Brasil

Caso Flordelis: dinheiro e relógios do pastor sumiram após o assassinato

Bens do pastor Anderson podem ter sido usados para pagar sua própria execução

Desaparecimento de bens da vítima após o crime despertaram suspeitas à polícia (Twitter/Reprodução)

Desaparecimento de bens da vítima após o crime despertaram suspeitas à polícia (Twitter/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 26 de agosto de 2020 às 07h06.

Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 09h03.

Os mistérios que circundam a morte do pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD), envolvem também o paradeiro de alguns bens da vítima, que sumiram após o crime. O dinheiro que Anderson carregava em uma mochila de couro, com a qual sempre andava, e a maior parte de uma coleção de 20 relógios mantida por ele desapareceram depois de seu assassinato. A Polícia Civil suspeita que a quantia e os acessórios tenham sido usados como parte do pagamento pela execução do crime.

As suspeitas são baseadas em um dos planos de matar Anderson revelados à polícia. Em uma das propostas feitas a Lucas Cézar dos Santos para assassinar o pai adotivo, foi prometido o pagamento de parte da quantia — R$ 5 mil — justamente com o dinheiro que costumava ser levado pelo pastor na mochila, além dos relógios da vítima.

À polícia, Lucas afirmou ter negado a proposta, segundo ele feita por uma de suas irmãs, Marzy Teixeira, presa na segunda-feira. A própria Marzy, em depoimento, confirmou ter feito a oferta ao irmão. Lucas está preso desde junho do ano passado, acusado de participação no crime.

Flordelis, em seu último depoimento à polícia, afirmou não saber onde foram parar o dinheiro e os relógios. Questionada pela polícia se havia visto um de seus filhos, Flávio dos Santos, acusado de ter atirado o pastor, com a mochila de Anderson, a deputada afirmou que não.

As investigações apontam ainda que Flordelis se utilizava de Marzy para fazer propostas de assassinar o pastor a Lucas ou para achar outra pessoa disposta a executar tal plano. A mulher, que é filha afetiva da pastora, é descrita por testemunhas como alguém que sempre buscava aprovação da mãe, e por isso gostava de agradá-la.

Ainda segundo as investigações, Marzy também foi a responsável por avisar Flávio sobre a chegada de Flordelis e Anderson em casa na madrugada do crime. De acordo com o delegado titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), Flordelis enviou mensagens para Marzy, que então entrou em contato com Flávio.

Em um de seus depoimentos à polícia, Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, também filho afetivo de Flordelis, vai além. Ele afirma que em determinada ocasião, a mãe manipulou Marzy para furtar dinheiro do cofre que havia na casa da deputada ou para assumir ter pego a quantia. O sumiço do dinheiro foi descoberto pelo pastor Anderson, que conversou com cada filho para saber o autor do furto. Marzy acabou admitindo ter sido ela a responsável.

Misael, no depoimento, alega que apenas a mãe e Anderson tinham a chave, por isso "só quem poderia ter pego dinheiro do cofre seria a sua mãe".

Questionada sobre o sumiço de dinheiro no cofre, Flordelis entrou em contradição. Em um primeiro momento, ela admitiu que apenas ela e o marido tinham a chave. No entanto, em um segundo momento alegou que MIsael e outro filho, André, também tinham. Questionada sobre como Marzy teria conseguido pegar dinheiro do local, Flordelis disse que às vezes o compartimento ficava aberto.

Problemas financeiros

Trocas de mensagens recuperadas pela Justiça no celular de Marzy revelam que Flordelis demonstrava aos filhos preocupação com falta de dinheiro para pagar suas dívidas. Segundo as investigações, uma das motivações do crime foi justamente o fato de Anderson, que administrava as finanças da casa, ser extremamente centralizador.

Em conversas em abril do ano passado, dois meses após o crime, Marzy cobra da mãe o pagamento de um aluguel, além de contas suas, e a deputada diz que não tem “dinheiro nenhum”. Em outro diálogo, dessa vez com o filho André, Flordelis afirma que estava “correndo atrás de dinheiro emprestado para não perder o plano de saúde”.

Nesse diálogo, ela havia demonstrado ao filho descontentamento com o fato de Anderson ter determinado que cada filho pagasse seu plano. A deputada promete, então, ajudá-los.

A deputada também avisa ao filho que vai ao banco "de imediato" tentar resgatar sua previdência."Mas acredito que indo na segunda esse resgate só acontecerá na quinta-feira", diz ela. Em outra mensagem, ela pede que André conserte o ar-condicionado do carro e diz que as crianças chegam na escola parecendo que saíram da sauna.

‘Está desumano. Faz meu cheque pra 30, 60, 90 (dias). Dependendo do valor", escreveu a parlamentar.

Acompanhe tudo sobre:MortesPolíticosRio de Janeiro

Mais de Brasil

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência

Lula discute atentado com ministros; governo vê conexão com episódios iniciados na campanha de 2022