Cármen Lúcia: a presidente do STF frustrou a estratégia inicial do advogado (Valter Campanato/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de setembro de 2017 às 16h10.
Brasília - No plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado do presidente Michel Temer, Antônio Cláudio Mariz, afirmou que há "absolutamente ausência de imparcialidade no caso JBS" por parte do procurador-geral, Rodrigo Janot".
Mariz chegou à tribuna do Supremo com uma estratégia, mas mudou de rota no meio da fala. Ele tentou fazer com que a Corte julgasse conjuntamente o pedido para suspender uma segunda denúncia contra Temer e a alegação de suspeição de Janot.
O Planalto sabe que deve perder no pedido de suspeição de Janot, por isso a aposta é na suspensão da denúncia até esclarecer a situação da delação do grupo J&F.
O advogado pretendia desistir do pedido de suspeição, considerando que sua tese para suspender o andamento da segunda denúncia contra Temer prosperasse. Ele iria alegar que Janot deve entender "ser prudente e de boa cautela" que "nenhuma denúncia fosse oferecida antes do integral esclarecimento dos fatos".
A peça da desistência era avaliada por Mariz minutos antes de ir à Tribuna do STF. Ele foi flagrado pelo fotógrafo do jornal O Estado de S. Paulo estudando a peça.
Na tribuna, no entanto, a presidente Cármen Lúcia negou o pedido de Mariz para que os dois pedidos fossem analisados conjuntamente e frustrou a estratégia inicial do advogado.
Mariz argumentou que o escopo das duas questões é o mesmo e que, por isso, elas deveriam ser julgadas conjuntamente.
Segundo o advogado, se a denúncia fosse suspensa não haveria necessidade de analisar a questão sobre Janot.
"Entendo que, talvez, pudéssemos fazer julgamento conjunto, porque, se a questão de ordem for acolhida, desnecessária será a análise da outra", disse.
A presidente da Corte, no entanto, negou o pedido. Argumentou que as questões foram postas pelo relator do caso, ministro Edson Fachin separadamente e que, por isso, assim devem ser analisadas. Diante desse cenário, Mariz defendeu a suspeição de Janot - o primeiro ponto a ser julgado pelo plenário.
"Janot demonstrou absoluta ausência de imparcialidade no caso JBS. Agiu de forma absolutamente açodada e confessou a sua pressa", afirmou Mariz.
Em sua estratégia de apontar a falta de honestidade de Joesley Batista, o advogado afirmou também que agora "dois delatores estão presos". "São delatores que deram base para que a denúncia fosse oferecida. Será que não mentiram em relação ao STF, à PGR, ao presidente da República?", indagou.
Ainda segundo Mariz, a primeira denúncia oferecida contra Temer por Janot foi feita sem provas. "Janot acusou o presidente de ter relações espúrias com A, B, C, mas jamais comprovou isso. Acusou o presidente de ter relações espúrias com A, B ou C, mas jamais demonstrou que essas relações foram espúrias".
"A mala em relação à qual se afirma que tenha sido colocado um chip, chip esse que foi retirado depois, foi retirado porque a mala não atingiu o destino que os acusadores queriam que atingisse. Eles queriam que a mala chegasse ao Palácio do Planalto, mas jamais isso seria possível", disse.
Em tom de protesto, afirmou que Temer "quer trabalhar, mas não consegue", porque "a cada momento uma nova denúncia aparece". Ele criticou as "flechas" de Janot, afirmando que "não é assim que os grandes procuradores-gerais da República agem".
"É preciso que haja comedimento por parte do MP, é preciso que haja cautela e cuidado, se está acusando um cidadão, se está acusando um cidadão brasileiro que é presidente da República, quer queira, quer não se queira. É um homem que responderá pelo Brasil por um ano e meio daqui para a frente, deixem-no em paz".
"Pensem em todo o sofrimento que essas conduta com o efetivo eco concedido pela mídia para dar eco para propagar o mal, todo o sofrimento que se está impingindo ao presidente da república, a ele, a mulher, aos filhos, ao irmão que está doente", disse.