Carolina Maria de Jesus: sessão de autógrafos com fãs, em 1960 (Wikemedia Commons/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 14 de março de 2019 às 10h33.
Última atualização em 14 de março de 2019 às 11h18.
São Paulo — Mulher negra e escritora favelada, Carolina Maria de Jesus é a homenageada desta quinta-feira (14) no Doodle, do Google. Hoje, ela completaria 105 anos.
Grande revelação literária dos anos 60 no Brasil, com "Quarto de Despejo — Diário de uma Favelada", Carolina nasceu em Minas Gerais e se mudou para a favela do Canindé, em São Paulo, em 1947, onde trabalhou por anos como catadora de papel e latinhas.
A escritora foi descoberta nos anos 50 pelo jornalista Audálio Dantas. Ele a conheceu durante a apuração de uma reportagem sobre o dia a dia da favela.
"Ela falava alto, dizia que ia botar o pessoal no livro. Aí quis saber qual era o livro. Então, ela me mostrou os cadernos dela no barraco. No meio, tinha esse diário, que me chamou atenção. Era de uma força muito grande e fazia uma reportagem sobre a favela que nenhum repórter poderia fazer", disse o jornalista em entrevista ao jornal O Globo, de 2014.
Com mais de 20 cadernos de Carolina em mãos, Audálio publicou trechos de seus textos na edição de 9 de maio de 1958, na Folha da Noite (jornal noturno da Folha de S.Paulo), com o título “O drama da favela escrito por uma favelada”.
A repercussão da reportagem, pioneira em permitir que "não repórteres" escrevessem nos jornais, gerou críticas e interesses da sociedade. Alguns diziam que ela era "analfabeta", outros valorizavam a história única e sensível retratada em seus textos.
Depois da visibilidade que ganhou com Audálio, Carolina Maria de Jesus seria personagem de uma outra reportagem na revista "O Cruzeiro", de 20 de julho de 1959.
A repercussão de sua história na sociedade brasileira colocou Carolina nos holofotes. Com os pedidos para que um livro fosse lançado, Audálio compilou os diários e publicou os conteúdos mais instigantes. Ele optou por não corrigir os erros gramaticais.
O livro, Quarto de Despejo, foi lançado em agosto de 1960. Os 10 mil exemplares da primeira edição foram vendidos numa semana, um recorde para a época.
A obra se transformou em um best seller, foi traduzida em 16 idiomas e vendida em mais de 40 países.
Publicações estrangeiras como "Time”, “Life”, “Paris Match” e “Le Monde” deram amplo destaque aos seus diários e a sua história. Sua escrita sobre a realidade da favela tocou por seu tom visceral e poético.
Carolina Maria de Jesus morreu em São Paulo, em 1977, vítima de insuficiência respiratória. Antes de falecer, ela publicou Asa de Alvenaria (1961); Pedaços de Fome (1963); Provérbios (1963); Diário de Bitita (1982); Meu Estranho Diário (1996); e Antologia Pessoal (1996).