Brasil

Entidades denunciam tortura contra adolescentes no Ceará

A PM conteve o motim com tiros de balas de borracha à queima-roupa e gás lacrimogêneo ou spray de pimenta dentro dos dormitórios


	A PM conteve o motim com tiros de balas de borracha à queima-roupa e gás lacrimogêneo e spray de pimenta
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)

A PM conteve o motim com tiros de balas de borracha à queima-roupa e gás lacrimogêneo e spray de pimenta (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2015 às 07h23.

Entidades que compõem o Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (Fórum DCA) denunciaram episódios de violência policial e tortura contra adolescentes do Centro Socioeducativo Passaré, em Fortaleza, após a contenção de um motim no último domingo (16).

Uma comissão de integrantes do fórum esteve ontem (18) no centro e constataram que vários adolescentes apresentam hematomas e outros ferimentos pelo corpo.

Segundo o assessor técnico do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), Acássio Pereira de Souza, as denúncias iniciais partiram de mães de adolescentes.

O assessor e representantes do Conselho Regional de Psicologia, da Cáritas Regional Ceará e da Pastoral do Menor, ouviram dos internos que a ação de contenção, feita por policiais militares, incluiu tiros de balas de borracha à queima-roupa e o uso de gás lacrimogêneo ou spray de pimenta dentro dos dormitórios.

Segundo Acássio, os adolescentes não souberam distinguir qual dos dois tipos de gás foi utilizado) – o que teria provocado desmaio em alguns internos.

“Para nós, isso caracteriza uma desproporcionalidade, já que os adolescentes estavam contidos nos dormitórios, com as grades fechadas, e mesmo assim os policiais chegaram atirando com balas de borracha.”

Os relatos também citam uma prática que o fórum classifica como tortura. Os adolescentes disseram que, por ordem dos policiais, ficaram nus e tiveram que correr na área externa e nos corredores sob o piso molhado e ensaboado.

Quem caísse, era agredido com golpes de cassetete, chutes e pisões. Não ficou claro, conforme Acássio, se o piso foi molhado pelos agentes ou se seria decorrente de canos que foram quebrados durante o motim.

De acordo com o Cedeca, defensores públicos que foram ao centro na segunda-feira (17) recomendaram que 53 adolescentes fizessem exame de corpo de delito.Até ontem à noite, sete haviam sido encaminhados para o exame.

“Havia esses 53 que a Defensoria pediu que encaminhasse para o exame, mas eu constatei outras dezenas de adolescentes com hematomas nas costas, na cabeça, nos ombros, nas pernas. Dois estavam com os pés bastante machucados, segundo eles, porque caíram e um dos policiais pisou neles com força.”

O Centro encaminhou diversos ofícios a órgãos do Governo e da Justiça relatando as denúncias e solicitando providências – em especial a responsabilização dos agentes públicos que praticaram atos violentos contra os internos. “

O que mais nos chocou e nos mobiliza é a apuração da intervenção policial, que foi bastante desproporcional”, explica Acássio.

Em nota, a Polícia Militar do Ceará informou que os policiais usaram “os meios moderados e proporcionais da força para controlar a situação de tumulto” e que não foram usadas, na ação, bombas de gás lacrimogêneo nem cassetetes. A PM também nega que os internos tenham sido pisoteados.

Já a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, responsável pela gestão das unidades de cumprimento de medidas socioeducativas, disse que os adolescentes que apresentam “supostas lesões praticadas durante a contenção do motim” têm guia de exame de corpo de delito e estão sendo atendidos pela Coordenadoria de Medicina Legal, vinculada à Perícia Forense do Ceará (Pefoce). Na nota, não há o número de adolescentes que devem fazer o exame.

Segundo o Cedeca, o Centro Socioeducativo Passaré tem capacidade para 90 adolescentes, mas está com 197 internos, mais que o dobro da capacidade. A secretaria não informou a quantidade de internos abrigados atualmente na unidade.

Acompanhe tudo sobre:Cearácidades-brasileirasFortalezaGovernoViolência policial

Mais de Brasil

Qual o valor da multa por dirigir embriagado?

PF convoca Mauro Cid a prestar novo depoimento na terça-feira

Justiça argentina ordena prisão de 61 brasileiros investigados por atos de 8 de janeiro

Ajuste fiscal não será 'serra elétrica' em gastos, diz Padilha