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Comissão de Direitos Humanos: "Cracolândia é lugar de insegurança humana"

A vice-presidente da CIDH, Esmeralda Arosemena, disse que as pessoas da área vivem em uma situação de completa falta de segurança e garantia de direitos

Foto de arquivo: eles precisam não de apenas "um prato de comida", mas de direitos básicos assegurados (Paulo Whitaker/Reuters)

Foto de arquivo: eles precisam não de apenas "um prato de comida", mas de direitos básicos assegurados (Paulo Whitaker/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 8 de novembro de 2018 às 09h59.

Última atualização em 8 de novembro de 2018 às 09h59.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fez uma visita nesta quarta-feira (7) à Cracolândia, na Luz, região central da capital paulista. A área reúne centenas de usuários de drogas e população em situação de rua, sendo alvo de constante de operações da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana. A repressão foi intensificada depois das mega-operações policiais feitas em maio de 2017.

Após conversar com alguns frequentadores e residentes da região, a vice-presidente da CIDH, Esmeralda Arosemena, disse que as pessoas da área vivem em uma situação de completa falta de segurança e garantia de direitos.

"A forma como estão vivendo essas pessoas que acabamos de visitar, simplesmente estão em uma situação de insegurança humana. Para falar de segurança é preciso falar primeiro de segurança humana. Dar respostas a essa população", disse.

A população que vive na Cracolândia demanda ter, segundo a vice-presidente, não apenas "um prato de comida", mas os direitos básicos assegurados.

"Isso traz a obrigação de oferecer saúde, moradia, educação, reconhecimento e alimentação. Eles reclamam até de não ter o direito de se movimentar livremente, de liberdade de andar, um direito fundamental. Não podem ir de um lado ao outro", disse.

Violência e restrição de ir e vir

Um dos moradores ouvidos pela comissão, Cleiton Ferreira, reclamou da constante violência policial na Cracolândia. "O que nós queremos é educação, respeito e igualdade social. Como ter igualdade se não tenho trabalho? Se não tenho nem uma latrina para defecar?", disse. Cleiton perdeu a visão de um dos olhos ao ser atingido por um destroço de bomba de gás lacrimogêneo.

Um residente da Cracolândia que se identificou apenas como André, reclamou que, dependendo da aparência, as pessoas são impedidas de circular por determinados lugares pela Guarda Metropolitana ou pela Polícia Militar. "Se você está sem camisa, com um monte de latinhas [para reciclagem] na mão, não pode passar", exemplificou.

Os membros da CIDH também ouviram moradores que vivem nos imóveis no entorno da Cracolândia, onde tem havido despejos e demolições. Uma moradora que se identificou como Arosemena disse que algumas ações do Poder Público visam "destruir os espaços onde estão para empurrá-los para outros lugares".

Em abril, 163 famílias foram removidas de uma das quadras da região e os prédios derrubados para que o terreno fosse liberado para a construção de um hospital.

As autoridades responsáveis pelas ações e atendimento à população na região também serão ouvidas pela CIDH antes que da comissão elaborar as conclusões sobre a situação da Cracolândia.

"É um assunto de saúde pública o que vimos hoje. Nós vamos ter a oportunidade de recolher toda as informações. Estar aqui, avaliando. Vamos conversar com as autoridades de forma que o conjunto da comissão possa fazer uma avaliação", disse a vice-presidente da CIDH.

A visita desta quarta-feira faz parte da agenda da CIDH no Brasil, iniciada na última segunda-feira (5), que prevê uma série de encontros em diversas partes do país. Um relatório preliminar sobre a missão no Brasil deve ser divulgado em 12 de novembro.

A Agência Brasil entrou em contato com a Polícia Militar e com a prefeitura de São Paulo e aguarda retorno.

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