(Germano Luders/Exame)
Agência O Globo
Publicado em 1 de maio de 2022 às 09h36.
A inflação global, a perspectiva de alta de juros no Brasil e nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e a instabilidade política interna têm tornado o cenário desfavorável não só para o lançamento de novas ações na Bolsa, mas também para duas operações muito esperadas pelo mercado, envolvendo empresas que já têm papéis negociados na B3.
Estas são a venda das ações preferenciais (PN, sem direito a voto) que a Petrobras detém da Braskem e a privatização da Eletrobras, cujo modelo escolhido pelo governo é o lançamento de novos papéis nas Bolsas de São Paulo e Nova York, a fim de diluir a participação majoritária da União na estatal.
A saída da Petrobras do capital da Braskem era para ter sido uma das maiores operações do ano na B3. A petroleira comunicou no fim de janeiro que cancelou o negócio por conta da “instabilidade das condições do mercado de capitais”.
Agora, segundo uma fonte ligada ao processo, não existe nova data no horizonte. O calendário eleitoral no segundo semestre tornou a operação incerta e, na visão de muitos, quase inviável porque a demanda dos investidores não alcançaria o valor que as atuais donas das ações esperam.
Mesmo assim, a Petrobras segue afirmando que continua comprometida em vender sua fatia na Braskem, na qual possui 36,1% e tem como sócia a Novonor (ex-Odebrecht), também interessada em sair do negócio.
A mesma incerteza ronda o processo de venda de ações da Eletrobras na Bolsa, estruturado pelo BNDES.
Uma fonte do governo avalia que a perspectiva de maior volatilidade nos mercados globais e a alta de juros encaminhada pelo Federal Reserve nos EUA deve desviar o fluxo de investimentos estrangeiros do Brasil, enquanto o governo não consegue o sinal verde do Tribunal de Contas da União (TCU) para fazer a capitalização.
Apesar de o governo ter trabalhado em conjunto com o TCU para acelerar os trâmites para a privatização da companhia, o prazo apertado do julgamento, previsto para 13 de maio, é um ponto de preocupação. Passando dessa data, a companhia elétrica precisará usar o balanço do primeiro trimestre deste ano como referência para o prospecto, o que a obrigaria a refazer as contas e arrastar a privatização para julho, pelo menos.
Técnicos do governo dizem que “não há plano B” e a aposta continua sendo que haverá tempo para fazer a privatização da companhia ainda este ano. O modelo prevê transformar a Eletrobras em uma corporação sem controlador definido, ainda que a União mantenha posição relevante na empresa.