Fernando Haddad: candidatos à Presidência da República dirigiram ataques ao presidenciável que ocupa atualmente a segunda posição nas sondagens eleitorais (Paulo Whitaker/Reuters)
Reuters
Publicado em 21 de setembro de 2018 às 09h06.
Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 09h08.
Candidatos à Presidência da República que buscam uma vaga no segundo turno da eleição de outubro dirigiram ataques ao presidenciável que ocupa atualmente a segunda posição nas sondagens eleitorais, Fernando Haddad (PT), em debate realizado na noite da quinta-feira na TV Aparecida.
De olho em uma vaga na votação decisiva da eleição presidencial, postulantes ao Palácio do Planalto como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), e Marina Silva (Rede) tentaram se colocar como alternativa para unir o país frente ao que chamaram de extremismo.
As críticas centradas a governos do PT responsabilizaram o partido pela crise econômica, a corrupção e o desemprego. Não faltaram, no entanto, respingos ao governo de Michel Temer e a candidatos relacionados a ele, e também ao primeiro colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), que permanece internado após uma facada sofrida em evento de campanha.
"Estamos frente a 13 milhões de desempregados, herança do PT. Da Dilma e do PT, que quebraram o Brasil, destruíram as empresas estatais. O petrolão foi o maior escândalo do mundo de desvio de dinheiro público", disse Alckmin, após um início morno de debate.
Alckmin foi questionado por Haddad sobre medidas impopulares como a emenda do teto dos gastos e a reforma trabalhista adotadas pelo governo Temer com apoio do PSDB.
"Não precisaria de PEC do teto se não fosse o vale-tudo do PT, que não tem limites. Para ganhar eleição vale tudo. Quem paga a conta é o povo", disse Alckmin, lembrando que o PT escolheu Temer para vice de sua chapa presidencial, por duas vezes.
Apesar dos ataques ao petista, Alckmin também tentou ocupar a posição da terceira via e disse que o país "perde com os extremos".
Em sua primeira participação em um debate após ser confirmado como substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva --barrado pela Lei da Ficha Limpa--, Haddad lembrou do apoio do partido de Alckmin ao atual presidente durante boa parte de seu governo e também no impeachment de Dilma.
"O Temer era vice da Dilma mas quem se uniu ao Temer para trair a Dilma --porque se não tivesse os votos do PSDB ela não seria afastada-- foi o PSDB. Ele que colocou o Temer lá com um programa totalmente diferente do aprovado nas urnas", disse o candidato do PT.
O petista também recebeu ataques do candidato do MDB, Henrique Meirelles, ele mesmo alvo de tentativas de vinculação a Temer. Meirelles, que com frequência lembra em suas falas e vídeos de campanha de sua participação no governo do ex-presidente Lula como presidente do Banco Central, afirmou que a atual crise econômica foi criada a partir da aplicação do "programa do PT" durante a gestão de Dilma.
"Eu considero a ingratidão um dos maiores pecados na política", disse Haddad após a fala de Meirelles.
Depois, foi a vez de Ciro dar uma alfinetada em Haddad em interação entre os dois, quando discutiam mudanças no sistema tributário. Haddad explicou que seu programa prevê um imposto único para simplificar e reduzir a carga tributária.
Ciro, que também sugere a adoção do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), perguntou ao petista o motivo de tais ideias não terem sido colocadas em prática durante as gestões do PT.
"Estimado amigo, não me leve a mal, mas agora vai uma pinicadinha", avisou Ciro.
"Por que razão a sociedade, o povo brasileiro, machucado como está, deveria acreditar nessas tão boas ideias que estão defendidas, para minha grande alegria e satisfação, num livro que escrevi em 2006 com o professor Mangabeira (Unger), por que o nosso povo deve acreditar que essas propostas na sua possível gestão seriam praticadas se o seu partido, os senhores, estiveram no poder 14 anos?", questionou o presidenciável do PDT.
Ainda assim, Ciro investiu muito mais em um discurso moderado, na tentativa de se colocar como uma terceira via entre o PT e Bolsonaro, sob o argumento que o extremismo está "infernizando" o país.
Marina, que em suas colocações finais criticou a polarização e também se colocou como opção alternativa para unir o país, referiu-se, durante o debate, à política de crédito via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como "bolsa empresário" dos governos petistas, algo, na opinião dela, foi ampliado na gestão "Dilma-Temer".
A ex-ministra não deixou de criticar Bolsonaro, e citou recente polêmica entre o candidato e o que chamou de "Posto Ipiranga" dele, o economista Paulo Guedes.
Guedes teria dito em encontro com investidores, segundo o jornal Folha de S.Paulo em reportagem na quarta-feira, que pretende criar um imposto nos moldes da CPMF e unificar a alíquota de Imposto de Renda em 20 por cento. A notícia levou Bolsonaro a recorrer ao Twitter para negar a informação e classificar como "mal intencionadas" as notícias sobre a retomada do tributo.
Marina referiu-se ao episódio como um "incêndio no Posto Ipiranga", e considerou o modelo proposto por Bolsonaro como "nefasto" por "penalizar os mais pobres".
"Essa visão de política de país tem que ser combatida. Nós temos que acabar com a ideia de ficar entre a cruz e a espada, entre a violência e a corrupção", disse a candidata.