FOTO DE ARQUIVO: Comando Vermelho fez uma ameaça em vídeo à procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez (Alan Lima/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de novembro de 2018 às 08h58.
Última atualização em 9 de novembro de 2018 às 08h59.
Assunção - A facção carioca Comando Vermelho (CV) fez uma ameaça em vídeo à procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez, forçando o Ministério do Interior a montar uma operação para protegê-la. O grupo criminoso está com o seu líder, Marcelo Pinheiro Veiga, conhecido como Piloto, preso no país desde dezembro. Ao longo dos últimos anos, o CV tem tentado expandir a sua atuação no país vizinho, disputando com o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de traficantes locais, rotas importantes para o comércio de armas e cocaína no continente.
A existência do vídeo foi divulgada pelo Ministério do Interior paraguaio. O governo reforçou a segurança da procuradora enquanto investiga a origem das imagens. As facções brasileiras têm conseguido ganhar força em territórios vizinhos. Além do Paraguai, a forte presença dos grupos é também notada na Bolívia, e em menor grau, na Colômbia, no Peru e na Guiana.
Na gravação, em que falam português, cinco homens aparecem encapuzados e armados enquanto um deles segura uma fotografia de Sandra. "Temos um recadinho para você. Hoje aqui no Paraguai, nosso objetivo é você. Então, presta bem atenção que o papo é reto: muita gente não está gostando da pilantragem que você está fazendo com o sistema. Como você está vendo, sua cabeça já está a prêmio. Não viemos para pagar comédia. Caso nossa equipe não conclua a missão, outras equipes vão concluir, entendeu?".
Outro homem do grupo continua: "Pode abandonar seu cargo que a gente vai atrás de você igual. Você já é o nosso troféu. Estamos atrás de você, doutora. Fica ligeira. Estamos te procurando e a gente vai te achar". Na sequência, os criminosos engatilham as armas.
O governo paraguaio acredita que pelo menos três dos bandidos que aparecem na gravação tenham sido mortos durante uma operação realizada no fim de outubro; outros dois permanecem sendo procurados.
Em uma casa na cidade de Presidente Franco, a 300 quilômetros de Assunção e na Tríplice Fronteira, uma cópia do vídeo foi achada. No mesmo local, as autoridades localizaram um carro-bomba, que seria usado para resgatar Marcelo Piloto, hoje preso no Agrupamento Especializado da Polícia, na capital. O veículo foi detonado de forma controlada pela polícia.
A divulgação do vídeo ocorreu um dia depois de Piloto ter concedido uma entrevista, de dentro da prisão, à imprensa paraguaia, em que nega a acusação de terrorismo, imposta a ele pelas autoridades policiais. "Não estou dizendo que sou inocente. Mas não sou terrorista, nunca fui. Jogaram coisas em cima de mim que não são verdadeiras", alegou.
"Todo mundo sabe que me dedico ao comércio de armas e drogas. Compro aqui em Assunção e vendo em Ciudad del Este, Pedro Juan Caballero, em Salto del Guairá. Compro e vendo", acrescentou, de acordo com jornais paraguaios.
Ele foi preso em dezembro passado em Encarnación após uma operação que mobilizou agências antidrogas do Paraguai, Brasil e Estados Unidos. O governo brasileiro busca a sua extradição, que está sob análise da Justiça do país vizinho.
Na entrevista, Piloto disse ainda que pagava muito dinheiro para que um comissário da Polícia Nacional o protegesse de investigações no Brasil. O ministério ordenou uma apuração após essa declaração.
Nesta quinta-feira, 8, ao jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério da Segurança Pública do Brasil disse não ter sido comunicado pelo Paraguai sobre o vídeo.
Após voltar de viagem, o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez afirmou que tinha conhecimento da gravação "há tempos". A própria procuradora-geral disse que há semanas soube da ameaça. "Fui convocada pelo ministério e advertida para tomar todas as precauções quanto a minha segurança." Sandra recebeu também o apoio do embaixador americano no Paraguai, Lee McClenny.
De acordo com Sandra, o vídeo não havia sido divulgado antes pois causaria "impacto de terror". Ela revelou que, além dela, outros promotores que atuam contra o narcotráfico foram ameaçados, mas não deu detalhes. (Com agências internacionais, colaboração de Bruno Ribeiro)