Manifestantes comemoram vitória de Bolsonaro na eleições de 2018 no Rio de Janeiro (Clarke Hill/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de maio de 2019 às 16h56.
São Paulo — As imagens que convocam para as manifestações favoráveis ao presidente, que acontecem neste domingo (26), começaram a se destacar entre as mais circuladas do WhatsApp no dia 16, quinta-feira, um dia após os atos contrários ao governo e aos cortes na Educação.
Como forma de rebater os protestos, apoiadores de Bolsonaro se mobilizaram para ir às ruas e, desde então, o teor das mensagens tem sido direcionado para atacar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma análise feita pelo jornal O Estado de S. Paulo no WhatsApp Monitor, ferramenta de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que a primeira imagem sobre o próximo domingo a ficar entre as 30 mais compartilhadas de um determinado dia em grupos públicos do aplicativo foi uma com o logo do movimento NasRuas.
Foi no sábado passado, porém, que as imagens com convocatórias para o próximo domingo dominaram de vez os grupos públicos.
Àquela altura, além de conter detalhes dos atos em cada cidade, as imagens passaram a atacar abertamente o Congresso e o Supremo. Uma delas chega a pedir o fechamento das duas instituições, enquanto outras buscam desmoralizá-las.
A ideia de um Bolsonaro messiânico, capaz de enfrentar o "establishment" com o apoio das ruas, passou a dominar. Nessas mensagens, imprensa, reitores de universidades e classe artística se juntam ao Legislativo e ao Judiciário para formar o que os apoiadores do presidente classificam como "sistema".
No dia anterior, sexta-feira, Bolsonaro havia compartilhado um texto que versava sobre as dificuldades de se governar de acordo com as regras do jogo político. A mensagem dizia que, "fora desses conchavos, o Brasil é ingovernável".
É por isso, segundo a corrente, que o país está "disfuncional", o que isentaria o presidente de culpa. "Até agora (o presidente) não aprovou nada", diz o texto.
De lá para cá, o bolsonarismo mais institucional ficou dividido. Apoiadores do presidente se posicionaram contra a ideia de buscar nas ruas o aval para um governo avesso à articulação — nomes como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) e o presidente do partido de Bolsonaro, deputado Luciano Bivar (PSL-PE).
A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a ter um embate no Twitter com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), ex-líder do NasRuas, depois de ser acusada por ela de omissão por não postar nas redes sociais um apoio explícito às manifestações.
O monitor da UFMG acompanha 350 grupos públicos do WhatsApp — ou seja, aqueles nos quais é possível entrar apenas com um link — e enumera as imagens, áudios, mensagens e links que mais circulam dia a dia.
Como o aplicativo tem criptografia de ponta a ponta, não é possível monitorar o que é compartilhado entre usuários fora desses grupos.
As manifestações em defesa do presidente Jair Bolsonaro marcadas para o próximo domingo estão sendo organizadas por grupos dissidentes das principais organizações que comandaram o movimento pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e apoiaram Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018.
A esses movimentos, articulados majoritariamente pelo WhatsApp, se soma uma rede de influenciadores digitais alinhados com o clã Bolsonaro e com o núcleo ideológico do governo, que tem o escritor Olavo de Carvalho como principal referência.
Enquanto os dois principais grupos anti-Dilma de 2015 — o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua — se afastaram de Bolsonaro e adotaram bandeiras institucionais como a reforma da Previdência, outros de matriz mais radical mantiveram o discurso antiesquerda que pautou a eleição presidencial e os discursos.
Para evitar o isolamento, as pautas do dia 26 são difusas: defesa do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro (Justiça), CPI da Lava Toga e reforma da Previdência.
O que prevalece, porém, é uma retórica contra a classe política, que é acusada de conspirar para derrubar o presidente. O Centrão, que será crucial na aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso, se tornou alvo principal da rede bolsonarista.
Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, os principais grupos à frente dos atos do próximo domingo são Avança Brasil, Consciência Patriótica, Direita São Paulo e Movimento Brasil Conservador. Além deles, dezenas de outros grupos menores atuam nas redes sociais.
Em número de seguidores, nenhum deles supera o MBL, com 3,4 milhões no Facebook, nem o Vem Pra Rua, com 2,3 milhões. O grupo pró-Bolsonaro com mais seguidores é o Avança Brasil, com 1,5 milhão.
"Aqui tem olavetes, intervencionistas, católicos e templários. Todos queremos um Brasil melhor", afirmou a dona de casa e estudante Elizabeth Rezende, uma das líderes do Juntos pela Pátria, grupo que tem 12 mil seguidores.
Na manifestações de 2015 lideradas pelo MBL e o Vem Pra Rua, Elizabeth estava de verde-amarelo no meio da multidão. Em 2017, filiou-se ao PSL para disputar uma vaga de deputado estadual. Derrotada, passou a se dedicar ao grupo que hoje lidera.
Já o Direita São Paulo é mais antigo e estruturado. O grupo tem sede própria e terá um carro de som na Avenida Paulista, no ato de domingo.
Além disso, tem discurso afinado com Bolsonaro e com o núcleo ideológico do governo. "Bolsonaro não tem de fazer acordos com o Centrão e a velha política em troca de favores", afirmou um dos líderes do grupo, Edson Salomão.
Outro movimento que se organiza para o dia 26 é o monarquista. Segundo o líder da Confederação Monárquica no Rio, Rodrigo Dias, o grupo vai reforçar o apoio ao pacote anticrime de Moro e à manutenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na Justiça. Além disso, afirmou, terá espaço a "causa monárquica".