Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, tenta evitar uma debandada de aliados do Centrão (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de setembro de 2018 às 12h56.
Última atualização em 18 de setembro de 2018 às 13h02.
Brasília e São Paulo - A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, tenta evitar uma debandada de aliados e quer reforçar a visibilidade do tucano em São Paulo nas três semanas que restam antes do primeiro turno. Ainda sem contar com o engajamento dos partidos do Centrão, Alckmin pretende investir no próprio quintal para evitar o triunfo do voto casado no candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e no nome tucano para o Palácio dos Bandeirantes, João Doria. A ideia é impedir a consolidação do chamado voto "bolsodoria" no maior colégio eleitoral do País.
Apesar de ter o maior tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, Alckmin continua estagnado nas pesquisas. Oficialmente, integrantes do bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade pedem mudanças no tom da campanha, mas, nos bastidores, já procuram candidatos que consideram mais viáveis para o segundo turno.
Os líderes do Centrão foram convocados pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), coordenador político da campanha, para uma reunião de emergência nesta terça-feira, 18, na capital paulista. Porém, já há sinais de abandono na aliança tucana. O coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio (PSL-SP), disse nesta segunda-feira, 18, que líderes do Centrão estão se aproximando do presidenciável do PSL.
No Solidariedade, partido ligado à Força Sindical, a preferência é pelo candidato do PDT, Ciro Gomes. Já o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que concorre à reeleição, não esconde o apoio ao PT. Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no páreo por causa da Lei da Ficha Limpa, o senador pretende se juntar à campanha do petista Fernando Haddad. Alega, para tanto, questões regionais.
Um dos integrantes do bloco disse ao jornal que, na prática, não há como desfazer a coligação com Alckmin. Mas observou que, mesmo nas fileiras do PSDB, o tucano está sendo "cristianizado", termo usado na política para se referir a candidato abandonado por seus pares.
Embora considere "dificílima" a hipótese de o tucano deslanchar, a maior parte do Centrão acha que é preciso concentrar o ataque em Bolsonaro e pregar o voto útil com mais vigor, deixando a artilharia pesada contra Haddad para o final. Há, no entanto, quem defenda críticas já ao petista.
Na avaliação de integrantes do bloco ouvidos pelo Estado, além de desconstruir Bolsonaro, o ex-governador de São Paulo precisa destacar os riscos da volta do PT ao poder e se descolar do presidente Michel Temer, bastante impopular.
Em outra frente, a campanha vai tentar promover uma aproximação entre o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, e Doria. "Esse litígio entre o Doria e o França nos prejudica muito. Um dos nossos esforços será para reduzir as agressões entre eles e para que a campanha do Geraldo esteja mais presente em São Paulo", disse o ex-secretário de Energia de São Paulo João Carlos Meirelles, conselheiro próximo de Alckmin.
Até o momento, as campanhas de França e Doria têm ignorado Alckmin na propaganda de rádio e TV. O ex-prefeito tem feito agendas pontuais com o ex-governador, mas sua campanha adotou um discurso com forte enfoque na segurança pública para atrair o eleitorado de Bolsonaro. Doria também tem poupado Bolsonaro em entrevistas e sabatinas.
No comercial exibido nesta segunda-feira, o ex-prefeito defendeu a redução da maioridade penal e "leis mais duras", além de blindar veículos da Polícia Militar. Na mais recente pesquisa Ibope sobre o cenário em São Paulo, Bolsonaro e Alckmin aparecem, em empate técnico na primeira colocação, com 23% e 18%, respectivamente, no limite da margem de erro.
No campo da estratégia, a avaliação da campanha de Alckmin é de que uma vaga no segundo turno será de Haddad e que é inevitável manter o foco em Bolsonaro. "A nossa percepção é que Haddad vai para o segundo turno. Já o voto em Bolsonaro não está cristalizado. É na última semana que isso ocorre", disse Meirelles.
Em Pernambuco, o PSDB compõe a aliança do senador e candidato ao governo Armando Monteiro (PTB), principal chapa de oposição ao governador Paulo Câmara (PSB), mas o petebista declarou voto em Luiz Inácio Lula da Silva, quando o ex-presidente, preso e condenado na Lava Jato, ainda figurava como presidenciável do PT - ele teve a candidatura indeferida e foi substituído por Fernando Haddad.
Monteiro reúne em sua chapa os deputados Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM), ambos de partidos que compõem o Centrão.
O coordenador da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado, Joaquim Neto reconhece que falta apoio dos candidatos coligados ao partido para fazer campanha para o presidenciável tucano em nível regional. Ele atribui o movimento para "esconder Alckmin" à força do lulismo no Estado. "Por causa de Lula, o PT tem 60% das intenções de voto, o cara não quer atrelar o nome dele a nossa campanha. É uma luta desigual, mas no segundo turno todo mundo vai querer nos apoiar", disse.
No Rio Grande do Sul, a candidatura do presidenciável tucano enfrenta um racha no PP, partido de Ana Amélia, e que integra a chapa como candidata a vice-presidente. O candidato ao Senado pela sigla, deputado federal Luis Carlos Heinze, anunciou que irá apoiar o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Heinze também afirmou que não subirá em palanques com Alckmin e que usará seu tempo de TV para apresentar seu voto e fazer campanha para Bolsonaro.
O tucano, no entanto, recebe apoio explícito dos candidatos aos governos do Paraná, Bahia e Minas. Na Bahia, o material de campanha do candidato ao governo José Ronaldo (DEM), cuja candidatura é coordenada por ACM Neto, um dos principais articuladores da aliança do tucano com o Centrão, tem utilizado com destaque a imagem do presidenciável tucano. Ronaldo tem 8% das intenções de votos, segundo pesquisa Ibope publicada em agosto.