Plenário do Senado Federal (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)
Alessandra Azevedo
Publicado em 11 de abril de 2022 às 12h31.
Três dos 27 senadores que haviam assinado o requerimento para que o Senado instalasse uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades no repasse de verbas do Ministério da Educação retiraram as assinaturas nos últimos dias. Para abrir uma CPI, é necessário o apoio de pelo menos 27 senadores. O pedido, portanto, pode ser engavetado, a não ser que a oposição consiga três novas assinaturas.
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Os senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Weverton (PDT-MA) mudaram os posicionamentos e retiraram o apoio. Em nota, Oriovisto disse que continua acreditando que existem "fatos graves no MEC que precisam ser investigados", mas não pelos senadores.
"Uma CPI tão próxima das eleições acabará em palanque eleitoral", disse Oriovisto. "Então, é melhor que a investigação seja feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Assim, teremos uma investigação imparcial e técnica", defendeu, no Twitter. Os senadores Styvenson Valentim e Weverton não se manifestaram publicamente sobre o assunto.
— Senador Oriovisto Guimarães (@Sen_Oriovisto) April 9, 2022
Na sexta-feira, 8, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, anunciou ter conseguido a 27ª assinatura, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Ele se juntou a senadores de vários partidos, do PT ao Podemos, que defendem a investigação.
Com o número mínimo exigido pelo regimento, a CPI poderia ser instalada em poucos dias. Faltava apenas a avaliação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre a existência de fato determinado para as investigações e de orçamento, além da leitura do requerimento no plenário.
Segundo a oposição, o governo, desde sexta-feira, fez o possível para reverter assinaturas. Senadores governistas avaliam que seria prejudicial ao presidente Jair Bolsonaro a abertura de uma CPI que mira o MEC em pleno ano eleitoral.
Os senadores que mantêm as assinaturas querem investigar a existência de uma espécie de gabinete paralelo na pasta, que tratava de repasses de verbas a municípios sem ter legitimidade para isso e em troca de propina.
Dois pastores sem cargos no MEC, Gilmar Silva e Arilton Moura, são suspeitos de negociar com prefeitos a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Em áudio divulgado depois pelo jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro diz que repassava recursos para municípios indicados pelos dois pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Ribeiro pediu exoneração do cargo pouco depois do áudio vir à tona.
Para Randolfe, as denúncias são "gravíssimas" e exigem apuração. "Cabe ao Senado Federal cumprir o seu dever de monitoramento e fiscalização e apurar as irregularidades e crimes praticados na destinação das verbas do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)", escreveu Randolfe no requerimento de abertura da CPI.
A Comissão de Educação do Senado tem feito audiências para ouvir pessoas envolvidas no caso. Na semana passada, três prefeitos confirmaram a cobrança de propina por parte dos pastores.