O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: ministro terá um prazo de dez dias para apresentar os esclarecimentos (Valter Campanato/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 20h06.
Brasília - A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu nesta quarta-feira, 25, pedir explicações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre encontros que manteve com advogados ligados à Operação Lava Jato.
O ministro terá um prazo de dez dias para apresentar os esclarecimentos solicitados pela comissão, que só então decidirá se abre processo ou não para apurar o caso.
"Não posso prejulgar nada, não posso falar (sobre a conduta do ministro) porque provavelmente serei um dos que vai votar", disse o presidente da Comissão de Ética, Américo Lacombe, ao comunicar a decisão. Questionado se receberia advogados de empresas investigadas pela Polícia Federal se fosse ministro da Justiça, Lacombe respondeu: "Eu quando era juiz recebia todos. Eu trabalhava com porta aberta, os advogados entravam na minha sala livremente."
Pela manhã, Cardozo recebeu o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e afirmou que nunca deixará de receber advogados que o procurarem. "Eu, como ministro da Justiça, jamais deixarei o pedido de atender advogados, juízes, promotores ou defensores. É nosso dever, dever legal. Se há pessoas que ainda não ajustaram suas mentes ao Estado de Direito, cabe a nós lutar para que isto ocorra", afirmou Cardozo. O ministro também disse não ter previsão em sua agenda de receber outros advogados para tratar da Operação Lava Jato.
Além do presidente nacional da OAB, Marcus Vinícius Coêlho, outros 12 representantes da classe tiveram uma audiência com Cardozo. "Já imaginei que teriam polêmicas como ministro da Justiça, mas jamais pensei que eu teria, no século XXI, que polemizar sobre o fato de se uma autoridade deve receber advogados ou não", afirmou Cardozo.
Nesta terça, Cardozo teve reuniões com a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que defenderam a independência do Judiciário e a preocupação com interferência política na esfera judicial, mas manifestaram apoio ao ministro sobre o encontro com advogados.
Após a revelação dos encontros, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, classificou de "intolerável que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas".
A próxima reunião da Comissão de Ética Pública da Presidência está marcada para 18 de março.