Bolsonaro e Salles: Na reunião que comandou ontem no Palácio do Planalto, o presidente fez questão de prestigiar o ministro (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Clara Cerioni
Publicado em 24 de agosto de 2019 às 10h47.
Última atualização em 24 de agosto de 2019 às 10h54.
Brasília — Os ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se reúnem na manhã neste sábado (24), com os integrantes do Centro de Operações Conjuntas, para discutir a implementação de medidas para conter as queimadas na floresta amazônica.
Também estarão reunidos o chefe do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas, tenente-brigadeiro do Ar Raul Botelho, e o diretor-geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, major-brigadeiro do Ar R1 José Hugo Volkmer. Depois do encontro, haverá uma coletiva de imprensa.
Sob pressão internacional, o presidente Jair Bolsonaro decidiu na sexta-feira (23) enviar o Exército para combater o fogo na Amazônia e contra o desmatamento ilegal, a pedido de governadores.
No segundo dia de reuniões com a força-tarefa que o governo montou para contornar a crise ambiental, Bolsonaro autorizou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), usada em situações excepcionais, como na crise de segurança do Rio.
A primeira ação ocorreu ontem, com o envio de duas aeronaves modelo C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira, a Porto Velho, em Rondônia. Eles serão usados para despejar produtos que ajudem a apagar o fogo.
O Ministério da Defesa aguarda a liberação de R$ 20 milhões que estavam contingenciados no Orçamento deste ano para ampliar a ajuda.
A coletiva de imprensa, marcada para as 11h, servirá para os ministros falarem das ações que estão sendo e serão tomadas.
Em pronunciamento na televisão, na noite da sexta-feira, o presidente defendeu tolerância zero para crimes ambientais, mas manteve a retórica de que as críticas são ataques à soberania nacional. Segundo Bolsonaro, os incêndios florestais não podem ser pretexto para sanções internacionais.
A declaração foi uma resposta a ameaças de França e Irlanda de bloquear o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Os países devem discutir a crise ambiental brasileira em reunião do G-7 que ocorre no balneário francês de Biarritz a partir de hoje. Contra a ofensiva, Bolsonaro recebeu apoio ontem de Japão, Espanha e, sobretudo, do presidente americano Donald Trump.
No pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e TV, Bolsonaro ainda justificou a medida com a necessidade de se reforçar a fiscalização na região. "Este é um governo de tolerância zero com criminalidade. E nesta área não será diferente", disse.
Na reunião que comandou ontem no Palácio do Planalto, o presidente fez questão de prestigiar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "Não teria melhor ministro aqui cuidando disso", afirmou o presidente segundo pessoas presentes ao encontro em que foram discutidas medidas de combate aos incêndios na Amazônia.
Bolsonaro elogiou a atuação do auxiliar, alvo de críticas de ambientalistas, e sua disposição em reagir às declarações contra o Brasil. E ironizou: "Queria ver se fosse aqui a Marina Silva ou o Zequinha Sarney para resolver este pepino. Imagina se eles estivessem na mesma situação", disse o presidente, rindo, e comemorando o perfil combativo de Salles.
Marina foi ministra do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto Zequinha comandou a pasta na gestão de Michel Temer.
Ainda segundo relatos, ao ser informado durante a reunião que as queimadas estavam concentradas no sul do Pará, no norte de Mato Grosso e em Rondônia, admitiu que a situação "é grave".
"Temos de atuar, mas a Amazônia não está em chamas como estão dizendo", afirmou, de acordo com os interlocutores.
Nos relatos apresentados a Bolsonaro, com base em fotos de satélite e outras informações repassadas ao governo, não há focos de incêndio na parte norte da Amazônia. Na avaliação dos presentes, os eventos são semelhantes aos ocorridos em anos anteriores.
Também foi apresentado ao presidente depoimentos, em vídeo, de apoiadores que corroboram a afirmação de que, apesar de as queimadas existirem, não são maiores do que as que ocorreram em anos anteriores.
Em alguns momentos, de acordo com presentes, o presidente mostrou irritação com os ataques de autoridades de outras países - particularmente da França, Alemanha e Canadá.
Uma das discussões na reunião foi o horário do pronunciamento, que foi ao ar às 20h30. Houve quem defendesse que fosse antecipado, para 20h, e que não haveria mais a necessidade de que ocorresse no "horário do Jornal Nacional", o principal telejornal da TV Globo, como tradicionalmente ocorre.
O horário original, porém, foi mantido. Bolsonaro deixou a reunião dizendo que iria "arrumar o cabelo" porque ia aparecer na televisão.