Pessoa usa máscara de proteção no metrô Sumaré, em São Paulo. (Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de maio de 2020 às 11h43.
Última atualização em 16 de maio de 2020 às 12h07.
Os pátios do metrô de São Paulo estão cheios de trens parados em horários de pico, momentos do dia em que as estações estão com mais pessoas aglomeradas. A empresa admite ter paralisado uma de cada quatro composições da frota e argumenta que teve de fazer isso por causa da falta de pessoal, em decorrência do novo coronavírus. O governo do Estado descarta a possibilidade de fazer novas contratações.
A lotação das estações virou motivo de disputa entre governo e Prefeitura desde que a cidade criou um rodízio mais restritivo de veículos, na semana passada, para tentar aumentar o número de pessoas em casa. Segundo o governo do Estado, a medida aumentou o fluxo de pessoas nas estações, em média, em 12% - de 850 mil passageiros por dia para 955 mil.
No horário de pico, entretanto, comparando a semana anterior ao novo rodízio com a semana após a restrição, essa diferença foi de 4,5%, de 470 mil para 492 mil nos horários de pico.
Com menos trens em operação, o headway, intervalo entre cada composição, fica maior, causando a lotação. Com um cronômetro, o "Estadão" verificou o tempo de espera nas três principais linhas da rede, 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. A espera chega a ser 50% maior do que na comparação com o headway que era praticado antes da pandemia (que está registrado no Portal da Transparência do Metrô).
"Está muito lotado e me sinto insegura todos os dias. Tanto no trem (da CPTM) quanto no metrô", diz a cuidadora de idosos Rosane Cruz, de 40 anos. Ela trabalha a cada dois dias e leva uma hora e meia no trajeto de Santo André ao Butantã, na zona oeste. "Parece que querem que a gente morra."
Já a coordenadora de recursos humanos Natália Melati, de 34 anos, minimiza o risco. "Não me sinto insegura", disse ela, que tem carro mas, mesmo antes do novo rodízio, já usava o transporte público.
Dados da própria companhia mostram que a espera pelos trens já foi maior a partir de março, primeiro mês da crise. Comparando o mês com março de 2019, o intervalo entre trens cresceu de 118 para 147 segundos na Linha 1, de 129 para 187 segundos na Linha 2 e de 118 para 136 segundos na Linha 3.
O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, responsável pelo Metrô e pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), diz que a redução da frota em 25% ocorre por ausência de efetivo, pois "37% dos funcionários estão afastados". Entre eles, há idosos, servidores com comorbidades e até casos suspeitos de coronavírus.
Baldy não cogita repor essa mão de obra nem com contratações temporárias. "A gente, em caso de necessidade, pode até contratar. Só que, no ano passado, desligamos muita gente. Precisamos ajustar a empresa, como estamos ajustando", afirmou, ao lembrar que é promessa do governo João Doria (PSDB) não realizar concursos para a empresa.
Baldy diz que 75% dos passageiros transportados na rede se concentram nos horário de pico. "Temos uma demanda de domingo. Aos domingos, usamos 18 trens e não tem aglomeração." Agora, são usados 30 dos 41 trens disponíveis na Linha 3-Vermelha, a que tem maior fluxo.
Baldy defende que a Prefeitura estabeleça mais restrições, escalonando horários de funcionamento do comércio que ainda está aberto, como supermercados e farmácias, de forma a evitar a aglomeração.
Essa recomendação já foi adotada pela Prefeitura, que em abril publicou decreto estipulando horários de funcionamento para 60 atividades. O decreto municipal recomendava trocas de turno antes das 6 horas e depois das 11 horas para evitar aglomerações em transporte, mas a medida tem caráter educativo.
Metroviários ouvidos pelo "Estadão" argumentam ainda que, com a demanda na casa dos 850 mil passageiros por dia (ante a média de quase 4 milhões antes da pandemia), o Metrô teria problemas de arrecadação, e não teria condições de manter toda a frota operando.
Baldy reconhece o problema de receita, que caiu 75%, e diz que não há como economizar nos custos de operação. "A conta de energia do Metrô não é como a de casa."
Segundo especialistas, o transporte público é o segundo principal local de transmissão de uma doença como a covid-19 - perde apenas para os hospitais. "Qualquer gasto em transporte tem de ser visto como investimento. Ele evita a propagação de doenças, e é mais barato do que montar UTIs", disse Edimilson Migowski, doutor em infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O professor afirma que o distanciamento deveria ser assegurado no transporte, e cita ações como limpeza das mãos, além do uso da máscara (que já é obrigatório). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.