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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2012 às 17h10.
Brasília - A cada novo réu condenado pelo relator Joaquim Barbosa da ação penal do chamado mensalão --já foram 26 até agora--, cresce a popularidade do ministro, eleito para presidir o Supremo Tribunal Federal (STF) por dois anos, a partir de novembro.
Cumprimentado nas ruas pela rigidez com que vem condenando políticos, ex-ocupantes de cargos públicos e empresários pelo envolvimento em um esquema de compra de apoio político ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, Barbosa, 57 anos, é comparado ao super-herói Batman, pela capa preta dos ministros do STF, ou ao Super-Homem. Perguntado sobre a súbita fama de justiceiro, ele ri.
"Não tem nada disso", disse ele à Reuters, ao deixar mais uma sessão do mensalão.
Antes da redenção da popularidade trazida pelo mensalão, o ministro indicado por Lula em 2003 para o STF era criticado por seu gênio forte e pelas reações intempestivas demais para a Corte, que lhe renderam discussões públicas com colegas, e voltaram a se repetir durante o julgamento.
Ficaram famosas as discussões com Gilmar Mendes, acusado pelo colega de "estar destruindo a credibilidade da Justiça Brasileira", e com Cezar Peluso, a quem Barbosa chamou de "desleal", "caipira" e "tirano".
Pela fama de destemperado, que pessoas próximas atribuem ao preconceito da imprensa e até de seus pares, Barbosa desconfia e critica abertamente alguns jornais. Chegou a dizer que havia o risco de um movimento para não elegê-lo presidente da Corte --ele assume por ser o mais antigo membro que ainda não ocupou o posto.
"Quando, na história deste país, um membro do Supremo veio a público colocar em xeque a capacidade de um colega de presidir a Corte?", pergunta uma pessoa próxima de Barbosa, referindo-se às recentes críticas públicas do ministro Marco Aurélio, que afirmou estar preocupado com a presidência de um colega que age como "metal entre os cristais".
"A presidência traz serenidade", disse à Reuters outro colega da Corte, apostando que Barbosa irá arrefecer seu lado intempestivo no comando do STF.
Barbosa ouve até hoje que sua indicação ao Supremo se deveu apenas ao fato de Lula querer um ministro negro --asserção que rebate com um currículo farto para o posto. Formado em direito na UnB, fez doutorado na França e estudos complementares nos Estados Unidos, foi professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e procurador da República.
Além de inglês e francês, aprendeu alemão --"porque era barato", afirma-- e atualmente se dedica ao espanhol. Quando não está em Brasília, por causa do STF, mora no Rio, onde vive seu único filho. Trabalha pelo menos 12 horas diárias, poupando-se apenas nos dias em que precisa ler seus votos em plenário.
Saúde e presidência - Filho de pedreiro, nascido em Paracatu (MG), Barbosa chegou a Brasília no início dos anos 70 para estudar e buscar emprego.
"Ele começou na gráfica do Senado, dizem que era dos mais esforçados. Olha onde chegou", comenta um segurança do STF, que não esconde a admiração pelo ministro.
Barbosa também foi oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores e chegou a servir na embaixada de Helsinque, na Finlândia.
Dos tempos em que morava em Paracatu, gosta de lembrar que jogava futebol no melhor time da cidade, como atacante. O esporte e outras atividades tiveram que ficar para trás com o agravamento de uma sacroileíte, inflamação na base da coluna que o obriga a trocar com frequencia de cadeira e passar parte dos julgamentos em pé.
Os problemas de saúde aumentaram nos últimos meses os boatos de que Joaquim não completaria os dois anos na presidência da Corte, ou se aposentaria logo depois de cumprir seu tempo à frente do STF. Ou ainda, que abriria mão de presidir o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tarefa acumulada pelo presidente do Supremo.
Com a notoriedade das últimas semanas, teve início nas redes sociais a campanha "Joaquim Barbosa presidente". Não do STF, mas da República. Perguntado, ele ri novamente.
"E eu lá tenho o 'physique du rôle' (perfil) para isso?", diz ele, usando uma das inúmeras expressões estrangeiras que tem por hábito empregar nas conversas e nos votos.