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Com Bolsonaro, Brasil gera expectativas no mercado internacional de armas

Perspectivas positivas tropeçaram em normas, subsídios e benefícios fiscais que protegem os fabricantes locais

Jair Bolsonaro: presidente flexibilizou a posse e afirmou que pretende ampliar o porte de armas durante o seu governo (Reprodução Jair Bolsonaro/Instagram)

Jair Bolsonaro: presidente flexibilizou a posse e afirmou que pretende ampliar o porte de armas durante o seu governo (Reprodução Jair Bolsonaro/Instagram)

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AFP

Publicado em 4 de abril de 2019 às 10h52.

Há tempos, os fabricantes de armas estão de olho no Brasil e após a eleição de Jair Bolsonaro, as apostas dobraram em um país onde carências no combate à criminalidade e o grande contingente nas forças armadas antecipam bons negócios.

O capitão do Exército na reserva, que assumiu a Presidência em janeiro, já flexibilizou a posse de armas para os "cidadãos de bem" e pretende autorizar o porte. Também ameaça suspender as restrições aos investimentos estrangeiros no setor da defesa e da segurança, avaliado em 200 bilhões de reais ao ano, segundo dados oficiais.

"Durante muitos e muitos anos, nada mudou aqui para nós e agora realmente há esperança e otimismo de que isto vai mudar no futuro próximo", declarou à AFP Martin Neujahr, da empresa suíça RUAG Ammotec, ao lado de um estande expondo projéteis de alta precisão no Salão de Defesa e Segurança, celebrado no Rio de Janeiro.

As forças policiais brasileiras, assegura Neujahr, demonstram um interesse particular em "produtos especializados", como os projéteis subsônicos para snipers, que dificultam a localização do atirador.

Cerca de 450 empresas brasileiras e estrangeiras expõem seus produtos - de metralhadoras e lança-granadas à tecnologia de detecção de alvos e drones de vigilância - no salão de armas LAAD (Latin American Defense and Security), o maior da região.

A inauguração do evento, na terça-feira, contou com a presença do vice-presidente, Hamilton Mourão; do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e do prefeito do Rio, Marcelo Crivella.

Também esteve presente o governador Wilson Witzel, que na semana passada admitiu que a Polícia usa franco-atiradores para matar suspeitos armados em áreas controladas por traficantes de drogas.

"Desde a eleição do presidente, ele tem defendido uma abertura contínua do mercado ao investimento estrangeiro", disse Robert Muggah, diretor de pesquisas do centro de estudos Instituto Igarapé, no Rio.

"Mas as forças armadas têm se mostrado mais relutantes e defendem a importância estratégica dos grandes grupos nacionais", acrescentou, em alusão ao fabricante de armas Taurus ou de munições CBC, que dominam seus mercados.

O interesse dos fabricantes estrangeiros não surpreendeu. A demanda é grande em um país que sofre com uma violência endêmica e com mais de 1,6 milhão de efetivos nas forças de segurança, segundo o portal Global Firepower.

Mas essas expectativas tropeçaram sempre em normas, subsídios e benefícios fiscais que protegem os fabricantes locais.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse no começo do ano que o governo analisa como abrir o setor.

Os presentes no salão, entre eles policiais e membros de clubes de tiro, se mostraram entusiasmados sobre a possibilidade de comprar armas fabricadas no exterior, por considerá-las melhores que as locais.

"Vim ver as novidades. Espero que o mercado brasileiro finalmente abra, que todos os cidadãos brasileiros de bem tenham o direito à posse e ao porte de armas de fogo", disse à AFP Edgar Silva, praticante de tiro amador, admirador dos produtos da alemã Walther.

No entanto, a promessa de Bolsonaro de tornar mais branda a legislação sobre as armas está longe de ser popular. Segundo a pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, 61% dos consultados consideravam que a posse de armas de fogo deveria ser proibida, pois a consideravam uma ameaça à vida de outras pessoas.

"Um enorme mercado"

Apesar de ser um país que há um século e meio não tem conflitos com vizinhos, o Brasil é o terceiro maior exportador de armas curtas e munições, com vendas anuais de cerca de 500 milhões de dólares, disse Muggad.

Entre 2014 e 2018, o Brasil respondeu por 27% das importações de armas na América do Sul, segundo o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI).

Os fabricantes brasileiros e estrangeiros esperam também maiores compras do governo no setor. No ano passado, o orçamento de defesa foi de 30 bilhões de dólares.

"Sim, sim e sim", respondeu, enfático, à AFP um representante dos produtores de armas europeus, quando consultado se a eleição de Bolsonaro era boa para o setor.

"O Brasil é extremamente importante para nós", acrescentou, enquanto homens corpulentos em ternos escuros apontavam pistolas de nove milímetros contra alvos imaginários.

"O presidente Jair Bolsonaro certamente é um presidente que entende a importância de ter uma defesa forte, de ter segurança pública adequada no país. Por conta disso, o mercado vem se aquecendo bastante nos últimos meses", disse Luiz Monteiro, diretor de relações institucionais da Condor Non-Lethal Technologies.

A fabricante de drones Aeronautics Group, entre a dezena de empresas israelenses na exposição, também espera que uma aliança mais estreita entre o Brasil e Israel melhore as perspectivas do mercado.

"Acreditamos que estar aqui é uma boa oportunidade", disse Dany Eshchar, vice-presidente executivo de marketing e ventas da empresa.

"É um enorme mercado para nós, consideramos o Brasil os Estados Unidos da América Latina", acrescentou.

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