Para o ministro, o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, na quinta-feira passada, foi uma retaliação (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de novembro de 2017 às 09h22.
Última atualização em 1 de novembro de 2017 às 10h56.
Brasília e Rio - O ministro da Justiça, Torquato Jardim, acusou políticos e comandantes de batalhão de se associarem ao crime organizado no Rio e disse que "a milícia tomou conta do narcotráfico".
Torquato também afirmou que o governador fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, não têm controle sobre a Polícia Militar. Eles rebateram a declaração.
"Todo mundo sabe que o comando da PM no Rio é acertado com deputado estadual e o crime organizado", disse Torquato, em conversa com jornalistas, sem citar nomes de possíveis envolvidos. "Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio."
Para o ministro, o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, na quinta-feira passada, foi uma retaliação. Comandante do 3°Batalhão da Polícia Militar do Rio, Teixeira, de 48 anos, foi executado a tiros no Méier, na zona norte. Trata-se do 111.º policial morto neste ano no Estado.
"Nada me tira da cabeça que aquilo foi um acerto de contas", afirmou o ministro da Justiça. Na tentativa de comprovar sua suspeita, Torquato disse ter chamado a atenção sobre detalhes do crime em recente encontro com Pezão e Sá. "Ninguém assalta dando dezenas de tiros para cima de um coronel à paisana, num carro descaracterizado", argumentou Torquato. "O motorista era um sargento da confiança dele."
Teixeira, na realidade, vestia farda. Quem estava à paisana era o cabo Nei Filho, que dirigia o carro. A versão oficial, divulgada até agora, é a de que houve reação a uma tentativa de assalto iniciada por quatro pessoas. A polícia prendeu um suspeito de envolvimento no assassinato.
Torquato disse ter certeza de que a situação no Rio vai melhorar com o apoio do governo federal e uma "interface" com as Forças Armadas. "Podem me cobrar no fim de 2018", comentou. "Mas a virada da curva ficará para 2019, com outro presidente e outro governador. Com o atual governo do Rio não será possível. Já tivemos ali conversas duríssimas. Não tem comando."
No seu diagnóstico, a campanha eleitoral de 2018 será dominada por dois grandes temas: economia e segurança pública. "A segurança já passou a saúde", observou Torquato.
O governador e o secretário reagiram. Pezão afirmou, em nota, que o Estado e o comando da polícia "não negociam com criminosos", ressaltando que "o comandante da PM, coronel Wolney Dias, é um profissional íntegro". O governador destacou ainda que o ministro nunca procurou Pezão para tratar do assunto abordado.
O governador frisou também que as escolhas de comandos de batalhões e delegacias fluminenses são decisões técnicas e que jamais recebeu pedidos de deputados para tais cargos.
O secretário Sá disse que as declarações de Jardim causaram "indignação". "Roberto Sá refuta totalmente as interferências políticas, tendo colocado como premissa básica para assumir o cargo a total autonomia para a escolha dos comandados. Sá reafirma que o Comandante-geral possui autonomia para as escolhas de comandantes de batalhões, feitas por critérios técnicos", afirma a nota da pasta.
"A despeito de todas as crises pelas quais o Estado passa, incluindo a financeira, que afeta diretamente a remuneração dos agentes públicos, bem como qualquer investimento ou custeio, a Secretaria de Segurança, por meio do incessante trabalho das Polícias Civil e Militar, vem mantendo a produtividade em ações, bem como conseguindo reverter a tendência de aumento de alguns indicadores", acrescentou Sá.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.