A presidente Dilma Rousseff: existe um grande risco de que o escândalo implique integrantes do alto escalão do PT (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 20h40.
A corrupção na Petrobras está prestes a se tornar uma ameaça maior ao Partido dos Trabalhadores, o PT, do que qualquer outro escândalo dos últimos 12 anos em que o partido está no poder, começando com Dilma Rousseff, que presidiu o conselho da empresa por 7 anos.
As denúncias de suborno e doações ilegais ao partido têm atingido a presidente Dilma Rousseff mais profundamente do que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi afetado pelo escândalo de pagamentos a congressistas há uma década.
Isso é porque Dilma, 67, esteve à frente do Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, uma parte do período durante o qual os supostos pagamentos de propina teriam occorrido na companhia, antes de se tornar presidente da República.
O caso empurrou Dilma ao mais baixo grau de aprovação comparativamente a qualquer outro líder brasileiro em 15 anos, segundo uma pesquisa do Datafolha, e ela coloca a presidente sob risco de se tornar um “pato manco” apenas 42 dias depois de iniciar seu segundo mandato.
Até mesmo membros do seu partido têm questionado sua liderança.
“Ela não é um ‘pato manco’ ainda, mas está caminhando para isso se não mudar as coisas rapidamente”, diz André Cesar, analista político independente da Prospectiva, por telefone de Brasília. “O governo tem de reverter a situação e isso não será fácil”.
Após tirar 36 milhões de pessoas da pobreza extrema em meio a uma década próspera para as commodities, o PT precisa agora lidar com o crescimento estagnado, o aumento do descontentamento social, a inflação acima da meta e o déficit fiscal recorde.
O escândalo de corrupção vai tornar mais difícil para Dilma avançar com o aumento de impostos e o corte de gastos necessários para reduzir um déficit que quase triplicou debaixo de seus olhos, disse César.
‘Maior ameaça’
O índice de aprovação de Dilma caiu 19 pontos, para 23 por cento, na pesquisa do Datafolha realizada entre 3 e 5 de fevereiro, e mais de três quartos dos participantes disseram que ela sabia da corrupção na Petrobras.
Mais da metade disse que ela permitiu que a corrupção ocorresse, e outros 25 por cento disse que ela sabia da situação, mas não pôde detê-la. A pesquisa contou com a participação de 4.000 pessoas e teve uma margem de erro de 2 pontos porcentuais.
O partido sofreu sua primeira grande derrota no novo mandato de Dilma em 1 de fevereiro, quando seu candidato à presidência da Câmara dos Deputados perdeu para Eduardo Cunha, um crítico de Dilma, embora sua legenda, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, faça parte da coalizão do governo.
Dois dias depois da votação, parlamentares da oposição e dos partidos da base aliada conseguiram apoio para retomar uma comissão parlamentar de inquérito sobre o escândalo da Petrobras.
Risco de impeachment
A Petrobras identificou pelo menos R$ 4,1 bilhões (US$ 1,4 bilhão) em prejuízos com um esquema no qual executivos da empresa teriam aceitado subornos de um cartel de empresas construtoras e dividido os recursos com políticos.
O Conselho de Administração optou por não usar a metodologia de valor justo que indicou uma baixa contábil potencial total de R$ 89 bilhões.
Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras que se tornou testemunha do Estado, disse aos investigadores que o PT recebeu até US$ 200 milhões por meio do esquema em um período de 10 anos até 2013, segundo uma transcrição de seu depoimento publicada em 5 de fevereiro. O partido diz que todas as doações foram legais.
Existe um grande risco de que o escândalo implique integrantes do alto escalão do PT, escreveram analistas da firma de consultoria de risco político Eurasia Group, liderados por Christopher Garman, em uma nota de 9 de fevereiro.
A possibilidade de impeachment de Rousseff, embora seja de apenas cerca de 20 por cento, “se tornou um risco real a ser monitorado”, disseram.
A apuração tem provocado comparações com a investigação sobre o esquema de pagamento por votos durante o governo Lula que acabou sendo conhecido como “mensalão”.
Em 2005, Lula pediu desculpas ao País e disse que se sentia traído pelos integrantes do PT, que seriam levados à Justiça.
Lula “escapou praticamente ileso” ao afirmar desconhecimento, o que Dilma terá mais dificuldades para fazer porque a corrupção na Petrobras ocorreu durante o período em que ela foi presidente do conselho da empresa, disse David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, por telefone, de Washington.
Existe, também, uma ameaça maior ao partido, porque o caso Petrobras envolve mais dinheiro, ao mesmo tempo em que as empreiteiras implicadas estão acusando políticos, disse ele.
A assessoria de imprensa da presidência não respondeu a um e-mail com pedido de comentários sobre o impacto do escândalo sobre a habilidade de Dilma de governar.