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Como a desigualdade influencia no diagnóstico precoce do câncer de mama

Percentual de mamografias feitas em mulheres com baixa escolaridade é 30% menor do que em mulheres que possuem ensino superior

Outubro rosa: Rio de Janeiro tem mamógrafo móvel durante campanha de prevenção ao câncer de mama  (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Outubro rosa: Rio de Janeiro tem mamógrafo móvel durante campanha de prevenção ao câncer de mama (Tomaz Silva/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 7 de outubro de 2019 às 16h56.

Última atualização em 7 de outubro de 2019 às 16h56.

O Brasil deve registrar quase 60 mil novos casos de câncer de mama em 2019, e a prevenção a consequências mais graves dessa doença com o diagnóstico precoce esbarra em desigualdades regionais e de escolaridade. Ao participar, nesta segunda  (7), do lançamento da campanha Outubro Rosa, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do instituto, Liz Almeida, pediu atenção a essa disparidade e apresentou dados.

A última Pesquisa Nacional de Saúde sobre o tema, de 2013, mostra que, entre as brasileiras de 50 a 69 anos, passa de 80% o percentual das que fizeram mamografia nos últimos dois anos, se forem levadas em conta apenas as que têm nível superior. Entre as mulheres sem instrução ou com nível fundamental incompleto, esse percentual cai para cerca de 50%, e chega a menos de 30% na Região Norte.

"Em cada região precisamos dar uma atenção diferenciada a questões como grau de informação, qual é a possibilidade de acessar os exames preventivos e o tratamento. Temos que olhar de forma desigual para uma situação de desigualdade e tratar essa situação de forma desigual", explicou a pesquisadora.

Mesmo entre as capitais há grande desigualdade na busca pela mamografia. Dados de 2018 da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, mostram que em Boa Vista, Rio Branco, Fortaleza e Macapá, menos de 70% das mulheres de 50 a 69 anos fizeram mamografia nos últimos dois anos. Já em Salvador, esse percentual chega a 86%, e também superam os 80% Curitiba, Porto Velho, Palmas, São Paulo Porto Alegre e Vitória.

"O mais importante é prestar atenção e estudar em cada região quais são os pontos mais críticos, e trazer essa população para também discutir soluções muito particulares", disse a pesquisadora. "Não é tirar uma ideia mirabolante da carteira. É ver com a população quais são as mais prováveis soluções", acrescentou.

Diagnóstico

Quando diagnosticado em seu estágio inicial, o câncer de mama pode ter mais de 90% de chances de cura, além de permitir tratamentos menos agressivos e maior possibilidade de preservação da mama. No ano 2000, 17,3% dos casos eram diagnosticados nos estágios iniciais, e, em 2015, o percentual subiu para 27,6%.

Apesar dos avanços, permanece um cenário desigual. Enquanto no Sul e no Sudeste diagnosticam cerca de 30% dos casos em estágio inicial, no Nordeste somente 12,7% dos casos eram descobertos precocemente. A campanha lançada hoje pelo Inca destaca que toda mulher precisa estar atenta à prevenção do câncer. A ação será veiculada em diversas mídias para reforçar a necessidade do diagnóstico precoce, e todo o material pode ser consultado no site do instituto.

Diagnosticada com câncer de mama em 2015, Valquíria dos Reis, 51 anos, participou do lançamento e destacou a importância de tentar manter a autoestima e buscar apoio em outras mulheres que enfrentam o câncer. Depois da remissão da doença, ela disse que mudou de profissão de secretária para DJ, adotou um estilo de vida mais saudável e manteve a participação nos grupos de apoio e redes de solidariedade.

"A alimentação foi a primeira coisa que eu tive que mudar. Tive que passar a descascar mais e desembalar menos", disse, sobre o consumo de produtos industrializados. A DJ aconselhou: "Confie nos médicos. Esqueça pesquisas na internet".

Prevenção

O Ministério da Saúde recomenda que mulheres com 50 a 69 anos realizem a mamografia de rotina, uma vez a cada dois anos. Dois terços dos casos são diagnosticados em mulheres com mais de 50 anos, e um terço em mulheres mais jovens, que também devem ficar atentas a qualquer alteração em seus corpos. É mais difícil detectar o câncer de mama em mulheres abaixo dos 40 anos por meio de mamografia, já que a densidade dos seios dificulta a precisão do exame. Diante disso, a recomendação é se familiarizar com a aparência dos seios e relatar quaisquer alterações ao médico.

Segundo o Inca, os principais sinais e sintomas da doença são caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja, alterações no bico do peito (mamilo); saída espontânea de líquido de um dos mamilos; e pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).

Homens

O câncer de mama em homens representa 1% dos casos, mas eles costumam ser mais agressivos. Segundo o Inca, em 2017, a doença matou 16,7 mil mulheres e 203 homens no Brasil. Em 2019, a estimativa do instituto é que 600 novos casos de câncer de mama sejam diagnosticados em homens.

Uma série de fatores ligados ao estilo de vida urbano e contemporâneo contribui para que a incidência da doença esteja em alta no mundo. Se exercitar de três a quatro horas por semana, evitar a obesidade e moderar o consumo de álcool estão entre os comportamentos que podem reduzir o risco.

O sedentarismo e a obesidade, somados ao maior envelhecimento populacional do país, estão entre as razões para o Rio de Janeiro ser o estado com a maior incidência e também a maior mortalidade por câncer de mama no Brasil. Segundo Liz, esses problemas de saúde são mais frequentes na população fluminense.

"O Rio de Janeiro é o campeão de inatividade física, de obesidade nas mulheres e de, nos momentos livres, ficar no computador, tablet, celular. Então, não estamos fazendo o dever de casa".

Por ano, mais de 2 milhões de casos são descobertos no mundo, e 627 mil mulheres morrem vítimas da doença. Se os países forem divididos em cinco grupos, de acordo com a incidência de câncer de mama, o Brasil está no segundo grupo mais afetado pela doença, que é mais incidente nos países desenvolvidos. Já em relação à mortalidade, o Brasil está no segundo melhor grupo, com 13 casos de óbito para cada 100 mil mulheres, índice que é melhor que o de países desenvolvidos como a França e o Reino Unido. "Nosso sistema de saúde, apesar de todos os problemas, está salvando muitas vidas", disse a pesquisadora do Inca.

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