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Com menos casos de covid-19 e 130 mil na fila, SP tenta acelerar cirurgias

Governos e hospitais se mobilizam para atender a demanda represada durante a pandemia

Novos horários: cinco hospitais de São Paulo (SP) passarão a trabalhar até 24 horas por dia em agosto (Bloomberg/Getty Images)

Novos horários: cinco hospitais de São Paulo (SP) passarão a trabalhar até 24 horas por dia em agosto (Bloomberg/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de julho de 2021 às 13h50.

Última atualização em 17 de julho de 2021 às 14h02.

Nas últimas semanas, o avanço da vacinação tem reduzido o número de pacientes da covid-19 no Brasil. Com isso, governos e hospitais se mobilizam para atender a demanda represada durante a pandemia: cirurgias eletivas (não urgentes), exames e consultas - adiadas para abrir espaço em unidades de saúde ou evitar contágio. Só na cidade de São Paulo, por exemplo, a fila de espera para cirurgias chegou a 130 mil.

O Brasil realizou 4.046.660 cirurgias, de diversos tipos, no ano passado - queda de 19% em relação aos 4.999.383 procedimentos de 2019. Para alguns casos, o recuo é ainda maior. Cirurgias de mama caíram 43% no período. Já as de pele ou aparelho digestivo baixaram, respectivamente, 39% e 34%.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou esta semana que cinco hospitais da capital passarão a trabalhar até 24 horas por dia a partir do dia 1º.

Com cerca de 10 mil novos pacientes na fila de espera a cada mês a rede de saúde chegou a suspender o agendamento de cirurgias eletivas por causa da sobrecarga causada pela covid. Após melhoras nos índices, os procedimentos na capital paulista começaram a ser retomados em novembro.

O ritmo no atendimento, no entanto, ainda é lento. Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam que, entre janeiro e maio, a capital realizou cerca de 6,8 mil cirurgias eletivas, além de 318,8 mil consultas e 216,7 mil exames - abaixo da demanda natural por mês da cidade. A Prefeitura não informou o tamanho da fila antes da pandemia.

Na rede de Hospitais Dia da Prefeitura, de janeiro a julho de 2019, foram realizados 8.707 procedimentos. Em 2020, no mesmo período, foram realizadas 3.365. Já neste ano, até maio, foram 6.784 cirurgias.

A Prefeitura promete investir R$ 4 milhões na contratação de equipamentos e profissionais de saúde para ampliar o número de procedimentos a partir do próximo mês. Os exames necessários para realizar as cirurgias foram iniciados nesta semana. Serão procedimentos diversos, como cirurgias vasculares, ginecológicas e pediátricas.

Para isso, a Prefeitura planeja manter cinco unidades da rede Hospitais Dia em atividade por 24 horas, a semana inteira. Essas unidades devem receber os procedimentos de maior complexidade, casos de idosos ou pessoas com doenças crônicas.

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto ampliou em 50% o total de cirurgias eletivas em relação ao que vinha realizando nos meses mais críticos da pandemia: subiu de 400 em maio para 600 em junho e, segundo a administração, o aumento será ainda maior nos próximos meses se mantida a queda da covid.

Em Campinas, a prefeitura informou que vai manter o Hospital Metropolitano exclusivo para atendimentos covid, mas iniciará a transformação dos demais leitos da rede municipal em não covid, conforme a queda no número de casos. "Será criada uma comissão com a participação de hospitais da cidade para começar a construir uma política para o enfrentamento de outras patologias e cirurgias que ficaram reprimidas durante a pandemia", disse, em nota.

Em Mogi das Cruzes, a Santa Casa de Misericórdia já retomou as cirurgias de oftalmologia (catarata), mas o Hospital Municipal continua funcionando exclusivamente para covid-19 e não há previsão de retomar casos eletivos. Em junho a cidade, tinha 1,6 mil pacientes na fila por cirurgias do tipo. No 1.º trimestre de 2020, Mogi fez 1.049 cirurgias eletivas. No mesmo período deste ano, foram apenas 45. A prefeitura informou que faz o encaminhamento aos hospitais por meio da central de regulação de leitos.

A auxiliar de expedição Michele Almeida, de 46 anos, aguarda há um ano e meio na fila de espera por uma cirurgia para remover os ovários. Ela sofre de endometriose profunda e chegou a passar por alguns exames preparatórios em Mogi. "Já estava me preparando para ser operada, mas foi tudo cancelado. Como continuo com muitas dores, estou fazendo terapia e tomando remédio, esperando a remarcação da cirurgia. Tem dia que não consigo andar direito, por causa da dor", conta.

Outros Estados. Em alguns casos, o adiamento da cirurgia pode trazer danos ainda mais graves. Há quatro meses, o comerciante mineiro Pedro Mordente Júnior começou a perder o movimento dos braços. Depois, das pernas. Por três vezes entre março e maio, os médicos chegaram a marcar a cirurgia na coluna, mas, sempre na véspera, o procedimento era cancelado.

Não havia leitos de UTI. Todos estavam ocupados com pacientes graves da covid. As dores iam aumentando e o desespero também. "Cheguei a cair várias vezes", conta ele.

Há 40 dias, e seis meses depois do diagnóstico de calcificação na coluna, ele conseguiu ser operado via plano de saúde. Como o quadro foi se agravando, a cirurgia foi complicada. Começou a ser feita pelo pescoço, não deu certo, foi interrompida e retomada dias depois. E ele não foi para a terapia intensiva, como seria recomendado.

Hoje com ocupação de UTIs no patamar de 60%, o governo de Minas prevê acelerar as cirurgias pagando o dobro do valor de remuneração a hospitais por alguns procedimentos. O Estado quer chegar, ao fim de 2022, com menos fila de cirurgias do que tinha antes da pandemia. Segundo o Estado, em 2019, foram feitas 185 mil operações. Já em 2020, com restrições impostas, foram realizadas 97 mil. Em 2021, foram 26.935 até maio.

A Bahia também prevê retomar cirurgias eletivas nas próximas semanas. O secretário da Saúde, Fábio Vilas-Boas disse ao Estadão que a fila de espera é de 50 mil - o total pode chegar a 70 mil se contar casos de maior complexidade. A previsão é de que a situação seja controlada até o fim do ano e são previstos pequenos mutirões.

A decisão foi tomada após a ocupação cair para 59% nas UTIs - a menor desde março. Segundo o secretário, as unidades devem manter o uso racional de medicamentos, como sedativos, diante da escassez no mercado.

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