Joaquim Barbosa: "Bolsonaro não era líder nem presidente de partido. Ele não fazia parte do processo do mensalão", escreveu (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2018 às 11h16.
A profusão de candidaturas presidenciais neste ano começa a diminuir à medida em que os partidos e pré-candidatos avaliam a real viabilidade de embarcar numa disputa marcada pela descrença dos brasileiros na política.
Com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o anúncio do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa (PSB) de que não concorrerá, já ficaram pelo caminho dois dos mais fortes candidatos até o momento pelas pesquisas de opinião. E esse movimento não para por aí.
Nos últimos dias, o presidente Michel Temer passou a sinalizar que também desistirá e, aconselhado por dirigentes do MDB, seu partido, isso deverá ocorrer ainda neste mês. Se este plano for seguido, segundo uma fonte da direção partidária a par das negociações, o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) terá o mês de junho sem Temer na disputa para tentar fazer sua candidatura decolar. Se isso não acontecer, MDB antevê dois caminhos: partir para negociação mais efetiva com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin; ou não apoiar ninguém no primeiro turno, focando nas eleições congressuais e aos governos dos estados.
Meirelles disse em entrevista à Bloomberg que o MDB prefere ter um candidato próprio e que as conversas no partido estão indo melhor do que ele esperava. "Quero mostrar que candidatura está viável.”
Outra pré-candidatura que estaria com os dias contados é do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), apesar das viagens que vem fazendo pelo país em pré-campanha e de publicamente integrantes do partido defenderem sua manutenção na disputa. Internamente, no entanto, Democratas avaliam que o deadline para que Maia desista é começo de julho, abrindo caminho para o DEM negociar participação em uma chapa com mais condições de vitória. Temer, Meirelles e Maia têm patinado nas pesquisas de opinião não ultrapassando a marca de 2%. Segundo a assessoria de Maia, "não há nenhuma conversa nesse sentido. Ele segue as agendas de viagens pelo país."
"Rodrigo Maia, Temer e Meirelles têm pré-candidaturas postas mas não têm apoio real dos seus partidos para concorrerem. O único que tem apoio de fato do seu partido, o PSDB, é Alckmin", disse o deputado decano Miro Teixeira (Rede).
Esta reacomodação, em tese, favorece o tucano, que apesar de não chegar a dois dígitos nas pesquisas, é o que aparece mais na frente entre os nomes do centro, seguido do senador Alvaro Dias (Podemos), disposto a manter a candidatura.
"Sem dúvida, o número de candidatos vai diminuir. Até as convenções, ficarão 10 ou 12, no máximo, no primeiro turno", avaliou o líder do PSDB na Câmara, deputado Nilson Leitão. Nesta lógica e sem que os partidos tenham na manga outsiders, a eleição caminha para uma polarização mais ao centro, de grupos de centro-esquerda e centro-direita. "A polarização não só não acaba como também pode voltar com mais força", disse o vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (MDB).
No DEM, mais difícil do que abrir mão da candidatura de Maia é estar na mesma chapa de Temer e do MDB. O Democratas tem apenas um político de expressão nacional envolvido na Operação Lava-Jato, número ínfimo se comparado ao partido de Temer. O discurso adotado pelo DEM para crescer nas eleições deste ano em número de deputados, senadores e governadores é de que está longe dos escândalos de corrupção que dominaram as manchetes do país nos últimos três anos.
"Não vamos apoiar candidatura que se proponha a defender o governo Temer. É uma afronta uma candidatura do Temer", disse o senador Ronaldo Caiado, líder do DEM no Senado. Ele, no entanto, não afasta a possibilidade de composição com outros partidos, como PSDB, por exemplo. "Chegar a um entendimento para construir uma candidatura é um exercício de paciência", afirmou o democrata.
Apesar da prisão de Lula, o PT resiste em discutir um plano B. Setores do partido defendem apoio a Ciro Gomes (PDT), enquanto outros querem uma candidatura do partido, liderada pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que aparece nas pesquisas com 2%. Neste campo com viabilidade, aparecem dois candidatos, segundo o Datafolha: Ciro e Marina Silva (Rede). Nenhum deles cogita desistir, assim como Jair Bolsonaro (PSL), candidato mais forte da direita e que, num segundo turno, garantirá polarização contra qualquer que seja o adversário.
"O centro pode se aglutinar em torno de quem já está no páreo. Nesse aspecto, as candidaturas que se beneficiam são, pela ordem, Marina e Alckmin, que tentam se situar no meio do caminho entre as candidaturas mais nos extremos. Ou seja, adeus outsiders", avalia o cientista político Marco Antônio Teixeira, professor do Departamento de Gestão Pública FGV.