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Como a Eletrobras virou alvo da investigação da Lava Jato

Pela primeira vez, Operação Lava Jato mira esquema de pagamento de propina para além dos limites da Petrobras. Veja quais são as suspeitas da PF

Usina Angra 3 em construção: consórcio teria rendido 4,5 milhões de reais em propina ao presidente da Eletronuclear (Divulgação/Eletronuclear)

Usina Angra 3 em construção: consórcio teria rendido 4,5 milhões de reais em propina ao presidente da Eletronuclear (Divulgação/Eletronuclear)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 28 de julho de 2015 às 17h05.

Última atualização em 3 de agosto de 2017 às 15h32.

São Paulo – A manhã desta terça-feira ficou marcada pela deflagração da 16ª fase da Operação Lava Jato, a primeira etapa de investigações sobre o esquema de corrupção no setor público para além dos limites da Petrobras. Veja um raio-X de todas as fases da Lava Jato.

Desta vez, a ação da Polícia Federal, batizada de Radioatividade, tem a Eletronuclear como alvo, subsidiária de geração de energia nuclear da Eletrobras.

Estão sob investigação contratos das mesmas empreiteiras envolvidas no esquema de lavagem e desvio de dinheiro da Petrobras, mas agora em obras da usina nuclear Angra 3.

Quem são os executivos presos nesta terça-feira? 

Entre os presos nesta fase estão o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente licenciado da Eletronuclear, e Flávio David Barra, presidente global da Andrade Gutierrez Energia. Eles foram detidos em regime de prisão temporária válido por cinco dias, com possibilidade de extensão para a preventiva.

Outros cinco executivos de diversas empresas foram conduzidos à PF para prestar depoimento. São eles: Renato Ribeiro Abreu, da MPE Participações e Administração, Fábio Andreani Gandolfo, da Odebrecht, Petrônio Braz Junior, da Queiroz Galvão, Ricardo Ouriques Marques, da Techint Engenharia, e Clóvis Renato Peixoto Primo, da Andrade Gutierrez.

Othon da Silva, presidente licenciado da Eletronuclear (Agência Câmara)

Quanto foi movimentado em propina? 

Em coletiva de imprensa concedida na manhã desta terça-feira, o procurador da Polícia Federal Athayde Ribeiro Costa afirmou que as investigações apontam que o presidente da Eletronuclear recebeu 4,5 milhões de reais em propina para obras da empresa de 2009 a 2014, tudo através de empresas intermediárias.

Quais empresas podem estar envolvidas?

Estariam envolvidas UTC, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Techint e EBE, empresas que formavam o consórcio responsável pelas obras de Angra 3, chamado Angramon. Segundo o procurador, há indícios de que a Engevix também teria feito pagamento de propina.

O que levou a PF a investigar a Eletronuclear?

Dois episódios foram cruciais para o envolvimento da Eletrobras nos autos da Lava Jato. A primeira pista de envolvimento de novas estatais no esquema veio a público em depoimento do ex-diretor de abastecimento da petroleira Paulo Roberto Costa à CPI da Petrobras em dezembro de 2014. “O que acontecia na Petrobras, acontece no Brasil inteiro — nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas. Isso acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar”, disse à comissão.

O principal indicativo, no entanto, foi a delação premiada de Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa. Preso inicialmente porque a empreiteira fazia parte do grupo que burlava licitações de grande obras da Petrobras, foi ele quem acusou o almirante Othon Luiz Pinheiro de recebimento de propina em contratos do consórcio Angramon, enquanto ocupava o cargo de presidente da estatal. A notícia fez com que o almirante se afastasse do cargo.

Soma-se a isso, a apreensão de uma planilha que, segundo o juiz Sergio Moro, continha dados sobre cerca de 750 obras públicas nos mais diversos setores de infraestrutura com o doleiro Alberto Youssef.

Funcionário da Andrade Gutierrez em obra da Angra 3 (Divulgação/Eletronuclear)

Como isso afeta os negócios da empresa? 

A empresa agora deve seguir o mesmo caminho da Petrobras na investigação dos esquemas de corrupção. A Eletrobras também tem ações abertas na Bolsa de Nova York. Depois da delação de Avancini, a estatal anunciou que não publicaria seu balanço nos EUA devido ao envolvimento na Lava Jato, o que indica que os números precisariam de revisão após desvios.

Depois do mesmo processo de auditoria, a Petrobras demorou cinco meses para publicar seu balanço nos EUA e estimou perdas de mais de 6 bilhões de reais apenas com corrupção.

O que vem a seguir? 

Além das prisões, mandados de busca e apreensão atingiram executivos e funcionários das empresas Eletronuclear, Aratec Engenharia Consultoria e Representações. Segundo a PF, serão feitas buscas nas salas de executivos e verificados os e-mails corporativos.

O que disseram as empresas?

A Eletrobras ainda não se pronunciou sobre o assunto. A Camargo Corrêa disse não ter nada novo a acrescentar.

Andrade Gutierrez
"A Andrade Gutierrez está acompanhando a 16ª fase da Operação Lava Jato e destaca que sempre esteve à disposição da Justiça. Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar."

Consórcio Angramon
"O Consórcio Angramon, constituído para execução dos serviços de montagem eletromecânica de Angra 3, nega qualquer irregularidade e vem esclarecer que todo ato relativo ao Consórcio foi executado rigorosamente dentro da legislação e aprovado pelos órgãos competentes. As regras da concorrência foram divulgadas a partir da audiência pública realizada no ano de 2009, e o processo de licitação ocorreu como determinado nas normas relativas a licitações junto à Administração Pública. O contrato está totalmente de acordo com a legislação vigente."

Odebrecht
"A Construtora Norberto Odebrecht esclarece que na manhã desta terça-feira, 28 de julho, foi alvo de busca e apreensão em sua sede, no Rio de Janeiro, bem como na residência de um de seus executivos, que também foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento perante a Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Todos os nossos executivos, assim como a empresa, sempre estiveram à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e apresentar documentos no âmbito das investigações da operação Lava Jato, sendo injustificáveis as medidas empreendidas nesta data.

A CNO reafirma que nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado, o que obviamente inclui a Eletronuclear, portanto não reconhece como verdadeiras as afirmações de delator premiado que, visando obter a sua liberdade, em razão de prisão preventiva, não tem qualquer compromisso com a verdade."

Queiroz Galvão
"A Construtora Queiroz Galvão informa que está cooperando com as investigações. A companhia nega veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens. A empresa reitera que todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação vigente."

UTC
"A empresa não comenta investigações em andamento."

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