Henrique Meirelles: grau de confiança na capacidade de crescimento do pré-candidato tem diminuído no partido (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 6 de julho de 2018 às 16h14.
Brasília - O MDB anunciou com pompa, no final de maio, a pré-candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência, mas a menos de um mês da data limite para as convenções partidárias o partido não sabe ainda que rumo tomar e nem mesmo se a propagada ideia de finalmente ter um candidato próprio pela primeira vez em 24 anos irá se confirmar.
Fontes ouvidas pela Reuters confirmam que a ideia de ter um candidato que defendesse o partido entusiasmou inicialmente os emedebistas --especialmente um que pagaria por sua própria campanha--, mas a estagnação de Meirelles em 1 por cento das intenções de voto esfriou os ânimos.
"Hoje se fosse para votação na convenção não aprovava (a candidatura)", disse à Reuters uma fonte próxima à cúpula do partido.
Isso explica por que quando esta semana, na última reunião da Executiva, o ex-deputado João Henrique Sousa, coordenador político de Meirelles, propôs 31 de julho como data para a convenção que confirmaria --ou não-- a candidatura, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), desconversou. Até agora, o partido não anunciou quando pretende fazer sua convenção.
"Não tem consenso hoje sobre o que fazer. A cúpula está tentando construir um acordo, mas o partido está perdidinho", disse uma fonte próxima ao ministro.
Meirelles tem gastado seus dias em encontros com as regionais dos partidos. Já passou por boa parte do Nordeste e Centro-Oeste e alguns Estados do Norte do país para se apresentar às lideranças regionais e convencê-las de que tem chances de crescer.
"Em alguns casos, a ideia do candidato a deputado, a governador, de que ele vai poder dizer para o eleitor votar 15 (número do MDB) de cima a baixo, pega bem, eles gostam", conta a fonte próxima ao ministro, mas sem mostrar muito entusiasmo com o resultado.
Na mesma reunião, Jucá fez um apelo para que os presentes apoiassem a candidatura de Meirelles. O senador tenta costurar um acordo para levar a candidatura à convenção sem risco de um resultado negativo.
Um dos entusiastas de primeira hora da candidatura de Meirelles, Jucá tem dito em conversas com aliados que o cenário eleitoral segue muito indefinido e que o pré-candidato do partido vai fazer o enfrentamento na linha de ser o "radical de centro". Considera, ainda, que Meirelles tem muito espaço na mídia e vai crescer assim que for oficializado candidato.
O grau de confiança nessa capacidade de crescimento, no entanto, tem diminuído no partido. Inicialmente, os entusiastas de Meirelles defendiam que ele seria candidato se alcançasse cerca de 10 pontos percentuais. Depois, já se falava em 5 por cento.
Agora, a avaliação é que basta ele fazer um "movimento de crescimento", subindo dos estacionados 1 ponto para 2 a 3 por cento. As expectativas, no entanto, não são muito otimistas.
"Não vai acontecer. Não tem nenhum sinal disso", admite uma das fontes.
O presidente do Solidariedade, um dos partidos do chamado blocão de partidos do centro, deputado Paulinho da Força), vai na mesma linha e avalia que a candidatura do ex-ministro da Fazenda não tem chances de prosperar.
"Nenhuma, ele está ligado ao governo e o governo vai ser o grande derrotado desta eleição", disse Paulinho. "Colou no governo, morreu."
O Solidariedade é um dos partidos do blocão que se afastaram politicamente do governo e tende a apoiar nas eleições de outubro a candidatura de centro-esquerda do ex-ministro Ciro Gomes, do PDT.
Na campanha de Meirelles, a avaliação, segundo uma fonte, é que o ministro luta não apenas com seus próprios problemas, como o desconhecimento do eleitor e a própria falta de carisma, mas contra o governo do presidente Michel Temer. Pela primeira vez na história recente, ser o candidato do governo é um enorme problema, e não uma ajuda.
Com rejeição de mais de 80 por cento, o governo Temer é uma das fragilidades da candidatura de Meirelles. No entanto, quando o ministro tentou se distanciar ao dizer que não era "candidato do mercado, candidato do governo ou candidato de Brasília", ouviu reclamações.
Ainda assim, o ministro tenta se manter distante do presidente em si e concentra sua defesa do governo na parte econômica e seu trabalho no Ministério da Fazenda. Mais que isso, tenta lembrar aos eleitores que era o presidente do Banco Central no governo de Luiz Inácio Lula da Silva --que, mesmo preso ainda é o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais-- e avoca para si, sem pudores, todo o sucesso econômico do governo do petista.
Dentro do Planalto, com defesa ou não de Temer, a posição majoritária, inclusive do presidente, é de manter a candidatura do ex-ministro.
"O MDB perdeu uma feição nacional por não ter candidaturas nacionais. Precisamos de alguém para defender o projeto, mostrar as ideias do partido, dar uma cara nacional ao MDB", disse uma fonte.
A crítica é que o partido se transformou em um aglomerado de feudos regionais que vão de Renan Calheiros, em Alagoas, opositor de Temer e aliado de primeira hora do PT de Lula, a quem defenda alianças com o tucano Geraldo Alckmin ou faça acordos informais com Ciro Gomes (PDT), como o presidente do Senado, Eunício Oliveira, candidato ao Senado no Ceará, base eleitoral do pedetista. Um candidatura ajudaria a dar uma feição nacional ao partido, mesmo com todas as divisões internas.
No entanto, não há consenso sobre o caminho do partido. A avaliação de uma fonte da cúpula partidária é que, se Meirelles não for o nome do partido, o MDB vai ficar independente no primeiro turno e não vai se aliar a candidaturas ou projetos eleitorais do DEM ou do PSDB.
"O MDB está preparado para ganhar com Meirelles ou ser uma força independente", disse uma fonte da cúpula da legenda.
Já um tradicional senador do MDB defende que o melhor para a legenda seria desistir da candidatura de Meirelles e buscar uma composição com o tucano Geraldo Alckmin. "Deveríamos andar com ele", disse esse cacique partidário.
Essa aliança, no entanto, é hoje bastante improvável. Duas fontes disseram à Reuters que não há espaço para isso, por razões diferentes. Uma, palaciana, diz que o governo não quer, já que Alckmin se afastou de Temer e faz críticas duras ao governo. Outra, ligada à campanha de Meirelles, afirma que até existe uma ala tucana que gostaria da aliança, mas Alckmin veta qualquer conversa.