(Pablo Sanhueza/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 26 de março de 2017 às 15h31.
Última atualização em 26 de março de 2017 às 16h36.
São Paulo - O pagamento de propina para fiscais do Ministério da Agricultura, revelado pela Operação Carne Fraca, nem sempre era resultado de problemas reais nos frigoríficos. É o que afirma Junior Durski, fundador do grupo de restaurantes Madero, em entrevista para a revista VEJA desta semana.
O empresário afirma que pagava 4 mil reais por mês aos fiscais para evitar que eles criassem problemas em sua linha de produção.
“Os processos e procedimentos são cumpridos 100%. Aí vem um fiscal e diz que, se você não der o que ele quer, vai arranjar problemas e fechar sua fábrica. Você resiste, aí ele começa a procurar pelo em ovo”, diz à revista.
Segundo o empresário, “problemas irrelevantes”, como um azulejo trincado ou uma lâmpada queimada, já eram apontados pelos fiscais como motivo para colocar o frigorífico na lista de unidades que não seguem a regulação sanitária.
Por cerca de um ano, segundo ele, os pagamentos foram feitos em dinheiro e, pasmem, com picanhas. O custo para o grupo ser autorizado a exportar seus produtos seria de 80 mil reais, segundo Durski.
Questionado sobre por que não denunciou o esquema antes, o empresário diz que temia represálias. “A impunidade é muito grande. O empresário pensa: ‘Se eu denunciar, não vai acontecer nada com o fiscal, e depois ele volta e me arrebenta’”.
Em uma série de entrevistas na última semana, o governo afirma que os problemas são pontuais e não representam a totalidade do trabalho do Ministério da Agricultura.
Afinal, o Brasil tem cerca de 4,8 mil frigoríficos e, por ora, apenas 21 estão sendo investigados enquanto três foram interditados. De qualquer forma, em sete dias, o Brasil perdeu 130 milhões de dólares com os vetos à importação de carne brasileira.