse que não podia prometer o que não podia cumprir, “como Marta que promete contratar 2 mil médicos, sendo que temos 20 mil médicos que ganham mal". A devolução da peemedebista veio nas considerações finais. “A disputa no segundo turno estamos eu, Russomanno e Haddad. Russomanno tem vários escândalos com trabalhadores. Até com questões de garçons, que não pagou. Isso está na Justiça, não sou eu que digo. É o juiz eleitoral que está aí na propaganda contando para ele e para todo mundo”, afirmou Marta. Na sequência, o candidato do PRB afirmou que Marta acabara de mentir. “Ao longo de toda a minha vida sempre dei a minha cara a tapa para defender as pessoas. A Marta se esconde atrás de um comercial de televisão. Gastou 400 comerciais para falar mal de mim. Ela mente descaradamente”, disse Russomanno. Com alguns momentos quentes, o debate ficou aquém das expectativas para os eleitores que esperavam fortes emoções. Ataques entre Haddad, Marta e Russomanno devem prevalecer até o último programa eleitoral antes da ida do eleitorado às urnas. Veja, nas frases, os melhores momentos. Veja também o que os candidatos falaram após o debate: