Cerveró: ele disse que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) o "procurava insistentemente" solicitando dinheiro (Wilson Dias/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2015 às 08h13.
Última atualização em 31 de março de 2017 às 14h14.
Brasília -- O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou em delação premiada à Procuradoria-Geral da República que o senador Delcídio Amaral (PT-MS), no fim de 2005 e início de 2006, o "procurava insistentemente" solicitando dinheiro para a campanha ao governo de Mato Grosso do Sul. Cerveró disse que, na ocasião, o petista soube da compra da refinaria de Pasadena (EUA) - negócio que causou, segundo o Tribunal de Contas da União, prejuízo de US$ 792 milhões à estatal.
Cerveró disse que, com as cobranças constantes de Delcídio, acertou uma propina de US$ 2,5 milhões para o ex-líder do governo no Senado, comprometendo-se a repassar "parte de sua propina para o parlamentar". Destinou então a Delcídio US$ 1,5 milhão "decorrente do contrato de Pasadena". Ficou devendo US$ 1 milhão.
Cerveró declarou que cedeu à pressão do senador porque achava que sua permanência no comando da área Internacional da estatal estava "ameaçada".
O ex-diretor e Delcídio estão presos. Cerveró foi preso em janeiro, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro - o juiz federal Sérgio Moro o condenou a 17 anos de prisão em duas ações penais. Delcídio foi preso em 25 de novembro, sob suspeita de tentar atrapalhar a Lava Jato.
Com medo da delação de Cerveró, o senador planejou até uma rota de fuga para o ex-diretor. Delcídio ainda teria se comprometido com Bernardo Cerveró, filho do executivo, a pagar uma "mesada" de R$ 50 mil à família de Cerveró se o executivo poupasse a ele e ao ex-banqueiro André Esteves em depoimentos.
O ex-banqueiro também foi preso, mas o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, decidiu anteontem por libertá-lo. Delcídio negou em depoimento que Esteves seria o responsável pelo pagamento à família de Cerveró. Nestor Cerveró fechou o acordo de delação premiada em 18 de novembro.
O ex-diretor revelou o passo a passo do caso Pasadena. Segundo ele, a propina total chegou a US$ 15 milhões a "funcionários" da estatal. "A Petrobrás comprou 50% da Refinaria de Pasadena e 50% da trader da Astra Oil em Pasadena; que a trader é a empresa que comercializa o petróleo e os produtos da refinaria; que os 50% da Refinaria de Pasadena foram comprados pela Petrobrás por US$ 190 milhões; que os 50% da trader foram comprados pela Petrobras por US$ 170 milhões, que foram pagos em duas vezes nos prazos de 12 meses e 24 meses depois da aquisição; que em relação a esses dois negócios foi acertado o pagamento de US$ 15 milhões de propina para funcionários da Petrobrás e da Astra Oil participantes da negociação", afirmou.
Cerveró disse que um ex-gerente executivo da Diretoria Internacional que "atuava sob sua orientação intermediou o acerto para pagamento de propina para funcionários da Petrobrás".
O ex-diretor disse que "preferia não se envolver diretamente na negociação de propina" e que, por isso, nesse caso, esse ex-gerente intermediou o acerto das vantagens indevidas, ao passo que em outras situações essa tarefa foi desempenhada pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.
Cerveró citou como recebedores de propina "com base na aquisição de Pasadena" gerentes da Diretoria de Internacional, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e Fernando Baiano, que segundo Cerveró, atuou na "operacionalização dos pagamentos de valores ilícitos e, por isso, recebeu uma comissão". Afirmou ainda que coube a ele "o recebimento de US$ 2,5 milhões." Costa e Baiano também fizeram acordo de delação premiada.
Interrogado pela PF após ser preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, Delcídio negou que tenha recebido propina no esquema na Petrobrás.
Na manhã de ontem, 18, Delcídio Amaral foi transferido da superintendência da Polícia Federal em Brasília para o Batalhão da Polícia de Trânsito (BPtran), também na capital federal.
Por estar no exercício do mandato de senador, Delcídio tem direito a ficar preso em uma sala especial, sem grades. A transferência foi necessária porque não há espaço para acomodá-lo na superintendência da PF. O senador ocupava um escritório e compartilhava o banheiro com os policiais.