Mãe e filha se protegem dos bombardeios no porão de casa, em Yasynuvata, perto de Donetsk (Max Vetrov/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2014 às 15h49.
Donetsk - Donetsk e Lugansk, dois redutos separatistas pró-russos do leste ucraniano, viviam intensos combates nesta quinta-feira, que provocaram a morte de dezenas de pessoas, enquanto a Ucrânia enviou seu próprio comboio humanitário às vítimas do conflito, em resposta à polêmica ajuda russa.
Em Donetsk, intensos ataques com armas pesadas eram ouvidos nesta quinta-feira em vários pontos do centro da cidade, incluindo uma universidade e a sede do Ministério Público, ocupada por separatistas pró-Rússia. A violência fez ao menos dois mortos.
O bairro estava tomado por rebeldes armados que indicaram que dois obus atingiram a sede da polícia, também ocupada pelos insurgentes. Fortes explosões eram ouvidas a intervalos regulares na cidade.
Na região de Donetsk, onde o exército ucraniano realiza sua ofensiva apertando o cerco à cidade, 74 civis morreram em três dias, segundo a administração regional.
Em Lugansk, cercado pelo exército ucraniano e que sofre com uma situação humanitária "crítica", 22 civis morreram após um obus atingir um ônibus, um mercado e várias habitações.
"Nas últimas 24 horas, segundo informações provisórias, morreram 22 habitantes de Lugansk. Os bairros orientais da cidade foram atacados com morteiros. Um ônibus, uma loja e vários edifícios residenciais foram atingidos", afirmou um representante da administração regional.
Já o exército ucraniano anunciou ter perdido 9 de seus soldados na ofensiva em Lugansk, enquanto o líder separatista da cidade, Valéri Bolotov, informou à televisão russa que deixaria suas funções provisoriamente em razão "de seus ferimentos".
As autoridades locais afirmam que Lugansk está em situação "crítica", sem energia elétrica ou água corrente há 12 dias, com as linhas telefônicas cortadas e os estoques de comida e medicamentos perto do fim.
Uma 'armadilha' para a Ucrânia
As autoridades ucranianas anunciaram nesta quinta-feira o envio do próprio comboio humanitário, com 75 caminhões transportando 800 toneladas de produtos de primeira necessidade, aos civis de Donetsk e Lugansk.
Este anúncio soa como uma resposta ao comboio humanitário russo enviado por Moscou na terça-feira sob o mesmo pretexto à fronteira ucraniana e que é alvo de uma disputa entre os dois países sobre as modalidades de sua entrada na Ucrânia.
Assim como vários países ocidentais, a Ucrânia suspeita que o comboio, que partiu na terça-feira de uma base militar próxima de Moscou, poderia ser uma espécie de 'cavalo de Troia' para uma eventual intervenção russa no leste do país.
Após anunciar inicialmente que impediria a entrada do comboio russo, Kiev finalmente propôs na quarta-feira que esta ajuda seja conduzida e distribuída pela Cruz Vermelha no reduto rebelde de Lugansk.
"Se a Ucrânia decidir bloquear a entrada desta ajuda, cairá em uma armadilha, e o resultado será o início de um grande conflito (com a Rússia). Então essa ajuda entrará em território ucraniano de maneira completamente diferente: com as supostas forças de manutenção da paz e uma escolta armada russa", justificou o vice-chefe da administração presidencial da Ucrânia, Valeri Tchaly.
Rússia não deve 'se desconectar'
O comboio russo, com mais de 1.800 toneladas de alimentos, medicamentos e geradores, chegou nesta quinta-feira à região de fronteira de Rostov (sul da Rússia), segundo um funcionário do ministério russo das Situações de Emergência.
Neste contexto de crise, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira que a Rússia "não deve se desconectar do resto do mundo", num momento em que as relações com o Ocidente estão tensas devido à crise com a Ucrânia.
"Temos que desenvolver nosso país tranquilamente, dignamente e de maneira eficaz, sem nos desconectarmos do resto do mundo, sem romper os vínculos com nossos sócios", declarou em Yalta, na Crimeia, península ucraniana anexada em março pela Rússia.
O número de vítimas no leste da Ucrânia dobrou em quinze dias, chegando a 2.086 mortos, segundo a ONU.