Acampamento em Curitiba: será a primeira vez que Lula ficará frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro (Paulo Whitaker/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 9 de maio de 2017 às 21h52.
O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para esta quarta-feira (10) na sede da Justiça Federal em Curitiba, alterou a rotina na capital paranaense.
Manifestantes favoráveis e contrários ao ex-presidente já estão na cidade, que preparou um esquema especial para garantir a segurança de todos os que pretendem acompanhar o depoimento, um dos mais aguardados da Operação Lava Jato.
Será a primeira vez que Lula ficará frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação na primeira instância.
O grupo a favor de Lula está reunido na rodoferroviária da cidade. De acordo com os organizadores, são cerca de 5 mil pessoas, que vieram de vários estados para o "acampamento pela democracia", como o local ficou conhecido.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 20 ônibus com manifestantes já chegaram a Curitiba, e mais 36 são aguardados nas próximas horas. Para João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o processo judicial tornou-se um processo político.
"Nós, dos movimentos populares, somos frontalmente contra qualquer corrupção, conta toda corrupção. Achamos importantes as investigações da Lava Jato. O que condenamos na Lava Jato é essa promiscuidade […]. Essa clara perseguição ao Lula politizou isso", disse o líder do MST.
O aposentado João Tomás de Lima saiu de Amparo, em São Paulo, para acompanhar o depoimento. Sindicalista, ele conta que desde 1964 participa de atos populares.
"Não tenho medo da luta e acho que essa luta aqui é necessária. Porque é uma injustiça que estão fazendo conosco, o povo trabalhador, e com este país, que é tão grande, tão bonito e tão generoso. E estamos vendo as pessoas no poder destruindo tudo isso."
Os manifestantes que são contra o ex-presidente Lula estão reunidos do lado de fora do Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico.
Uma das organizadores do ato, Narli Rezende, integrante do Movimento Curitiba contra a Corrupção, diz que objetivo do grupo é "fazer um contraponto com a situação do PT e do vermelho".
"Curitiba, tradicionalmente, é uma cidade verde e amarelo. E, em sua grande maioria, Curitiba é a favor da Lava Jato. Então, não queremos passar uma imagem falsa de que Curitiba é vermelha, de que Lula é muito bem-vindo em Curitiba […] O que irrita a gente é a corrupção, independente do partido. Errou, tem que pagar. Robou, tem que devolver e ser preso", afirmou Narli.
Para Camila Georg, que saiu do Rio Grande do Norte e foi ao museu, é preciso se mobilizar para que as mudanças aconteçam.
"Eu vim porque acho que é um marco na história, como o impeachment do [presidente Fernando] Collor. Sentados em casa, nada vai acontecer. Tenho dois filhos e estou lutando pelo futuro deles. Já votei em Lula, por incrível que pareça, e hoje vejo que foi um erro. Eu quero uma coisa melhor para os meus filhos."
Um perímetro de 150 metros ao redor do prédio da Justiça Federal será bloqueado a partir do fim da noite de hoje. Apenas moradores, imprensa credenciada e comerciantes do local poderão passar pela área bloqueada.
Uma das moradoras da região, Aracelis Solarewicz, disse que vive ali há cerca de 20 anos e nunca viu situação semelhante.
Mas compreende: "é só um dia. A gente tem que se adaptar, acho que não vai ter impacto nenhum. Por isso, vim antes para não ser pega desprevinida. Eu tenho outras alternativas de sair e não passar pelo bloqueio", afirmou.
O ex-presidente Lula é acusado de ter recebido propina da empreiteira OAS por meio da reserva e da reforma de um apartamento triplex no Guaruja, litoral de São Paulo.