Felipão: "Eles batem e batem e batem e não acontece nada", disse o técnico (REUTERS/Marcelo Del Pozo)
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2014 às 09h31.
Teresópolis - O comando da seleção brasileira detectou má vontade da Fifa com a seleção brasileira bem antes de Neymar sofrer a joelhada de Zuñiga.
A expressão nos bastidores da entidade que mais chamou atenção dos chefes foi "o Brasil não pode virar um Schumacher", uma referência ao piloto da Fórmula 1 que, ao conquistar sete títulos, teria esvaziado a categoria do automobilismo. O hexa do Brasil não seria interessante para o negócio futebol.
Segundo comentários dentro da comissão técnica da seleção, a Fifa não gostaria de ver o Brasil ser campeão pela sexta vez, façanha difícil de ser alcançada por outra seleção. As concorrentes mais próximas são Alemanha, dona de três títulos, e Itália, com quatro. Daí a comparação ao feito de Michael Schumacher na Fórmula 1.
A Fifa, segundo avaliação dentro da seleção, concedeu ao Brasil o direito de sediar a Copa de 2014 por questões políticas e interesses financeiros da própria entidade. Mas, no aspecto técnico, no campo de jogo, seria um desastre a seleção brasileira conquistar mais um título.
De acordo com o pensamento do comando da seleção, as arbitragens têm sido pouco severas com os adversários da seleção e não anotado lances capitais favoráveis ao Brasil desde o pênalti sofrido por Fred na estreia contra a Croácia. E ainda têm ignorado confissões de culpa de alguns jogadores, como o atacante holandês Robben, por exemplo, que disse ter simulado pênalti contra o México.
"Eles batem e batem e batem e não acontece nada. Todo mundo sabia que Neymar seria caçado. Há três jogos que avisamos isso. Todo mundo acha que só os jogadores da Alemanha são caçados. O Neymar, não. Podem bater à vontade porque não vai acontecer nada mesmo. A gente vem falando sobre isso a toda hora, mas ninguém acha que isso é verdade", insistiu Felipão na entrevista logo depois da partida contra a Colômbia, quando ele ainda não sabia da gravidade da lesão de Neymar.
O argumento do treinador tem como base os números fornecidos pela Fifa a respeito das faltas sofridas por Neymar, na maioria das vezes muito violentas. Foram 18 faltas recebidas em cinco jogos. Estatísticas da seleção apontam ainda que o craque foi vítima de lances violentos nos primeiros cinco minutos de cada jogo - uma tentativa de intimidação e também de tirá-lo dos jogos.
Um exemplo foi a forte entrada que levou no início do jogo contra o Chile - um tostão na coxa esquerda - e depois uma pancada no joelho. Em nenhum dos dois lances os jogadores chilenos foram advertidos pela arbitragem. O mesmo aconteceu com Zuñiga. No lance, aliás, nem falta foi marcada.
Do jogo contra os chilenos também ficou a certeza, na seleção e na CBF, que a Fifa está mesmo disposta a apertar o cerco contra o Brasil, ao punir neste sábado Rodrigo Paiva, assessor de imprensa da seleção, com uma suspensão por quatro jogos por agressão ao atacante chileno Pinilla. Com isso, ele não poderá mais trabalhar nesta Copa. Paiva terá ainda de pagar uma multa de 10 mil francos suíços - cerca de R$ 25 mil reais.
A Fifa alega que Paiva agrediu o atacante Pinilla, do Chile, em uma confusão entre as duas comissões técnicas no intervalo do jogo no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. Para surpresa da CBF, do técnico Felipão e do coordenador Parreira, nenhum chileno foi punido no incidente. Sobrou apenas para Paiva e, por tabela, para a seleção.
ESTRANHO - Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da seleção, com muito conhecimento dentro da Fifa - já trabalhou diversas vezes para entidade como observador dos jogos em Copas do Mundo -, também estranha o fato de ter batido forte na Fifa sem sofrer nenhuma punição.
Após a dramática classificação às quartas de final na disputa por pênaltis contra o Chile, Parreira deu declarações em inglês levantando suspeitas de um possível complô da Fifa contra o Brasil na Copa. Parreira falou grosso e a Fifa o ignorou, sob o argumento de que o coordenador da seleção teria se manifestado ainda no calor do jogo, emocionado com a classificação do Brasil.
A leitura que a comissão técnica fez desse episódio é de que a Fifa, quando atacada, prefere não se expor para não escancarar suas preferências. Uma punição a Parreira seria colocar em dúvida a credibilidade da entidade nas questões disciplinares.