Paulo Evaristo Arns: dom Paulo tinha 95 anos, 71 anos de sacerdócio e 76 anos de vida franciscana (Planalto/Reprodução)
Agência Brasil
Publicado em 14 de dezembro de 2016 às 16h46.
Última atualização em 14 de dezembro de 2016 às 17h15.
Representantes da Igreja Católica e diversas autoridades lamentaram hoje (14) a morte do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. O cardeal morreu na manhã de hoje, em São Paulo.
Ele estava internado desde o dia 28 de novembro com broncopneumonia, no hospital Santa Catarina. Ontem (13), o estado de saúde do arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo havia piorado e ele estava na UTI em função de problemas na função renal.
Dom Paulo tinha 95 anos, 71 anos de sacerdócio e 76 anos de vida franciscana. Ele era cardeal desde 1973 e foi arcebispo metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998.
Veja a repercussão da morte do cardeal:
Por meio de nota, o presidente Michel Temer disse que "Dom Paulo foi um defensor da liberdade e sempre teve como norte a construção de uma sociedade justa e igualitária".
Temer acrescenta que o Brasil "perde um defensor da democracia e ganha para sempre mais um personagem que deixa lições para serem lembradas eternamente".
Em nota divulgada por meio do Instituto Lula, o ex-presidente disse que "o Brasil perdeu hoje um dos seus maiores símbolos na luta pela Justiça. Nossa América perdeu a voz destemida que enfrentou ditaduras truculentas e o braço amigo que abrigou centenas de refugiados que eram perseguidos nos países vizinhos. O mundo perdeu um vulto gigante na defesa universal dos Direitos Humanos".
"Assumindo a autoridade de bispo em 1970, destacou-se na defesa dos direitos de presos comuns na zona norte de São Paulo. Poucos meses depois, tornou-se a voz dos presos políticos sobreviventes das torturas, que sempre reconheceram nele a energia contagiante de quem denuncia a violência e desmascara farsas policiais, sem nunca se recusar a bater na porta de um quartel ou dialogar com quem se dispusesse a isso", disse Lula.
Ressaltou a ligação entre a trajetória religiosa e a comunidade: "Franciscano que era, seguiu o exemplo de seu mestre para seguir uma clara opção preferencial pelos oprimidos em sua Igreja da Libertação. Semeou e cultivou Comunidades Eclesiais de Base, revolucionou a formação dos seminários levando os futuros sacerdotes a viverem nos bairros da periferia. Impulsionou a Pastoral Operária, encorajou o trabalho da Igreja com as crianças, vocação profética de sua irmã Zilda até a morte trágica no Haiti".
"O Brasil perde muito. Mas não perde nenhum de seus ensinamentos e de suas lições. Num momento tão difícil de nossa vida nacional, cabe recolher seu legado de dignidade e coerência como inspiração permanente. Cabe resgatar os ideais de esperança que Dom Paulo sempre apresentou como lema de uma vida inteira", diz a nota.
"Assumindo a autoridade de bispo em 1970, destacou-se na defesa dos direitos de presos comuns na zona norte de São Paulo. Poucos meses depois, tornou-se a voz dos presos políticos sobreviventes das torturas, que sempre reconheceram nele a energia contagiante de quem denuncia a violência e desmascara farsas policiais, sem nunca se recusar a bater na porta de um quartel ou dialogar com quem se dispusesse a isso", disse Lula.
"O Brasil perde muito. Mas não perde nenhum de seus ensinamentos e de suas lições. Num momento tão difícil de nossa vida nacional, cabe recolher seu legado de dignidade e coerência como inspiração permanente. Cabe resgatar os ideais de esperança que Dom Paulo sempre apresentou como lema de uma vida inteira", diz a nota.
Reunido em Buenos Aires com os chanceleres do Mercosul, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também lamentou a morte do cardeal e lembrou que ele trabalhou ativamente para o retorno da democracia no Brasil.
"Dom Paulo é um exemplo para aqueles que acreditam na justiça social e na melhoria das condições de vida da população. Dedicou seu sacerdócio à defesa dos direitos humanos, em especial dos mais pobres", disse, em nota.
Serra ressaltou que dom Paulo Evaristo Arns foi quem criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz de São Paulo e estabeleceu a Pastoral da Criança.
A primeira, segundo ele, desempenhou papel fundamental no combate à tortura durante o regime militar e a segunda trabalha até hoje pelo bem-estar das crianças. "São Paulo e o Brasil perdem um gigante; eu, um amigo e conselheiro", disse Serra.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, postou uma mensagem na rede social Twitter sobre a morte do cardeal. "Quem quer agradar a Deus precisa amar o que Ele ama: as pessoas.
Esse ensinamento é de dom Paulo Evaristo Arns. Nesta hora de dor, que o seu exemplo nos faça mais atentos aos seus valores: solidariedade, justiça, paz, ética - e coragem para defendê-los", disse, em seu Twitter.
O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, divulgou nota lamentando a morte de Arns. "Louvemos e agradeçamos ao 'Altíssimo, onipotente e bom Senhor' pelos 95 anos de vida de Dom Paulo, seus 76 anos de consagração religiosa, 71 anos de sacerdócio ministerial, 50 de episcopado e 43 anos de cardinalato.
Glorifiquemos a Deus pelos dons concedidos a Dom Paulo, e que ele soube partilhar com os irmãos. Louvemos a Deus pelo testemunho de vida franciscana de Dom Paulo e pelo seu engajamento corajoso na defesa da dignidade humana e dos direitos inalienáveis de cada pessoa", diz a nota.
O cardeal também convidou a todos a participarem do velório e dos ritos fúnebres que serão realizados na Catedral da Sé.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou o pesar pelo falecimento.
"Em seu ministério episcopal, especialmente durante os penosos anos do regime de excessão vividos pelo Brasil, ele foi sempre um pastor símbolo da fidelidade à Palavra de Cristo e aos Ensinamentos da Igreja. Sua palavra sempre trouxe especial alento ao coração dos cristãos e deu significativa contribuição na luta contra a tortura e o restabelecimento da democracia", disse o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, em nota.
O secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB, Carlos Moura, disse que dom Paulo Evaristo Arns deixa o legado de colocar na agenda pública nacional a inviolabilidade da vida humana.
"Quem conviveu com o religioso, teve a oportunidade de escutar 'de esperança em esperança', esse quase lema que o acompanhou nos tempos mais difíceis da história nacional, quando o autoritarismo era lei que prendia, torturava e condenava quem discordasse da Lei de Segurança Nacional", disse, em nota.
O trabalho pastoral de Arns foi voltado principalmente aos moradores da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros e à defesa e promoção dos direitos humanos.
O livro de sua autoria Brasil: nunca mais retrata os mecanismos de tortura e outras graves violações a direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.
A Coordenação Nacional da Pastoral da Criança disse que dom Paulo Evaristo Arns foi "o grande responsável por semear a criação da Pastoral da Criança", em 1982, projeto desenvolvido por sua irmã, a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, e que busca reduzir a mortalidade infantil.
Em nota, a Pastoral disse que a vida do cardeal foi marcada por uma série de ações voltadas às populações mais pobres e necessitadas.
"Ele foi um exemplo de que os ensinamentos cristãos se concretizam no contato com o povo, pelo viés da solidariedade, buscando a transformação das injustiças sociais. Costumava dizer que, para que essas transformações aconteçam, é importante cada um se interessar pela política e agir, no sentido de defender os direitos daqueles que mais precisam".